sábado, 30 de dezembro de 2017

PÓ DA CHINA

PÓ DA CHINA

Eu não gosto de bagre,

Eu não gosto de frade,

Eu não gosto de lei;

Eu não gosto de circo,

Eu não gosto de rico,

Será que gosto de gay?

Eu não gosto das Rússia,

Eu não gosto da Prússia,

Eu não gosto da China.

Eu não gosto da morte,

Nem da América do Norte,

Só da puta na esquina.

Eu não gosto do governo,

Eu não gosto de enfermo,

Nem de débil mental.

Eu não gosto de gente,

Que importa a semente,

A vertente do mal.

Se meu pó é da China,

Se a puta é da esquina,

Vale bem o cinismo.

Pois se eu gosto da puta,

Vale bem esta luta,

No propenso erotismo.

Mais me vale ser vil.

Que morrer no Brasil,

Deste meu coração.

Se eu fujo eu te nego,

Se eu viajo navego,

Muito alem de Plutão.

Eu não gosto de esgoto,

Eu não gosto de escroto,

Desta louca cidade.

Só me importa este riso,

Do meu ex - paraíso,

Muito alem da saudade.

  *J.L.BORGES
1988

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