sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

A CASA DAS QUATRO LUAS EM CAMAQUÃ

A CASA DAS QUATRO LUAS EM CAMAQUÃ.

             Eu ainda lembro da casa da minha infância, uma grande casa amarela, sem forro e de chão batido, com seu telhado de zinco, todas as noites no meu quarto eu aspirava pelos buracos das telhas de zinco o cheiro indecifrável da noite.
             Na sala da minha casa, a casa da minha infância, tinha um grande quadro verde que pertencia a minha avó, este quadro me mostrava os fragrantes de uma batalha ocorrida em 1923, lá pelas bandas de Camaquã, no sul, na frente do batalhão estava meu avô, montado em um grande cavalo niger, com seu mosquetão mosqueado, impaciente em seu ombro, e, sua espada de prata pendurada a cintura.
             Ainda lembro as janelas da casa da minha infância, que nas tardes de novembro batiam azuis na parede, eram janelas de estilo vitoriano, muito antigas para a época, madeira de louro verde com quase duas polegadas, e um arco milímetro em forma de lua nova, formando noventa graus.
             Nos fundos da minha casa, tinha muitos bambuzais, onde eu passava as minhas tardes, eram de um verde total, contrastando com o céu pincelado de azul, pareciam pernas sinuosas e enormes de monstros imaginários, e lá no fundo do quintal deslizava silencioso igual serpente, um riacho vulnerável, fronteira imaginaria de meus sonhos.
             Na minha mente ainda vejo a casa imensa e orgulhosa em meio das verdes e altas gramas que ondulavam como um mar insano a rugir ventanias e aquela estrada careca que se perdia lentamente...
             Ainda ontem passei por lá. E vi uma montanha de concreto quase furando o céu cinzento, e cuspindo fuligem para o incrédulo sol amarelo que tentou esconder-se atrás de uma nuvem chorosa.
                                                                    *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1987

                                                                                                    

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