HORIZONTE PERDIDO
R:F.R.B n°240
Vejo no céu o horizonte,
No horizonte o passado;
No passado vejo a rua,
A rua do meu passado.
A ponte dentro de uma ponte,
No bordel a dama nua;
Vejo num bar da minha rua,
O jogo do vinte e um.
Um lago em frente a minha casa,
Meu barquinho de papel;
Vejo um céu dentro de um céu,
Minha pandorga sem asa.
No fim da rua a ladeira,
Carrinhos de rolimã;
Vejo a menina faceira,
Com sua boca de maçã.
Lembro-me dos velhos amigos,
Povoando a minha rua;
A casa da luz vermelha,
Uma lua cheia de luas.
No quintal da minha casa,
Cinamomo e cerca-vivas;
Sarita, a mulher dama,
Bailando na minha avenida.
A casa do meu amor,
Pertinho da minha casa;
A igreja, o velho colégio,
O meu velho professor.
A estância do faz de conta,
O meu cavalo de pau;
Lembro-me também da menina,
Maluca menina tonta.
No vídeo tape dos sonhos,
Tremulam meus doces medos;
Mboi-tatá no escuro,
Infância dos meus brinquedos.
Que saudade da minha rua,
Rua eterna e imutável;
Sinto-me hoje tão distante,
Num futuro inviolável.
Revejo-me no vídeo tape,
O céu dentro de uma ponte;
A ponte do horizonte,
Perdido do meu passado.
*J.L.BORGES