DEUSES DE PAPEL
Aquele papel, produto de lavagem,
E de exploração, que está nos bancos;
Aquele papel produto da avareza,
Que está embaixo dos colções,
Gostaria de saber qual a sua serventia.
Alguns dizem que ele compra tudo,
Compra até a felicidade alheia;
Ledo engano desses vis mortais,
A felicidade é uma dádiva de Deus,
E aqui na terra tem pouco valor,
Pois a felicidade é o dom maior.
Esses deuses de papel tem ínfimo valor,
O maior valor é o amor ao próximo;
E esta forma de amar estes deuses abominam,
Pois na sua ganância não cabe o amor.
E assim, lá onde a materia é destrutivel,
O perecível nada vale;
Aqui ele fica, neste mísero planeta,
Sendo devorado pelas traças,
Enquanto que a alma sim,
Liberta desse deuses,ela é indestrutível.
*Jorge Luis Borges
Guaíba (Rs) Brasil
03/2022