CAIU O PANO
J.L.BORGES
As falsas luzes da cidade,
Não me pertencem jamais,
Tanto luxo e fúteis propagandas,
E aqui fora milhões morrendo de fome.
Acordei e vi como é amarga a realidade,
Ilusões e promessas mentirosas;
Eu tenho que fazer alguma coisa,
Todos nós temos que fazer algo.
O mundo está abrindo a nossos pés,
Sugerindo que nos joguemos para dentro do buraco,
Alguém visa lucrar com nossa destruição,
Alguém apostou na nossa ruína.
Eu preciso fazer algo,
Eu tenho que desviar o curso deste rio,
Sedento de sangue e destruição,
Sedento de mim e de você.
Cansei de ver inocentes chorando em cada esquina,
Implorando para viver,
Até parece que devem a vida para alguém,
Devem a vida parta o dragão que os devora.
E o dragão está lá,
Lá em cima nos espreitando,
Nos sufocando e nos amassando,
Tornando nossos corpos prisioneiros do seu jugo.
Puxa vida! Será que não existe a tal liberdade?
Aquela liberdade que eu li em falsos livros,
Escritos por alguém e ditados por eles;
Eles querem nos tornar autômatos.
Mas eu acordei, você está acordando,
E eu tenho certeza e juro por meus filhos,
O dragão irá tremer quando o Brasil acordar.
Jorge Luis Borges Rodrigues
Porto Alegre-Rs-Brasil
1983