MEUS ESQUELETOS
São tantos os esqueletos escondidos,
Alguns que eu amava e outros que mal vi;
Esqueletos de uma vida inteira mal fadada,
Que a tempos sustento pois não os esqueci.
Hoje olhei embaixo de minha cama,
E lá estava um sorrindo para mim,
Olhar vazio perdido num sem fim,
Uma boca escancarada sorrindo para mim.
Com medo me escondi no fundo do armário,
Estremeci quando ele me abraçou,
O velho esqueleto de um tempo já passado,
Meus velhos medos de um tempo que passou.
Existem eu sei outros esqueletos escondidos,
Uns em minha garagem arcaica e bagunçada;
Outros enterrados no fundo de meu quintal,
São esqueletos que alimento ao longo da jornada.
Eles então sempre a meu lado,
Tentando em vão mudar aquilo que passou;
Mas não vou deixar que os meus esqueletos,
Mudem minha vida pois esqueleto eu sou.
Por isso hoje tomei a triste decisão,
Vou ter que meus esqueletos parar de alimentar;
Com os frutos do passado que a vida aqui deixou,
E eu em minha dispensa os tento armazenar.
*Jorge Luis Borges
Guaiba,Abril 2023