O PONTO
De repente eu faço um ponto num canto da folha branca,
Não é um ponto qualquer,
Pois é meu ponto particular.
Este ponto é um ponto azul,
Alguma coisa simples e indefinida,
Pronta para dar origem a outra forma superior.
Deste ponto talvez surgirá um pássaro azul,
Com asas longas e penas multicoloridas,
Saindo do seu corpo como se fossem flexas de fogo.
E meu pássaro sairá deste finito branco;
Talvez até seja um pássaro polar,
Pois o que imagino neste papel é um campo branco,
Imagino a neve ardendo no corpo de algum viajante teimoso,
Que se aventurou neste infinito argentino,
E o vento uivando tenta decifrar vozes que vem de longe,
Muito alem do Saara, ou das pirâmides do Egito;
E este frio branco segue, milenar e jovem,
Trazendo nesta juventude eterna o pássaro azul,
Que pouco a pouco vai passando neste mundo branco,
E se transformando em um ponto,
O ponto azul da minha inspiração.
*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1987
Nenhum comentário:
Postar um comentário