domingo, 31 de dezembro de 2017

ESTAMPA

ESTAMPA

E a noite chegou dizendo,

Que é preciso envelhecer;

Só para ver o futuro,

Na minha porta bater.

O futuro é um sonho,

É um pato branco a voar;

Trazendo a tempestade,

A vontade de acordar.

Hoje eu acordei bem cedo,

Para clarear o escuro;

Desenhar nos lábios teus,

A estampa do futuro.

Pois sou pinto e a tela,

É o muro branco da vida;

Onde pinto a paisagem,

Da saudade adormecida.

E a noite chegou dizendo,

Que é preciso adormecer;

Para sonhar com a saudade,

Esta estampa a envolver.

  *J.L.BORGES
1988

FLOR DE DOMINGO

FLOR DE DOMINGO

Existe uma porta,

Que dá pra avenida;

Existe uma vida,

Que fecha esta porta.

Com a porta trancada,

Se abre a janela;

A janela fechada,

Que hoje se abre.

Assim segue a cor,

Nas manhãs de domingo;

Pintando uma flor,

A flor de domingo.

A rosa estampada,

Reflete na porta;

O sol estampado,

Que beija a porta.

A porta fechada,

Que dá pra avenida;

Me trouxe o domingo,

Sorriso da vida.

*J.L.BORGES
1988

FINAL DE INVERNO

FINAL DE INVERNO

Final de inverno,

Chuva que passa;

Só o amor é que não passa,

Fica preso no inferno.

Final de inverno,

Inferno de magoas;

Entre tantas poças dágua,

Vejo um anjo a delirar.

Final de inverno,

Vésperas de luz;

Um mendigo, uma cruz,

Semi-deus a cantar.

E a canção no coração,

Como chuva no telhado;

Semi-deus, anjo molhado,

Escorrega uma canção.

E o inverno que se acaba,

Entre o místico e a musica;

Vejo sois na primavera,

Pressagio de alma lavada.

*J.L.BORGES
1988

CANÇÃO DO TEMPO FUTURO


CANÇÃO DO TEMPO FUTURO

Uma estrela vai embora,

E a vida segue sempre,

Se estou feliz e contente,

Toda a dor que eu tinha agora,

Partiu com o dia que fugou.

A estrada está tão perto,

Bem mais perto que este céu,

Vou pegar o meu chapéu,

E soltar rosas ao vento.

O meu cravo na lapela,

Brilha tonto feito vela,

Anunciando um novo tempo.

Minha tristeza hoje morre,

Com a água que escorre,

Das igrejas, dos quartéis;

O meu riso se afunda,

Na alegria que inunda,

Meu champanhe e meus pasteis.

Se esta musica me invade,

Eu invado esta canção,

Pois a luz da ilusão,

Contagia este meu povo;

Sendo assim sigo contente,

Desejando a esta gente,

Um verdadeiro ano novo.

*J.L.BORGES
1988

VAGALUMES

VAGALUMES

Meu dia está chorando,

Lamuria por você;

Você que foi embora,

Deixando um sonho apenas.

Talvez na minha memória,

Eu tenha tua imagem;

Nunca um momento,

Mas toda a eternidade.

Não choro com este dia,

Pois não adianta lagrimas;

Você não vai voltar,

Eu sei que estás distante.

Talvez um dia eu veja,

O teu vulto de luz;

Correndo pelos campos,

Ao encontro da minha luz

*J.L.BORGES
1988

PORTA TRANCADA

PORTA TRANCADA

O que existe atrás daquela porta,

Divisa uniforme do infinito;

Uma mistura heterogenia que conforta,

A abstrata concreta cor de um grito?

O que existe atrás daquela porta,

Imutável que transcende o mais aflito;

Uma procura homogenia que confunde,

A paz cristalizada no bonito?

O que existe atrás daquela porta,

E a divisa inefável do infinito;

Onde a mistura do concreto e do abstrato,

Se transforma apenas em um grito.

Pois o lamento é apenas realidade,

A saudade desta paz hoje trancada;

E a porta ontem esquecida pela vida,

Amanhã será uma estrada iluminada.

Ela é a passagem ao futuro,

Muito alem deste sonho e imaginação;

E a luz a clarear o denso escuro,

Alem da conspiração.

  *J.L.BORGES
1988

ROTINA

ROTINA

A vida é uma rotina que começa,

Bem antes de o dia começar;

A vida no teatro é uma peça,

Que faz a gente rir e até chorar.

Rotina de uma vida passageira,

No palco deste circo sem um fim;

No céu vejo nuvens que ligeira,

Ensaiam um balé só para mim.

E eu sigo esta rotina sem a senha,

A senha que eu ganhei quando nasci;

Não sou no rio da vida uma simples lenha,

Não sou somente esta dor que vive em ti

Pois sou na tua saudade o sentimento,

De uma esperança que faceira;

Nas tuas tempestades sou o vento,

Que sopra em teus lábios esta rotina.

Rotinas de uma paz que é tão tua,

Tão minha como o brilho deste sol;

Caminho lentamente pela rua,

Ouvindo acordes de teu rouxinol.

    *J.L.BORGES
1988

CAMINHOS PARA O NADA

CAMINHOS PARA O NADA

As vezes esta vida parece,

Um arisco menino;

Que na busca constante se esquece

Do seu companheiro destino.

Destino, este velho caduco,

Na vida da gente

Um velho matreiro e maluco,

Um ser indecente.

Um ser que apesar dos defeitos,

Parece amigo;

Que dita o errado e o direito,

O presente e o antigo.

E o futuro segue incoerente,

Na busca do nada;

A morte espreita paciente,

Na encruzilhada.

 *J.L.BORGES
1988

SONORIDADE

SONORIDADE

Ruídos crepitam a minha volta,

Ruídos com gosto de solidão;

Mas o que importa,

Se a minha porta é o olho mágico da sedução.

Seduz... Reluz, enfim com gosto,

E o vento beija meu sangue;

Trazendo noticias de um novo agosto,

Suave, preciso e grande.

Mas o ruído continua,

Batendo forte em meu coração;

Trazendo o sonho daquela rua,

Longe da continuação.

Quem dera o olho azul ficasse,

Parecendo minha porta;

Só para ver a luz que nasceu,

Luz intima que conforta.

Pois o ruído é interno,

Mais intenso que na esquina;

A onde o prazer profano,

É o feitiço da menina.

*J.L.BORGES
1988

DIVINA COMÉDIA

DIVINA COMÈDIA

De tanto procurar acabei perdendo,

Buscando a solidão nos bares da cidade;

As luzes que iluminam as ruas me ofuscam,

Tornando meus sonhos opacos na saudade.

Se sonho com o passado vejo meu futuro,

A minha desesperança brilhando no infinito;

Igual andante estrela rasgando este escuro,

A onde eu procuro o teu olhar bonito.

Quem dera que o presente fosse o que sonhei,

Nos sonhos da infância que não voltam mais;

De herói, mocinho, tornei-me um vagabundo,

Andando pelo mundo em busca de minha paz.

E a dor que carrego é a minha cruz,

A cruz que ganhei num dia tão errado,

Que lenta me segura e densa me seduz.

Mas por Deus, eu luto, e luto a teu lado,

Tendo como espada esta branda luz,

Que de ti ganhei, um dia no passado.

 *J.L.BORGES
1988

PANDORGAS DA INFANCIA

PANDORGAS DA INFANCIA

Da janela transparente,

Vejo uma paisagem amarela;

É o sorriso desta gente,

Sem presente e sem futuro,

Este tempo está escuro,

Anunciando uma grande chuva.

Esta gente desgastada,

Já não tem anseios e sonhos,

A esperança cariada,

Faz parte de um tempo estranho;

Aquele tempo da infância,

Que não voltará jamais.

Do meu quarto distraído,

Me distraio em um faz nada,

É cansativa esta estrada,

Que eu não quero mais andar,

Já cansei de arar a terra,

E de ser agricultor.

E assim carrego o domingo,

Mateando e prozeando sonhos;

Da janela desta casa,

Vejo pandorgas e balões,

Longe, bem longe do meu alcance,

Mas ao alcance dos gaviões.

*J.L.BORGES
1988

DO ZERO AO INFINITO

DO ZERO AO INFINITO

A mocidade, É um relâmpago;

Os teus olhos bonito,

São apenas pontos vagos,

Pairando no infinito.

Esta terra, Inefável e colossal,

É apenas grão de areia,

No espaço sideral.

O sorriso deste povo,

Insatisfeito e descrente,

É igual a passageira,

E andante estrela cadente.

Mas a flor é o universo,

Não consigo descreve-la;

Da vontade de colher,

No céu milhões de estrelas.

 *J.L.BORGES
1988

VINHAS DA SOLIDÃO

VINHAS DA SOLIDÃO

A solidão vem da lua,

Trazendo em sua magia,

A vontade de ficar;

Trás na luz do coração,

As notas de uma canção,

Que faz a gente sonhar.

A solidão vem da lua,

Trazendo muita aventura,

Que fazem a gente passar;

A solidão trás o beijo,

O desejo que estampa,

No faro de algum olhar.

Vou seguindo a solidão,

E correndo sem parar,

Vivo enfim a solidão,

De estar tão só aqui,

Sorvendo o vinho da ilusão,

A vontade de voar.

Mas não vou para o infinito,

O meu espaço é aqui,

No canto do coração;

Sonhando com o olhar aflito,

Que eu deixei quando parti,

Com esta minha solidão.

 *J.L.BORGES
1988

QUARTA FEIRA CINZENTA

QUARTA FEIRA CINZENTA

Lá vai ela, Com passos de chumbo;

Levando esperança,

Que nunca vingou.

La vai ela,

Com passos de chumbo;

Deixando o passado,

Que há tempos passou.

Segue a vida, Em largas passadas;

Deixando na estrada,

Restos de saudade.

Segue a vida, Rasgando o escuro;

Busca no futuro,

A eternidade.

 *J.L.BORGES
1988




VA EMBORA MARIA

VÁ EMBORA MARIA

Vá embora Maria,

Vá embora pra longe;

Pois eu quero ficar longe,

Da tua energia.

A tarde esta fria,

O sol se esconde;

Vá embora Maria,

Vá embora pra longe.

Vá embora Maria,

Já cansei de ouvir;

Tua voz que não cansa,

Tua esperança a sorrir.

Vá embora Maria,

Bem pra longe vá embora;

Já cansei, eu te peço,

Vá embora daqui.

Vá embora Maria,

Vá embora , bem alem;

Daquele infinito,

Sem a tua magia.

O teu riso bonito,

Vai embora também;

Vá embora Maria,

Vá embora meu bem.

  *J.L.BORGES
1988

BENGALA DA JUVENTUDE

BENGALA DA JUVENTUDE

Eu já não consigo,

Sorrir com os olhos;

Não consigo sorrir com os lábios,

Meus lábios estão secos.

Trago na boca,

O gosto amargo do pó;

O pó da montanha,

Chuvas de pedras e de frio.

O sol teima em aparecer para esta gente suja,

E depois se esconde timidamente;

Atrás de uma nuvem de pó escuro,

E a poluição prevalece mais uma vez na terra.

Terra de vento,denso e fogo,

Terra de pó, de só e lodo;

Onde a certeza da impunição,

Mancha as mãos de sangue verde.

Terra que faz-me, gostar de água,

Queria ser peixe, um peixe liso;

Vendo estas magoas do homem mau,

Depois que a terra morreu por ele.

 *J.L.BORGES
1988

UM POEMA FEITO DE ADEUS

UM POEMA FEITO DE ADEUS

Tudo foi embora,

Com o tempo que não ficou aqui;

Nada mais posso fazer nesta triste hora,

A não ser pensar um pouco mais em ti.

O que aconteceu com nosso amor?

Ledo amor que parecia um brinquedo;

Só me resta na saudade este calor,

A solidão que eu sufoco neste medo.

Adeus meu amor... Adeus querida,

Dou-te adeus, eu te dou o meu adeus;

Aquele adeus da despedida,

Aquele adeus sem os beijos teus.

Eu sei amor que a solidão,

Será agora o meu caminho;

Eu ficarei com a canção,

Nossa canção e eu sozinho.

Talvez um dia eu encontre alguém,

Que me faça feliz como só tu me fez feliz;

Adeus minha querida, adeus meu bem,

Adeus minha dor, minha raiz.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1988

CAI A LUA

CAI A LUA

Cai a lua do céu,

No céu da tua boca;

Vem trazendo o que é teu,

Esta vontade tão louca.

Cai a lua do mar,

O mar do teu sorriso;

Onde espelho o meu olhar,

O meu riso preciso.

Cai a lua na fonte,

Fonte do teu amor;

Onde vejo o horizonte,

Nos teus olhos a sonhar.

Cão a lua em mim,

Com rabiscos de paz

Cai a lua no fim,

Do meu riso voraz.

 *J.L.BORGES
1988

sábado, 30 de dezembro de 2017

A CRUZ CRAVADA NO PEITO

A CRUZ CRAVADA NO PEITO

Meu amigo a onde estás?

Onde estás que eu não te encontro;

No desencontro deste encontro,

Tua luz é minha paz.

Tua voz sempre é canção,

Que eu ouço nos caminhos;

Onde ando tão sozinho,

Só buscando a solidão

É somente tua presença,

O presente da minha paz;

Tua cruz ´e minha cruz,

Minha crença é tua crença.

Meu amigo, onde estás?

Onde estás que eu não consigo;

Te encontrar meu bom amigo,

Encontrar a minha paz.

Tu reluz na minha luz,

Tudo em ti é emoção;

Vou buscando a solidão,

Tua cruz é minha cruz.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1988

NAS MINHAS ANDANÇAS PELO PAGO

NAS MINHAS ANDANÇAS PELO PAGO

De pala encarnado,

Bombacha listrada;

Lenço colorido,

E bota lustrada.

De faca afiada,

Fumo na algibeira;

Espora prateada,

Em tarde domingueira.

Gaúcho faceiro,

Eu pergunto quem é?

Sou índio ligeiro,

Lá de Parobé.

E sempre solito,

O gaúcho brejeiro;

Sorriso esquisito,

No rosto faceiro.

   *J.L.BORGES
Parobé.1988


ARAUTO

ARAUTO

Raios de luzes,

A luz do sol;

Barco branco a navegar,

Entre o céu e o azul do mar.

Chuvas de estrelas,

Rasgam o escuro

Vem pintar neste futuro,

A promessa azul da luz.

E a vida agita,

Bandeiras e flâmulas;

Meu peito intransigente se inflama,

Parecendo uma jovem pipa.

E o sol crepita,

Lá, num cantinho do infinito;

Vem beijar o barco branco,

Adular o azul do mar.

Raios de luzes,

Rasgam o escuro;

Meu peito se inflama,

Lá do infinito.

 *J.L.BORGES
1988

FANDANGO EM CAMAQUÃ

FANDANGO EM CAMAQUÃ

Se vejo um gaúcho,

Com água de cheiro;

Eu penso ligeiro,

Se homi ele é.

Se vejo uma prenda,

Sem saia de renda;

De carça comprida,

Eu pergunto-me, é muié?

Em fandango criolo,

Gaúcho não farta;

De lenço apertado,

E bota de couro.

A prenda bunita,

De saia rodada;

E a cara encarnada,

De ruge e batão.

A gaita começa,

A gemer na bailanta;

E a peonada alevanta,

O pó do salão.

No pealo do olhar,

O índio faceiro;

E a chinoca ligeira,

Que nem dois peão.

E assim segue a noite,

Rodada de trago;

Um bom mate amargo,

Que eu tanto sonhei.

São tantas as prosas,

Num baile farrapo;

Que apenas relato,

O pouco que eu sei.

*J.L.BORGES

1988

SALVADOR DA BAHIA

SALVADOR DA BAHIA

O meu desejo está distante,

Está alem, muito alem do meu amor;

E eu aqui, feito um viajante,

Navego outra vez para Salvador.

E o meu salvador, quem será meu salvador?

Será alguém que um dia conheci;

Alguém que presumiu a minha dor,

A dor que um dia em vão senti.

Vou viajar, eu vou embora,

Vou levar minha vida, o meu amor;

Aquela dor que deixei lá fora,

Só pra levar a alegria a Salvador.

Meu Salvador, minha Bahia,

A mulata que sambou na corda bamba;

Fazendo renascer minha alegria,

Fazendo retumbar no peito o samba.

Aquele samba que dá vida,

Que no frio me dá calor;

Eu vou embora pra Bahia,

A minha vida é Salvador.

*J.L.BORGES
1988

PÓ DA CHINA

PÓ DA CHINA

Eu não gosto de bagre,

Eu não gosto de frade,

Eu não gosto de lei;

Eu não gosto de circo,

Eu não gosto de rico,

Será que gosto de gay?

Eu não gosto das Rússia,

Eu não gosto da Prússia,

Eu não gosto da China.

Eu não gosto da morte,

Nem da América do Norte,

Só da puta na esquina.

Eu não gosto do governo,

Eu não gosto de enfermo,

Nem de débil mental.

Eu não gosto de gente,

Que importa a semente,

A vertente do mal.

Se meu pó é da China,

Se a puta é da esquina,

Vale bem o cinismo.

Pois se eu gosto da puta,

Vale bem esta luta,

No propenso erotismo.

Mais me vale ser vil.

Que morrer no Brasil,

Deste meu coração.

Se eu fujo eu te nego,

Se eu viajo navego,

Muito alem de Plutão.

Eu não gosto de esgoto,

Eu não gosto de escroto,

Desta louca cidade.

Só me importa este riso,

Do meu ex - paraíso,

Muito alem da saudade.

  *J.L.BORGES
1988

EU NÃO VOTEI PRA PRESIDENTE

EU NÃO VOTEI PRA PRESIDENTE

Tanto tédio no meu ar,

Que eu mal consigo sobreviver;

Tudo é triste neste lugar,

Que vale a pena sofrer.

Pobre povo, tolo e descente,

Bêbado e sem ambição;

Vivendo uma vida incoerente,

Sem anseios e sem visão.

Que pais é este, povo oprimido?

É comunismo ou capital?

Não sei dizer o se o infinitivo,

É o começo do funeral.

Tolo o que crê no presidente,

Pseudo civil, um general;

Marca de carie num podre dente,

Um homem serio, débil mental.

E o pais segue nesta jornada,

Marca registrada, made in Brasil;

Segue um futuro sem madrugada,

Noite é o começo do ano dois mil.

 *J.L.BORGES
1988

CORTINA DE FERRO

CORTINA DE FERRO

Eu voltei a ser pedestre,

Mas talvez em Budapeste,

Outra luz irá brilhar,

O farol denso da lua,

Vai lembrar a imagem nua,

Da mulher a me afagar.

Na ilusão da primavera,

Vou lembrar a bela fera,

Pantera a me vigiar,

No luar dos desgostos,

Vou sonhar com os agostos,

No passado a deslizar.

É grande esta mentira,

Da ilusão que tu me tiras,

Me deixando sem os sonhos

Se eu perdi tudo na vida,

Me restou esta ferida,

Chagas de um tempo tristonho.

*J.L.BORGES
1988

ABOLIÇÃO

ABOLIÇÃO

Eu caminho em um caminho,

Que a caminhos me leva

Sem ter pressa eu sozinho,

Levo a dor que não me negas.

Vou carregando esta dor,

Que fere meu peito;

Minha herança é a falta de amor,

Esta paixão imperfeita.

A mocidade é a luz,

Densa da eternidade;

A verdade é a cruz,

Desta negra cidade.

A noite chegou,

No escuro da voz;

Só a cinza restou,

Hoje eu sou meu algoz.

É por isso que eu canto,

O canto liberdade;

Quero estar nestes campos,

Da minha negra saudade.

 *J.L.BORGES
1988


CANÇÃO DO TEMPO FUTURO

CANÇÃO DO TEMPO FUTURO

Uma estrela vai embora,
E a vida segue sempre,
Estou feliz, estou contente,
Toda a dor que eu tinha agora,
Partiu com o dia que de ontem.

A estrada está tão perto,
Bem mais perto que este céu,
Vou pegar o meu chapéu,
E soltar rosas ao vento.
O meu cravo na lapela,
Brilha tonto feito vela,
Anunciando um novo tempo.

Minha tristeza hoje morre,
Com a água que escorre,
Das igrejas, dos quartéis;
O meu riso se afunda,
Na alegria que inunda,
Meu champanhe e meus pasteis.

Se esta musica me invade,
Eu invado esta canção,
Esta luz da ilusão,
Contagia meu bom povo;
Sendo assim sigo contente,
Desejando a esta gente,
Um verdadeiro ano novo.

*J.L.BORGES
Gravatai.1988

CHIQUINHA

CHIQUINHA

É inverno, Minha casa no verão,

Tornou-se silenciosa e triste,

Tornou-se de repente um velho trem,

E no barulho ensurdecedor do meu presente,

A Chiquinha mansamente apareceu.

Ela trouxe com sua presença o paraíso,

Um terno riso cravejado de estrelas,

O seu riso é um ardente sol,

Que me cheira a flor de pessegueiro,

Isolado em um mar de argenta luz.

Eu vi em sua blusa o azul do céu,

Aquele céu de primavera,

Insinuando um bando de andorinhas,

Em revoada na busca do verão.

A sua saia então, o que parece-me?

Eu vejo na sua saia o meu outono,

Com seu cinza nevado de incertezas,

E suas sandálias me lembram um pescador.

Os cabelos de Chiquinha, o que me lembram?

Lembram-me longas notes de insônia,

Onde o vento clama longe,

Canções quase perdidas em um tempo.

Os seus olhos são faróis na tempestade,

Lançando sua luz castanhos escuro,

Por sobre o lençol verde desta selva,

Que me lembra com saudade o arco-íris,

Azul, vermelho e branco do teu céu.

Hoje a Chiquinha apareceu,

Trazendo em sua boca o batom,

Vermelho como o corpo da maçã

*J.L.BORGES
1988

PAISAGEM LUNAR

PAISAGEM LUNAR

Tem gente que corre,

Na rua que escoa;

Levando o sorriso,

Na paz que não voa.

E a vida começa,

A onde termina;

A paz, a promessa,

Teu riso, minha sina.

A onde o amanhã,

Irá? Eu não sei;

Só sei que o ontem,

Um tanto eu peguei.

Tem gente que teima,

No jogo perdido;

Tentando um ponto,

Um conto esquecido.

Quem gosta de rir,

É água a beijar;

A sereia bonita,

Na luz do luar.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1988

CANÇÃO DO ANARQUISTA

A CANÇÃO DO ANARQUISTA

Eu vou embora daqui,

Cansei de ser governado

Cansei de ser assassinado,

Eu vou embora daqui.

Vou fugir para bem longe,

Pra onde o sol se esconde um pouco;

Senão eu vou ficar louco,

Eu vou fugir para bem longe.

Eu vou partir de repente,

Igual pomba a voar;

Quero voar rente ao mar,

Eu vou partir de repente.

Eu vou embora daqui,

Vou fugir para bem longe;

Eu vou partir de repente,

Para onde o sol se esconde.

Cansei de ser governado,

Quero ser livre e voar;

Adeus dor, eu vou embora,

Quero voar rente mar.

  *J.L.BORGES
Gravatai.1988

LÂMPADA MARAVILHOSA

LÂMPADA MARAVILHOSA

Eu ando com raiva de ti,

Minha alma,

Pois tua censura me faz

Muito mal.

Tua procura é a minha procura,

A ausência da tua, esta minha paz.

Eu ando com raiva de ti,

Minha calma,

Pois tu não suporta,

O meu coração.

Se tranco minha porta,

Você vai embora,

E eu deixo aqui fora,

Minha solidão.

Eu ando com raiva de ti

Meu desejo,

Se beijo teu beijo,

Tu traz ansiedade;

É por isso que eu parto,

Na busca do nada,

Levando a saudade,

Minha encruzilhada

   *J.L.BORGES
1988

NO PAIS DA ANTI-MATÉRIA

NO PAIS DA ANTI-MATÉRIA

Hoje ao acordar percebi,

Que meu quarto fede,

Minha casa fede;

Esta rua imunda fede,

Meu visinho fede,

A praça fede,

Meu bairro fede,

O bar da esquina fede,

O bordel fede,

Minha cidade fede,

O mendigo fede,

A prostituta fede,

O burguês fede,

A igreja fede,

O estado fede,

O governo fede,

O ar fede,

O mundo está fedido.

Hoje ao acordar,

E ao me olhar no espelho percebi,

Que meu bigode estava cagado.

   *J.L.BORGES
1988

LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS

LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS

Carnaval no Rio grande,

Tem cachaça e facão;

Tem a flecha certeira,

Dentro do coração.

Carnaval no Rio grande,

Tem a mulata que faz;

A cabeça da gente,

Na procura da paz.

Carnaval no Rio grande,

Tem chinoca, esta prenda;

Com a sua asa delta,

Cravejada de renda.

Carnaval no Rio grande,

Na cabeça um bordel;

No meu copo a cerveja,

Banho de pão e mel.

Carnaval no Rio grande,

Minha tinga querida;

Com cachaça e cerveja,

Vou sambar na avenida.

*J.L.BORGES
1988

SONETO DA INSONIA

SONETO DA INSÔNIA

A mulher que me transcende,

E a mulher que me compreende,

Nesta ânsia de sonhar;

Se são negros os pesadelos,

Negros são os seus cabelos,

Que não canso de afagar.

Na cadencia da procura,

Só consigo achar a cura,

Quando fico a teu lado;

Na insônia deste tédio,

Tu és sempre o meu remédio,

Este sono saciado.

E assim meu cotidiano,

Leva a dor e o desengano,

Para longe do meu mundo;

Na fragrância da tua chama,

Vou flutuar na tua cama,

Neste plasma mais profundo.

*J.L.BORGES
Gravatai.1988

RAINHA

RAINHA

Teu corpo tem cheiro de terra lavada,

Depois de uma chuva complexa;

Tuas curvas me lembram grandes rios,

Onde um dia naveguei.

Teus olhos são dois grandes holofotes,

Iluminando minhas noites sem luar;

Se tenho sede eu bebo a água,

Da fonte inesgotável da tua boca.

Teu corpo parece uma grande astronave,

Que flutua no infinito da minha mente;

Se vejo um disco voador eu penso ser você,

No espaço sideral  a me vigiar.

A onde você está eu sempre estou,

Teu corpo é a tatuagem do meu;

Se vejo um fio de cabelo em minha camisa,

Eu fico com ciúmes de mim.

É tão bom a gente se amar um pouco mais,

Descobrir caminhos antes impenetráveis;

E nesta odisséia sou teu escravo,

Sou teu senhor, e tu minha rainha.

Teu corpo tem o cheiro indecifrável de odores,

Que nenhum perfumista descobriu;

Na simplicidade complexa do amor,

Eu apenas descobri que te amo.

  *J.L.BORGES
1988





MOMENTOS

MOMENTOS

Eu sempre fui um rapaz pobre,

Tu sempre foi uma moça nobre;

Eu sei,

E a vida segue sempre em frente.

Nos tantos versos que eu fiz pra ela,

Somente falo o nome dela;

Eu sei,

Com ela aqui eu sou contente.

A presença dela é meu presente,

Seus doces beijos esta semente;

Eu sei,

E o seu olhar é de pantera.

Ela me faz feliz agora,

Me faz cantar a toda hora;

Eu sei,

Seu riso é de primavera.

Seu olhar é de pantera,

Seu riso é de primavera;

Eu sei,

Por isso que eu não sou tão pobre.

A vida segue sempre em frente,

Com ela aqui eu sou contente;

Eu sei,

Ela é uma moça nobre.

*J.L.BORGES
1988

LÁGRIMAS DE ABRIL

LÁGRIMAS DE ABRIL

Eu só vejo você no meu mundo,

Eu só vejo você junto a mim,

É você que me fascina,

É você que me domina...

Os seus olhos diamantes,

Brilham sempre em meu olhar,

Um olhar que a todo o instante,

Procura te afagar,

Encontrar o meu remédio,

Esta minha vitamina...

Cada vez te quero mais,

Um segundo é uma vida,

Junto a você e a paz,

É a canção que me embriaga,

Me naufrago neste mar,

Este mar que me domina...

Os teus olhos são a fonte,

Onde espelho os lábios meus,

E a tua boca estrelada,

Me sufoca na ventania,

Historia de um amor ateu,

Um amor que me domina...

Mina...

  *J.L.BORGES
1988

FEITIÇO

FEITIÇO

Peguei teu nome e joguei na maçã,

Afoguei teus beijos com o melhor de meu mel;

Na poesia te fiz mulher,

Sorvi teu corpo, entrei em teu céu.

Peguei teu cabelo e joguei na maçã,

Com meu açúcar banhei teu corpo;

Na poesia te fiz a deusa,

Deste espaço, do meu conforto.

E na riqueza do teu olhar,

Fotografei teu riso na minha rotina;

E na hipnose deste momento,

Te fiz nefasta, te fiz menina.

No feitiço do meu olhar,

Prendi teus olhos com minha semente;

Teu nome está no pé da maçã,

O fruto exato do meu presente.

                                  
  *J.L.BORGES
1988

RABO DE FOGUETE

RABO DE FOGUETE

Luar que navega,

E do mar não sai;

Luz da estrela veja,

Um olhar que cai.

Rua da janela,

Portal do infinito;

Teu farol, a vela,

Um olhar bonito.

Pássaro de metal,

Olhar de dragão;

Que me hipnotiza,

E me dá tesão.

E o meu olhar alisa,

Alem do trovão;

Um deus de cristal,

Em outra dimensão.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1988

FAZ PARTE DO MEU SER

FAZ PARTE DO MEU SER

É um Deus nos acuda,

Se beijo tua bunda,

Banhada em suor;

Se cheiro teu sexo,

Dizem que é complexo,

Ou coisa pior.

Se mordo tua orelha,

E chupo teu pescoço,

Sou doido varrido;

Se molho tua boca,

Dizem que eu sou besta,

Um homem atrevido.

Na densa procura,

Eu procuro teu sexo,

O meu paraíso;

Não importa o que falem,

Eu apenas te amo,

Pois eu te preciso.

Tu és o meu sol,

Meu mundo profundo,

O meu infinito;

É tanta procura,

Que a vida é uma loucura,

Ardente e bonita.

  *J.L.BORGES
1988

ESPERA

ESPERA

Eu te esperei e você chegou,

Trazendo em tua face o sorriso;

A vontade de ficar aqui,

E aqui ficou.

A tua promessa trouxe a paz,

Aquele mel de abelha virgem;

A me dar tontura e vertigem,

No sabor do teu beijo voraz.

Pois tu, minha luz prateada,

Trouxe com a tua madrugada;

A certeza desta chama,

Onde tanto me queimei.

E na minha cama,

Sem promessas navegamos;

Até nos perdermos em oceanos,

Onde sempre naveguei.

E depois de tanto me envolver,

Você foi embora excitante;

Levando a certeza de um instante,

Uma morena aparecer.

  *J.L.BORGES
Ano 1988

COMÉDIA SEM FINAL

COMÉDIA SEM FINAL

Você é o vinho que me embriaga,

Você é a maconha que me droga;

O cigarro a onde me agarro,

Despido de ilusão e de vergonha.

Você é o tédio, o tormento,

A veia dilacerada pela agulha;

Fagulha de um fogo que se apaga,

Você é a droga do momento.

Você é o frio que lá fora,

Me faz encarangar de frio;

Você é o meu louco desafio,

Começo de uma guerra sem final.

Meu freio é você, eu sou seu freio,

Na louca cavalgada o arreio;

Aquela que na paz e no sossego,

Faz outra bomba explodir.

Eu sou você na briga e no castigo,

Se tenho medo de você eu temo tudo;

Você é o meu escudo a minha muralha,

Você é a minha mortalha, eu não me iludo.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1988




ANIMAL INSÓLITO

ANIMAL INSÓLITO

Meu animal que ronda,

Na sombra o teu olhar,

Uma vontade imensa,

Intensa de encontrar,

Aquilo que desejo,

No fundo do abismo,

Tua boca e o teu beijo,

Teu riso e o teu cinismo.

Meu animal insólito,

Rosna em teu ouvido,

Promessas de perigo,

Promessa de castigo;

Mas tu amor navegas,

Levando o meu olhar,

Alem da estrela veja,

Pra nunca mais brilhar.

Então me perco um pouco,

No fio do teu olhar,

Meu animal que ronda,

Teu riso a estrelar;

E tu estás distante,

Em outra dimensão,

Levou o que era meu,

Deixou a solidão.

  *J.L.BORGES
Gravatai.1988

ANDANTE EM TEMPO MENOR

ANDANTE EM TEMPO MENOR

Nas luzes da lâmpadas,

Nascem os sonhos;

A ilusão chega em um cavalo branco,

Trazendo estampada na face branda,

O sorriso e o medo da criança.

O medo do escuro é inatingível,

Tão intocável como o medo da morte,

Mas de pés descalços corre a criança,

Pelos campos... Pelos bosques...

Sua bagagem é a sorte.

A criança não tem medo da morte,

A criança só tem medo do escuro;

O seu escudo é a temue esperança,

Esta luz de um sol possível,

A mostrar nesta estrada o futuro.

Ela segue mansamente na estrada,

Doe sonhos que um dia alcançarei,

Vai sorvendo a alvorada com seu sorriso

As marcas de seus passos me convidam,

Eu também a seguirei.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1988

             

SAUDADE DO MEU SAPATO

SAUDADE DO MEU SAPATO

Mas que saudade que tenho,

Do meu Sapato querido;

Onde eu vivia contigo,

Historias da carochinha.

Saudades do seu José,

Capataz da minha infância;

Do cavalinho da estância,

O meu cavalo de pau.

Nunca esqueço estes momentos,

Que passaram pela curva;

A curva do rio saudade,

Camaquã flutuando ao vento.

Mas tudo passou alem,

Muito alem do oriente;

Só restou este olhar,

Esta dor, minha semente.

A semente da saudade,

Esta vã realidade

Minha encruzilhada sem luz,

Meu passado de verdade.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1987

ROSA ATÔMICA

ROSA ATÔMICA

Rosa violeta e selvagem,

Violenta dor de uma paixão;

Um dia tal esquecida,

Gosto de agosto ilusão.

Rosa atômica tempestade,

Atômica em alto mar;

Longe do sol da saudade,

Com vontade de voltar.

Rosa do branco sorriso,

Lembranças presas no agora;

Um olhar longe do brado,

Sem vontade de ir embora

Quanto tempo esta rosa,

Esta presa em um jardim;

Lembrando os beijos que eu dei,

Abraços, laços sem fim.

Hoje eu te vi, te lembrei,

Lembrei os nossos momentos;

Coisas que eu imaginei,

Numa rosa solta ao vento.

  *J.L.BORGES
Gravatai.1987

LUZES NO LABIRINTO MENTAL

LUZES NO LABIRINTO MENTAL

O id exposto do meu bel prazer,

Na apineia do sono me envolve;

De pesadelos nesta alegria,

Meus carnavais que em sonhos se dissolvem.

No meu ego eu nego este meu erro,

Que foi amar de mais e muito mais;

Meu eu ferido ficou estarrecido,

Quando ela partiu tranquei a minha paz.

E aquela paz ficou ali prostrada,

Confundindo-se com meu superego;

Chorando risos de uma desventura,

Uma saudade que ainda carrego.

Por isso eu hoje sou professor,

Adaptei-me a esta psicologia,

De suavizar as adversidades.

De cadenciar a falta de amor,

Nesta seqüência de musica e alegria,

Minhas poesias são luzes na eternidade.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1987

ENTRE AS PIRAMIDES

ENTRE AS PIRÂMIDES.

Eu quero sair deste sarcófago,

Este casulo milenar,

Para ver as estrelas milenares,

Que um dia brilharam para mim,

Eu quero ver este riso se apagar,

Tocando os lábios de você.

O meu casulo inefável,

Me fez dormir por muitos anos,

Só para sonhar com o sorriso,

Da mulher que ingrata me feriu;

Fugindo do meu paraíso,

Para algum futuro que passou

Esta minha casa é a pirâmide,

Que ergui para compor esta canção;

O vento que rugi bem longe,

Entre as areias da minha solidão;

É a estranha dor de uma saudade

Que em mil anos se escondeu em mim.

Em meu sonhos eu via Miquerinos,

E sua filha de sob um alvo véu,

Musa bronzeada a luz de um cometa,

Rasgando este meu estranho céu;

Por Deus morfeu, não me abandones,

Que eu vou sonhar com a deusa no bordel.

 *J.L.BORGES

CAVALO NEGRO

CAVALO NEGRO

A noite corre lá fora,

Igual cavalo negro a galopar

O silencio ecoa no silencio,

No sonoro tic- tac a retumbar.

Do outro lado da montanha,

A bruxa espreita minha alma

Meu cavalo negro a galopar,

Na minha calma.

Mas de uma janela para o céu,

Eu vejo o cavalo negro e o seu olhar;

Prometendo a promessa do silencio,

A certeza de poder voar.

A noite corre lá fora,

Trazendo também sua solidão;

E eu aqui hipnotizado pela bruxa,

Sem meu cavalo negro, meu coração.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1987

UMA MANHÃ DE AGOSTO DEPOIS DA CHUVA

UMA MANHÃ DE AGOSTO DEPOIS DA CHUVA

Lentamente...

Uma mecha de céu azul,

Apareceu entre as brumas,

Argentina da nossa sagacidade,

E a minha sociedade,

Floresceu num só instante,

Entre as trepadeiras arcaicas no pau Brasil,

E os acordes da manhã não excitaram em nascer.

Eu vi, passos flutuantes á minha volta,

Eram anjos voando,

E tocando flagrantes,

Dilúvios e flagelos,

Testemunha intocável,

Da morte na cruz.

Eu vi a primavera,

Coroada de cores,

Pintadas de flores,

Manchada de luz.

    *J.L.BORGES




O PONTO

O PONTO

De repente eu faço um ponto num canto da folha branca,

Não é um ponto qualquer,

Pois é meu ponto particular.

Este ponto é um ponto azul,

Alguma coisa simples e indefinida,

Pronta para dar origem a outra forma superior.

Deste ponto talvez surgirá um pássaro azul,

Com asas longas e penas multicoloridas,

Saindo do seu corpo como se fossem flexas de fogo.

E meu pássaro sairá deste finito branco;

Talvez até seja um pássaro polar,

Pois o que imagino neste papel é um campo branco,

Imagino a neve ardendo no corpo de algum viajante teimoso,

Que se aventurou neste infinito argentino,

E o vento uivando tenta decifrar vozes que vem de longe,

Muito alem do Saara, ou das pirâmides do Egito;

E este frio branco segue, milenar e jovem,

Trazendo nesta juventude eterna o pássaro azul,

Que pouco a pouco vai passando neste mundo branco,

E se transformando em um ponto,

O ponto azul da minha inspiração.

                                                                       *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1987

A CASA DA MINHA INFANCIA

A CASA DA MINHA INFÂNCIA

Eu ainda hoje lembro,

Da casa da minha infância,

Uma grande casa amarela,

Seu forro e de é de santa fé,

E o seu telhado de zinco.

A casa da minha infância,

Com seus buracos de zinco,

Parecendo tantas estrelas,

Que miravam meu olhar,

Olhar do tempo da infância.

A sala de uma janela,

Janela de uma sala só,

Onde sentava meu avô,

Olhando sempre pra mim,

Com seu palheiro nos lábios.

E no fundo do quintal,

Da casa da minha infância,

Eu via os monstros sagrados,

Que verde beijavam o céu,

O céu da minha esperança..

Bem alem entre o horizonte,

Da casa da minha infância,

Serpenteava uma serpente,

caudalosa e cristalina,

Que espelhava meu olhar.

Olhar de tanta saudade,

Que eu passei andando em vão,

Sempre lembrando os momentos,

Que eu passei na minha casa,

A casa da minha infância.

   *J.L.BORGES
Gravatai.1987

UM ATEU NO LABIRINTO

UM ATEU NO LABIRINTO

Não creio em fada madrinha,

Nem em Cristo, nem em Deus;

Minha igreja é a daninha,

Tatuagens do corpo teu.

Sou nesta luz o buraco,

Negro de algum infinito;

Vivi catando os cacos,

Deste teu olhar bonito.

Perco-me em teus labirintos,

Este teu corpo de mel;

Mistura de paz eu sinto,

Alem do nosso bordel.

Eu sou nefasto, devasso,

Um ateu na contra mão;

Rasgo de luz neste espaço,

Um raio alem do trovão.

Sou esta dor que te invade,

Penetra dentro da alma;

No meio da tempestade,

Sou o inferno que te acalma.

*J.L.BORGES
Gravatai.1987

PANELA DE PRESSÃO

PANELA DE PRESSÃO

Enfeites no urinol,

Projetam esta semente;

Da dura realidade,

Na mente desta gente.

Que nem importa o sol,

Só luzes fluorescentes;

Tingindo esta cidade,

De sangue efervescente.

Enfeites no lençol,

Projetam um futuro;

De guerra nuclear,

Um mundo mais escuro.

Que nem me importa o sol,

No vácuo mais profundo;

Só a ânsia de acordar,

Bem longe deste mundo.

  *J.L.BORGES
Gravatai.1987

IBERNÉTICA

IBERNÉTICA

Nesta hipnose ambulante,
O meu complexo é ambiental,
Estando aqui nesta fumaça atômica,
Sinto-me um ateu vendo o seu final.

Sem ter insônia neste sono,
Eu ando tropeçando por ai;
Neste sono de insônia,
Eu ando me prendendo aqui.

Eu sou teu zero,
A esquerda sou teu alto astral;
Eu uso vírgulas,
Panfletos, pois eu sou normal.

Nesta hipnose ambulante,
Eu durmo e acabo assim;
Pois sem dormir,
Eu ando me encontrando enfim.

Nesta hipnose ambulante,
Flutuo ao vento sem nunca sentir;
No espaço a solidão,
Este chão sólido a se abrir.

Nesta hipnose ambulante,
Eu leio anúncios de jornal;
Classificados desclassificados,
Alguma fumaça nuclear.

Então eu tento me trancar,
Em algum casulo milenar;
Aquela prisão particular,
Que fiz somente para mim.

Eu quero então tentar dormir,
Até esta guerra terminar;
Pois eu sou entre as pirâmides do conflito,
O bicho da seda em repouso a divagar.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1987

CARETAS DA SOLIDÃO

CARETAS DA SOLIDÂO

Um cigarro após um outro cigarro,
Vendo anúncios indecentes na televisão,
Bebendo hi-fi só por beber,
Escondendo-me da nefasta ilusão.

O cinzeiro cheio de tocos de cigarros,
E a porta muda, a porta que não abre,
Porque sei que você não virá,
Para acalmar minha vida sem você.

Sinto frio no meio deste verão,
A tortura destas magoas não me acalmam;
Dá vontade de sair rua afora,
Sem temer a noite que escorre lá fora.

Quero falar, mas não consigo,
Pois não tenho com ninguém o que falar;
Sinto o riso nas revistas que não leio,
Nos anúncios confiscados de censura.

De repente a minha frente os camaradas,
Cheirando coca adormecida sobre o prato;
O prato bronze destas magoas sufocadas,
Este medo de ficar aqui sozinho.

De repente a minha frente os camaradas,
Fumando maconha disfarçada em Holliwood;
E a coca se mistura na fumaça,
Da maconha, da cegonha e da cachaça.

E eles vão embora de repente,
Ouço o ruído de suas motos lá fora,
Roncando que nem panteras negras no cio,
E eu fico vendo desenhos animados.

*J.L.BORGES
Gravatai.1987

O BEIJO DA MEIA NOITE

O BEIJO DA MEIA NOITE

Foguetes brilham no céu
O céu vermelho da noite;
A noite do meu natal,
Natal no meio da noite.

O beijo que beija a boca,
Vermelha da meia noite
O vento quente do inferno,
Soprando no céu da boca.

Sinto-me de bem contigo,
Andamos lentos na estrada;
Sentindo a luz do universo
No beijo da meia noite.

E a noite fragmentada,
Nos fogos de artifícios;
E a estrela de natal,
Se estampa na tua boca.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1987

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

O VIAJANTE*

RÁIOS DE LUZ*

ESTRELA CADENTE*

SEM VOCÊ*

1985

LUZ*

LIBERDADE*

FOLHA DE PAPEL SOLTA AO VENTO


FOLHA DE PAPEL SOLTA AO VENTO

Na tela vazia eu vejo a imagem,

Que meio despida me acena e sorri;

Parece uma ninfa a ensaiar paisagens;

Pintando a saudade que um dia senti.

E a tela vazia se enche de cores,

Na busca constante a um encontrar;

Espinhos que beijam as pétalas das flores,

São rosas teimosas na tela a flutuar.

E um poltergaister surge de repente,

Enchendo de luzes a tela vazia;

Trazendo esperanças a vida da gente,

Flagrantes irreais em busca de um dia.

Um dia de quê? De sol a brilhar,

Espantando a chuva que teima em cair;

Na tela vazia eu vejo o olhar,

Daquela estrela no alto a sorrir.

E as folhas da vida expressas em um papel,

Me mostra desenhos nunca imaginados;

Castelos, cabanas, talvez um bordel,

Algum labirinto num mundo encantado.

E aqui eu fiquei pensando em alguém,

Que baila serena no meu infinito;

E ela que vai, e ela que vem,

Naquele balé suave e esquisito.

*J.L.BORGES
Gravatai.1987

                









LA LLAVE DEL TAMAÑO

LA LLAVE DEL TAMAÑO

En este caso,

Me dijeron que para volar,

En este caso,

Dirección y alas.

Azar del soldado ateo,

Que llevó un tiro por la retaguardia;

El guardia apito,

Y la pareja de novios se desabrochó.

Soy medio de aquí, Soy de allí tal vez;

Muy cerca de allí, además de Bagdad;

Y la lluvia cae otra vez por otra fina,

Una garona, un viento, una cerradura,

Son ustedes que tocan mi corazón,

Al dar esta voluntad,

De creer que el mundo,

Es una gran ciudad;

Y que el hombre trae,

La necesidad en esta multitud,

De estar en paz.

En mi equipaje medio universal,

Tiene una llave estrella,

Que lo hace todo en fin,

Voy a grabar un disco,

Volador para mí.

* J.L.BORGES
1987

LA CHIAVE DELLA TAGLIA

LA CHIAVE DELLA TAGLIA

Sono andato a fare un disco volante,

Mi hanno detto che per volare,

Doveva avere un motore,

Direzione e ali.

Ateo Soldato's Azar,

Chi è stato colpito da dietro;

La guardia fischiò,

E la coppia di fidanzati si è divisa.

Vengo da qui, forse vengo da lì;

Proprio lì, oltre Baghdad;

E la pioggia cade una volta per sempre sottile,

Una pioggerellina, un vento, una nebbia,

Sei tu che tocchi il mio cuore,

Dando questa volontà,

Pensare che il mondo,

È una città fantastica;

E quell'uomo porta,

Il bisogno in questa folla,

Stare in pace

Nel mio bagaglio semi-universale,

Ha una chiave stellare,

Questo fa tutto, comunque,

Ho intenzione di registrare un disco,

Volando a me.

* J.L.BORGES

A CHAVE DO TAMANHO

A CHAVE DO TAMANHO

Fui fazer um disco voador,

Disseram-me que para voar,

Tinha que ter motor,

Direção e asas.

Azar do soldado ateu,

Que levou um tiro pela retaguarda;

O guarda apitou,

E o casal de namorados se desabraçou.

Sou um pouco daqui, Sou de lá talvez;

Bem perto dali, alem de Bagdá;

E a chuva cai vez por outra fina,

Uma garoa, um vento, uma cerração,

São vocês que tocam o meu coração,

Dando esta vontade,

De achar que o mundo,

É uma grande cidade;

E que o homem traz,

A necessidade nesta multidão,

De ficar em paz.

Na minha bagagem meio universal,

Tem uma chave estrela,

Que faz tudo enfim,

Vou gravar um disco,

Voador pra mim.

  *J.L.BORGES
Gravatai.1987

ANTI-MATÉRIA

ANTI-MATÉRIA

Eu sou aquele que fica,

Quando o teto em implosão,

Se retrai como uma pulga,

Esmagada a contra mão.

Sou um farol que tomba,

No meio da tempestade;

Polar de um novo tempo,

Sou este tédio que arde.

Sou ais na sociedade,

Sou motim numa prisão;

Espacial sem futuro,

Nos confins do meu plutão.

Eu sou aquele que fica,

Depois da terceira guerra;

Sou a fera acuada,

Sugando o sangue da terra.

Eu sou a fome do fraco,

Sou a voz do delator;

Sou o negro que sucumbi,

Pela saga do opressor.

Sou no infinito esta poeira,

Atômica dentro de mim;

Sou um conjunto vazio,

Talvez, inicio do fim.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1987

A CASA DAS QUATRO LUAS EM CAMAQUÃ

A CASA DAS QUATRO LUAS EM CAMAQUÃ.

             Eu ainda lembro da casa da minha infância, uma grande casa amarela, sem forro e de chão batido, com seu telhado de zinco, todas as noites no meu quarto eu aspirava pelos buracos das telhas de zinco o cheiro indecifrável da noite.
             Na sala da minha casa, a casa da minha infância, tinha um grande quadro verde que pertencia a minha avó, este quadro me mostrava os fragrantes de uma batalha ocorrida em 1923, lá pelas bandas de Camaquã, no sul, na frente do batalhão estava meu avô, montado em um grande cavalo niger, com seu mosquetão mosqueado, impaciente em seu ombro, e, sua espada de prata pendurada a cintura.
             Ainda lembro as janelas da casa da minha infância, que nas tardes de novembro batiam azuis na parede, eram janelas de estilo vitoriano, muito antigas para a época, madeira de louro verde com quase duas polegadas, e um arco milímetro em forma de lua nova, formando noventa graus.
             Nos fundos da minha casa, tinha muitos bambuzais, onde eu passava as minhas tardes, eram de um verde total, contrastando com o céu pincelado de azul, pareciam pernas sinuosas e enormes de monstros imaginários, e lá no fundo do quintal deslizava silencioso igual serpente, um riacho vulnerável, fronteira imaginaria de meus sonhos.
             Na minha mente ainda vejo a casa imensa e orgulhosa em meio das verdes e altas gramas que ondulavam como um mar insano a rugir ventanias e aquela estrada careca que se perdia lentamente...
             Ainda ontem passei por lá. E vi uma montanha de concreto quase furando o céu cinzento, e cuspindo fuligem para o incrédulo sol amarelo que tentou esconder-se atrás de uma nuvem chorosa.
                                                                    *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1987

                                                                                                    

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RATOS,GATOS E PÉS DE PORCO

RATOS, GATOS E PÉS DE PORCO.

Se não houver amanhã,
Quem cuidará dos esgotos;
Quem limpará os escrotos,
Desta tua sociedade?

Os ratos, serão os ratos,
Que cuidarão dos esgotos,
Que limparão os escrotos,
Desta tua sociedade.

Se não houver amanhã,
Quem cuidará dos quartéis;
Quem comerá os pasteis,
Deste teu governo enfermo?

Os porcos, serão os porcos,
Quem cuidarão dos quartéis;
Quem comerão os pasteis,
Deste teu governo enfermo.

Se não houver amanhã,
Quem governará este povo;
Quem furtará este novo,
Agouro da tua política?

Os gatos, e os pés de porco,
Quem governarão este povo;
Quem furtarão este novo,
Agouro da tua política.

E a política paralítica,
Será do governo enfermo
Dos pasteis nos teus quartéis,
Dos escrotos nos esgotos.

    *J.L.BORGES
Gravata.1987



UMA VEZ MAIS

UMA VEZ MAIS

Deixa-me te abraçar,

Pelo menos uma vez,

Só mais uma vez;

Deixa-me te beijar,

Pelo menos uma vez,

Só mais uma vez.

A luz do teu sorriso,

Brilhou em meu ouvido,

Quando ouvi a tua voz;

O mel paraíso,

Brilhou sem ter sentido,

Quando ouvi a tua voz

Teu sonho me envolveu,

Na insônia que te fiz,

Pois te fiz si para mim;

Abri esta minha porta,

Para entrar a tua imagem,

Que eu fiz só para mim.

Meu doce amor, me deixa,

Te abraçar só um momento,

Um momento apenas;

Eu quero levar teu gosto,

Levar o teu calor,

Para toda a eternidade.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1987

SUZI

SUZI

As tuas curvas e ruas,
As tuas esquinas parecem,
Contornos de Porto Alegre,
A tua boca estrelada,
Tua língua que me persegue,
Parecem docas molhando,
Os beijos de Porto Alegre.

Teus olhos, minha lanterna,
O farol que me ilumina,
Parecem noites sem luas,
Escassas em Porto Alegre,
Teu vento que beija leve,
Meu corpo que te alucina,
Parecem moinhos de ventos,
Nos parques de Porto Alegre.

Não me canso das tuas nuas,
Ruas onde caminhei,
Teu labirinto encantado,
Me lembra becos e praças,
Os bares de Porto Alegre,
E a graça do teu andar,
Me lembra a rua da praia,
Que nem ter praia consegue.

  *J.L.BORGES
Ano 1987

                             

ROSA DE FOGO

ROSA DE FOGO

Minha razão de viver,

É só você, minha querida;

Jamais irei te esquecer,

És a razão da minha vida.

Eu te amo, pois bem sabes,

Que és tudo para mim;

És a fragrância suave,

És este meu sol sem fim.

Meu sonho é ter teu conforto,

Das suas mãos a me afagar;

Navegar neste teu corpo,

Como uma rosa a incendiar.

No mais longínquo e profundo,

Labirinto te buscarei;

Bem alem do fim do mundo,

Numa explosão nuclear.

*J.L.BORGES
Ano 1987

PARANOIA

PARANOIA

Quem me ama me segue,

E quem não me ama também;

O mundo que me persegue,

Me leva para um alguém.

Até Betty Blue muito louca,

Me seguiu um certo dia;

Para ver o céu sorriso,

Estrelado de alegria.

Por isso menina me siga,

Senão eu te seguirei;

Nesta estrada do cometa,

Halley que eu jamais verei.

A camponesinha me viu,

Naquela longa avenida;

Quando segui suas curvas,

Sambando puta da vida.

Eu só sigo quem me ama,

Nesta estrada sem fim...

  *J.L.BORGES
Ano 1987

O PULO DO GATO

O PULO DO GATO

Meu amor puro,
Pulou o muro;
E no pecado do amor,
Sucumbi no teu pudor.

Pecador na inocência,
Mesclada de inexperiência;
Conflitos doces no escuro,
Meu amor pulou o muro...

E a densa madrugada,
Propensa de alvoradas;
Num raio fez-se luz,
Chuvas de paz e de cruz.

Meu riso se fez cansaço,
Quando senti o abraço;
Daquela bruxa madrinha,
Tão distante, mas só minha.

Meu amor lento e seguro,
Num instante pulou o muro;
Só para te ver a meu lado,
Sem culpa neste pecado.

E a dor trouxe a alegria,
Princípios de um novo dia;
Senti teu corpo seguro,
Depois de pular o muro.

  *J.L.BORGES
1987

MEU LABIRINTO PARTICULAR

MEU LABIRINTO PARTICULAR

Longe... Bem longe,

Alem de Aldebaram eu estou;

Meu mundo é este vazio em que flutuo,

Perto do buraco negro do meu coração.

Um pneu estoura de repente,

Em alguma curva da estrada vazia;

Será que foi apenas um pneu,

Ou foi um coração magoado?

Hoje eu estou aqui esperando,

Te esperando e tu não vens;

Talvez um dia eu te encontre por ai,

Só não sei amor, quando.

Eu te procuro todo o dia,

E não sei a onde tu estas;

Eu preciso te encontrar de novo,

E talvez me encontrar.

Uma luz acendeu neste meu túnel,

Este labirinto que eu fiz só para mim;

E eu andei... Andei até perceber,

Que eu não vivo uma vida sem amor.

Hoje eu estou bem longe... Bem longe,

Mas bem próximo de teu coração;

Sou eu o homem que te quer,

O homem que precisa de ti.

 *J.L.BORGES
Ano 1987




LUZES DA VERDADE

LUZES DA VERDADE

Na superfície do míssil solidão,
Eu vejo o fio atômico do teu olhar;
Aquele olhar daltônico colorido,
Que dá vontade de não voar.

Nas sombras que vislumbro eu nem percebo,
Por que tudo passa sem sentido;
Me fazendo ficar de bem comigo,
Carente dos teus beijos mal molhados.

Explode esta guerra nuclear,
Do ponto sul ao pólo atroz;
Então capto a tua voz,
Em alguma ponte a me chamar.

Mas eu fico te encontrando nos caminhos,
Onde nunca fui e não irei;
Se penso eu só penso em ti,
Sem tua presença eu não sei o que farei.

Estou louco a imaginar alguma guerra,
Alguma ogiva nuclear a me explodir;
Se sozinho eu não tenho tua presença,
Eu choro, sem vontade de sorrir.

Vem amor, chega desta solidão,
Eu quero tua paz, não ogiva nuclear;
Eu quero caminhar, lentamente a teu lado,
Até o dia terminar.

*J. L.BORGES
Ano 1987

EVIDENCIA

EVIDÊNCIA

A tua imagem, o teu sorriso,
O teu olhar que me inspira;
Me faz ficar de bem comigo,
Me faz sentir o paraíso.

A tua imagem que me transcende,
Esta tua boca que me fascina;
Esta tua voz que me acende,
Minha querida, minha menina.

Sou todo teu neste momento,
Eu sou fracasso sem teu amor;
Sem teus carinhos sou folha ao vento,
Longe e distante da minha flor.

Fico agitado quando em ti penso,
Meu coração quer explodir;
És na distancia um sol intenso,
Lento e propenso a me implodir.

Pois tua imagem está em mim,
Feito um transplante na minha alma;
Minha serena dor nesta calma,
Nesta vontade que não tem fim.

Tua imagem baila em meu pensamento,
Quero  dormir só para sonhar
Contigo amor a todo o momento,
Sem ter a pressa de acordar.

*Gravatai.1987









quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

LA MIA FOTO

"LA MIA FOTO"

Ti lascerò,
Per un lungo momento,
Su qualche scaffale
La mia foto

Mostrando amore,
Timbrato su di me;
Questo amore senza fine,
Questo è tutto tuo.

* J.L.BORGES
2016

DELÍRIOS

DELÍRIOS

Quero ser louco em paz,
Ser louco e andar sozinho;
Me prender em teus caminhos,
Que tanta falta me faz.

Faz-me falta o teu riso,
Seu ego paranormal;
Sou meio débil mental,
Tateando teu paraíso.

Que nem a serpente receio,
Comendo tua maçã;
Sua febre é meu amanhã,
Minha fonte são os teus seios.

Arpões que dentro da blusa,
Só apontam para mim;
Neste delírio sem fim,
Eu te abuso, tu me abusa.

Na solidão do caminho,
Correndo te pego a mão;
Te dispo e te amo no chão,
Quero ser louco e sozinho.

Só para sonhar com teus beijos,
Filme de televisão;
Sozinho esta solidão,
Me sufoca no desejo.

Este desejo tão louco,
De galgar neste teu corpo;
Me prender em teu conforto,
Morder tua língua, tua boca.

Amor, me ame e me ouça,
Eu quero ser teu, e mais;
Eu quero ser louco em paz,
Quero camisa de força.

  *J.L.BORGES
Gravatai.1987

TODA A RAZÃO DE VIVER

TODA A RAZÃO DE VIVER

Eu sou uma pedra falsa,
Talvez um sonho de valsa,
Ensaiado sem começar.
Sou gasto raso e profundo,
Profano e denso num mundo,
Onde se exige chorar.

Sou andarilho numa estrada,
Carente de encruzilhada,
Cansado de andar sozinho.
Faz-me falta teus beijos,
Aquele louco desejo,
Mesclados com teus carinhos.

Carinhos que não me faz,
Mas que tanta falta trás,
A este meu coração.
Que nunca mais te sentiu,
Pois você amor partiu,
Só deixando a solidão.

Solidão que me apavora,
Todo o lugar, toda a hora,
O que farei, eu te espero?
Tu és a minha razão,
De viver esta emoção,
És aquilo que mais quero.

*J.L.BORGES
Ano 1987

SAUDADE DA FELICIDADE

SAUDADE DA FELICIDADE

Felicidade meu bem querer,
Quanta saudade que tu me faz;
Hoje eu parti, não sei por quê,
Voltar não sei, talvez jamais.

Felicidade que foi embora,
Hoje ando longe, nem sei a onde;
Os meus diabinhos bons de outrora,
Hoje se escondem.

Só eu que fico aqui nesta hora,
No desabrigo da tempestade;
O céu desaba, minha alma chora,
E o vento leva a felicidade.

Ficando em mim esta ilusão,
De um mundo novo e cheio de tédio;
Eu vou galgando minha solidão,
Hoje sozinho, não tem remédio.

Só a saudade é que me faz,
Sorrir um pouco na mocidade;
Felicidade que não me traz,
Aquele tanto de eternidade.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1987

NOSSO NOVO COMEÇAR

NOSSO NOVO COMEÇAR

Hei João! Venha brincar de correr,
Maria, venha jogar sorrisos;
A esperança que eu mais preciso,
Que eu quero e não posso perder.

Hei Maria! Venha brincar de amor,
João, pinte o teu olhar;
Na íris de alguma flor,
Alguma valsa a flutuar.

E assim faças brilhar teu sol,
Presença mutua do futuro;
Façamos da paz o farol,
Uma estrela banhando este escuro.

Hei Maria! Faça xodó em mim,
João, conte-me uma piada;
Façamos deste atalho a estrada,
Um recomeço para não ter mais fim.

Façamos um arsenal de rosas,
Em todos os cantos da terra...
Façamos um novo começar,
Sem ódios, sem rancores, sem guerras.

 *J.L.BORGES
Ano 1987

SESMAIA


SEMAIA

Um relâmpago rasgou meu céu,
Um céu escasso de estrelas;
Entrou dentro de meu coração,
Que não conseguiu detê-la.

Ela chegou aqui de repente,
E como chegou foi embora;
Tudo ficou como um breu nesta hora,
O sentido transformou-se em não sentido.

A praça da Semaia com suas flores,
Permaneceu muda em seu lugar;
A saudade no meu peito a navegar,
Meus amores que perderam seus valores.

Mas que luz! Que cruz que eu conheci,
Que amanhã eu não encontrarei;
Entre a praça da Semaia vejo a imagem,
Da deusa que um dia esquecerei.

E assim vai passando esta vida,
Que herdei de um passado que anda longe;
Entre pedras e as tulipas vejo tu,
Que me olha e depois lenta se esconde.

*J.L.BORGES
Gravatai.1987

MARIA

MARIA

Os ventos de inverno,
Na pele macia;
A pele de lua,
Da minha Maria.

Um beijo de mel,
Canção boemia;
Sorriso tão lindo,
Na minha Maria.

Abraço apertado,
Na dança vadia;
Os pés flutuando,
Dançando Maria.

São passos de fada,
Minha fantasia;
Meu sonho mais lindo,
É a minha Maria.

Estrelas azuis,
Num céu de magia;
O brilho no rosto,
Da minha Maria.

Cabelos de trigo,
Em mil ventania;
Eu ouço nos ecos,
A voz de Maria.

Chamando por mim,
Nesta nostalgia;
Num rasgo de luz,
A luz de Maria.

Uma luz envolvente,
Que do infinito erradia;
A paz mais serena,
Eu amo Maria.

*J.L.BORGES
Gravatai.1987

NATALE

"Natale"

Vedo luci alle finestre,
Sciocchi lucenti incessanti;
Conchiglie nere esposte in quadrati,
Nei quarti degli arroganti.

In grassetto i manifesti,
Mostrandoci illusioni,
Alzheimer e sogni voraci,
Snake i cuori.

Le campane delle cattedrali,
Annunciando il bravo ragazzo;
A piedi nudi vedo la pace,
Camminare con il destino.

Il vecchio vescovo sa di incenso,
Tra piacere e croce;
Oggi è Natale, sono incline,
Pensando al buon Gesù

* J.L.BORGES

DEPOIS DO POR DO SOL


DEPOIS DO PÔR DO SOL

Como este pôr do sol é indefinido,
Até parece ser uma arvore,
Salpicada de azulejos
Repousando na consciência deste céu.

A consciência deste povo onde está?
Será que ela se escondeu atrás de uma arvore?
E a arvore carregada de maçãs,
Sugere um pecado nesta noite.

Uma luz que vem trazendo a luz,
A visão do teu corpo cadenciado;
Então neste corpo tão miúdo,
A tatuagem de um pôr do sol.

E a noite espontânea repousou,
Neste corpo atrevido e imprevisível;
Então sem pressa eu sai a procurar,
Uma estrela para doar a você.

 *J.L.BORGES
1987

ALUCINAÇÃO


ALUCINAÇÃO

Amor que não me deixa,
Te encontrar em um segundo;
Me leva sem queixa,
A uma calma profunda.

Me perco a teu lado,
Com sono e tantos sonhos;
Me encontro acordado,
Meu lado mais tristonho.

Que nunca amor te toca,
Eu toco o teu sorriso;
Que lento me provoca,
Me leva ao paraíso.

Se ando longe eu penso,
Nas curvas deste corpo;
Um ponto longínquo e denso,
Carente de conforto.

Que nunca mais ganhei,
Perdido na distancia;
Dos ventos que soprei,
Mesclados de fragrância.

Do teu olhar farol,
Brilhando sempre em mim;
Teus lábios, o meu sol,
Sabor que não tem fim.

 *J.L.BORGES
1987

ANDROPAUSA HPNÓTICA


ANDROPAUSA HIPNÒTICA

Eu vivo de você,
Você vive de mim;
Eu vejo em você,
A paz que não tem fim.

Eu quero ter você,
Você me quer também;
Eu sou o seu brilhante,
O sol que nunca vem.

Sou tua hipnose,
Um amor que não tem causa;
Você é minha ressaca,
A minha andropausa.

Pois sou, nós somos um,
Contidos no desejo;
Bordel num cais dourado,
Salgado são seus beijos.

Sua língua só me toca,
Me faz cócegas e me provoca;
Rasgando este meu céu,
O céu da nossa moca.

Suas pernas, suas curvas,
Seus seios pão e mel;
Me levam ao paraíso,
Aquele meu bordel.

Nas vagas das marés,
Me desmancho e te devoro;
Você é minha prostituta,
O anjo que adoro.

Eu vivo pra você,
Você vive pra mim;
Você é meu inferno,
A paz que reina em mim.

*J.L.BORGES
Gravatai.1987

DEPOIS DO POR DO SOL


DEPOIS DO PÔR DO SOL

Como este pôr do sol é indefinido,
Até parece ser uma arvore,
Salpicada de azulejos
Repousando na consciência deste céu.

A consciência deste povo onde está?
Será que ela se escondeu atrás de uma arvore?
E a arvore carregada de maçãs,
Sugere um pecado nesta noite.

Uma luz que vem trazendo a luz,
A visão do teu corpo cadenciado;
Então neste corpo tão miúdo,
A tatuagem de um pôr do sol.

E a noite espontânea repousou,
Neste corpo atrevido e imprevisível;
Então sem pressa eu sai a procurar,
Uma estrela para doar a você.

 *J.L.BORGES
1987

MAGIA


MAGIA

Teu sorriso transformou a minha mente,
Tua imagem trouxe a mim este teu dia;
Uma luz a brilhar dentro da alma,
Toda a paz perpetuando esta magia.

Tua voz é uma canção e os teus lábios,
São mel, néctar e Ambrósia;
O teu corpo é a miragem do futuro,
A passagem da tristeza a alegria.

Teu olhar é o farol de uma estrela,
Me mirando nesta manhã lenta e fria;
Tua calma é a paz dentro da noite,
Transcendendo esta vã melancolia.

Os teus beijos são meu fogo do ínfero,
Preenchendo esta alma tão vazia;
A tua vida é minha vida, o teu amor,
É o amanhã da minha alma tão vadia.

E a magia tomou conta do meu corpo,
Da minha voz, minha paz e ironia;
Sou feliz pois te tenho com saudade,
És a luz que me sufoca e que me guia.

*J.L.BORGES
1987

EU QUERO SER ANIMAL


EU QUERO SER ANIMAL

Pantera negra, onça pintada,
Lobo solitário, errante na estrada.

Falcão misterioso, águia a voar,
No azul firmamento, um coiote a uivar.

Leão da montanha, tigre de bengala,
Gazela assustada, olhar de opala.

Tom e Jerri, a pantera cor de rosa,
O ursinho blau-bla, a ratinha dengosa.

O veloz tu-tubarão, Moby Dick a flutuar,
Alem do trovão, nas ondas do mar.

E o tempo persegue os meus animais;
A lebre assustada a olhar para trás.

No verde do encanto eu vejo a perdiz;
Alem deste sol o corvo infeliz.

Medusas e dinossauros, o dragão e o cavalo;
A bela e a fera, o canto do galo.

Mas a vida consegue parar afinal;
E o tempo soltou , os meus animais.

Eu quero ser apenas, o meu animal;
Com ódios de guerras, ser talvez um punhal.

Voar com você, alem do trovão;
Voar lado a lado, pardal e falcão.

Chegar no meu sol, em outra dimensão,
Os dois animais, pardal e falcão.

No plano sonhado, sem medo total;
Na paz mais serena, eu serei animal...

*J.L.BORGES
1987

                                                   


NÁUFRAGO


NAUFRAGO

Te quero daninha,
Nefasta e tão minha,
Te quero mulher;
Te quero profana,
Suave e mundana,
Num tempo qualquer.

Te quero na cama,
Acendendo esta chama,
Que inflama o amor;
Te quero no frio,
Teu corpo macio,
Trazendo o amor.

Te quero na porta,
Que aberta conforta,
O meu coração;
Te quero pequena,
Na magia serena,
Da tua tesão.

Te quero cruel,
Com gosto de mel,
Goma de mascar.
Na cadencia do beijo,
O louco desejo,
De me afogar.

*J.L.BORGES
1987

AINDA RESTA UMA ESPERANÇA


AINDA RESTA UMA ESPERANÇA

O povo cansado de braços cruzados,
Caminha excitante a lugar nenhum;
Um rosto suado e sorriso apagado,
Uma vida que leva a lugar algum.

São passos de chumbo arrastando no chão,
Uma vida apagada quase sem esperança;
Levando na luz da memória o pão,
Migalhas de paz é o que vem na lembrança.

O povo cansado tropeça na estrada,
E quase sem forças, já prestes a cair;
Relembra p passado de uma gloria atrasada,
Relembra e levanta pra não sucumbir.

Na luz da manhã apagam-se os sonhos,
De uma noite povoada de vis pesadelos;
Sorriso no rosto, forçado e tristonho,
Mau hálito na boca, e os olhos vermelhos.

Retornam então em sua longa jornada,
Levando o passado e buscando o futuro;
Uma paz que talvez possa ser alcançada,
Uma luz a brilhar e a rasgar este escuro.

*J.L.BORGES
Gravatai.1987