quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O AMOR, ESTE INCOMPARÁVEL

O AMOR ESTE INCOMPARAVEL

Vem comigo onde as rosas acenam,
E os raios solares dançam ao vento;
Então prenderei tua mão a minha,
E te falarei de amor.

Querida, ouso esperar dizer;
Tudo o que es para mim;
Pois conquistastes meu coração,
Para todo mundo ver.

Mas um dia eu ousarei amor,
Dizer que minha alma te pertence
E moraremos no céu se,
Fores minha namorada.

Es o calor tórrido,
De uma tarde de verão;
És os seios de Vênus,
O tridão de Netuno

 *J.L.BORGES
1981

DO FINITO AO INFINITO

DO FINITO AO INFINITO

Tu és o sal da terra,
Os raios de sol;
Um falcão lunar;
És os seios de Vênus;
A clava de marte,
O tridão de netuno;

És o colosso de rodes,
A rainha dos meus sonhos,
Os anéis de saturno,
Es o pó das estrelas,
És amiga de plutão.

Tu és urano. es urânio,
Contaminastes meu coração;
Que anda perdido e se perde,
Se não ter o seu corpo.

Tu tens a magnitude de júpiter,
A beleza das filhas de Hercules;
Tu és minha fantasia,
A beleza imortal de Afrodite.

Tu es minha nuvem de algodão,
Tu es mercúrio que alivia,
Esta dor de amor que me ataca,
Mas que eu tanto aprecio.

Es a lua em que me inspiro,
Es o mar que me acalma;
Es uma floresta, um caminho,
Minha estrela reluzente.

Eu vou te encontrar,
Nem que seja no finito;
Deste teu terno olhar,
Este louco coração.

*J.L.BORGES
1981



O AMOR SE TRADUZ...

O AMOR SE TRADUZ...

O amor se traduz em flores;
Sempre algo a ofertar,
Quando o amor nasce,
E ele nasce inseguro,

Cria forma e transforma-se em luz.
O amor se traduz em luz;
Ele vive, ele brilha,
Ilumina a solidão;
O amor dá calor,
E sua luz transforma-se em poesia.

O amor se traduz em poesia,
Em alegria, em esperança,
Seus gestos são rimas,
São versos tão puros,
Que transformam-se em musica.

O amor se traduz em musica,
E eu quero gritar, cantar,
Quero dizer que te quero,
Quero te ofertar uma rosa,
Pois o amor se traduz em flores.

 *J.L.BORGES
(1981)

DIREI QUE ME LEMBRO DE VOCÊ

DIREI QUE ME LEMBRO DE VOCÊ

Direi que me lembro de você,
Pois és o que mais amo;
Embora eu minta, embora finza,
Embora negue, não me engano.

Direi que um dia eu pensei,
Em te amar de verdade;
Mas como?Se te amo tanto;
Se este amor por você é realidade.

Não adianta eu fingir,
Não adianta eu dizer que te desprezo;
Se és para mim o que mais sonho,
O que mais adoro e prezo.

Direi que nunca te esqueci,
Direi que és a aurora do meu dia;
Pois és mais que a aurora, és o dia,
És o sorriso, o paraíso, a alegria.

Embora eu teime em te esquecer,
Não adiante, mas por quê?
Ora, é simples, porquê te amo,
Direi que me lembro de você.

   *J.L.BORGES
Porto alegre.1981


NÃO SE PODE ENCOMENDAR

NÃO SE PODE ENCOMENDAR

NÃO SE PODE ENCOMENDAR,
UMA TARDE DE VENTO BRANDO;
O SOL QUANDO SE POR,
NOS FUGIMOS LOGO.

ASSIM TRANSFORMO-ME EM NUVENS,
QUE BUSCAM RESTIAS DE SOL,
MAS COMO IREI ACHA-LO,
SE ELE FOGE DE MIM,
ESTÁ TAO LONGE?

SÓ QUERIA ESTAR AGORA,
LÁ ONDE O SOL ABRE CAMINHO,
COM VOCE A MEU LADO;
E COM SEIS DIABINHOS MENORES,
DE CALÇAO E TRIDÃO,
TOCANDO CORNETA.

 *J.L.BORGES
Porto Alegre.1981

DELÍRIOS

DELÍRIOS

Eu me sinto igual a um murmúrio que foge,
Da luz do sol...Do som...Da cor...
Do riso...Da graça...Da dor...

Pareço um coração que quer bater,
Quer se  soltar e voar ao sol;
Voar livremente, antes de morrer.

Eu já nem sei se sou,
Se fui, se estou,
Se amo ou não.

Perdi a vida, esta partida,
É dura a lida, e a despedida,
Restou apenas esta ilusão.

 *J.L.BORGES
1981

CANÇÃO DA MENINA TRISTE

CANÇÃO DA MENINA TRISTE

Ela apareceu na minha vida,
De repente;
Como uma brisa que sopra,
Em uma rua qualquer.

Surgiu silenciosa,
Humilde e triste,
Com seu sorriso sem jeito.

Seus passos ecoaram na distancia,
Depois sumiu  em meio ao nevoeiro,
Da madrugada que findava,
E nem sequer olhou para traz.

   *J.L.BORGES
Porto Alegre.1981

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

TARDE DE DOMINGO

TARDE DE DOMINGO

Uma tarde preguiçosa,
Uma paisagem com um só coqueiro;
Um vento morno e teimoso,
Um sonho a voar ligeiro.

Um sol queimando meu rosto,
Um dia que moroso passa;
Um céu com uma nuvem só,
Um besouro beijando a vidraça.

Um chão queimando meus pés,
Um coração que bate em meu peito;
Um amor que quer nascer,
Um riso a brotar sem jeito.

Um silencio que sufoca,
Uma melodia que me deixa triste;
Uma saudade que fica,
Uma recordação que existe.

Umas poucas horas que restam,
Um grito longínquo, rouco;
Uma tarde que se vai,
Um amor que foge aos poucos.

       *j.l.borges

TODA MINHA PAZ PASSEANDO DENTRO DA NOITE

TODA A MINHA PAZ PASSEANDO DENTRO DA NOITE

Amor venha descobrir,
Venhas me agradar e permitir;
Sim, permitir que eu te ame,
Que eu sonhe.

Toda a minha paz,
Está passeando dentro da noite;
E eu te vejo doce vida,
E eu te quero muito mais.

Algo ruim dentro de mim,
Sumiu quando te encontrei...

Por isso te peço, venhas...
Quero ser seu escravo;
Quero ser seu amigo,
Quero ser seu amor.

Eu agora te adoro,
Te desejo e espero...

Toda a minha paz,
Passeando dentro da noite;
E eu sonho com você,
Pois te amo.

 *J.L.BORGES
Camaquã.1980

LE BADERNEIRA

LE BADERNEIRA

Vous êtes venu près,
Provoquant l'agitation dans mon cœur,
Dans les casernes de mon âme,
Bu le meilleur vin,
Et abandonné moi seul,
Dans cette solitude.

Je vous ai vu,
Dans criardes de ma pensée,
Égale héron en vrac dans le vent,
Je suis venu lentement à vous,
Et vous me pris possession,
Cette grâce du moment.

Voilà comment je vous ai aimé,
Witch
Ce ici;
Je vous vois comme ça,
Dans la nuit noire,
Cette paix qui vient à moi.

Vous êtes venu près,
Provoquant la tourmente dans ma vie;
Dans la caserne de mes pensées,
Ivre la meilleure boisson,
Ont collé à cette table, et la tristesse,
Il se tenait à côté de moi en vrac dans le vent.

* J.L.BORGES

terça-feira, 28 de novembro de 2017

PERMITA- ME SER AGRADÁVEL

PERMITA-ME SER AGRADÁVEL

O amor vem, o amor vai,
Mas a velha amizade jamais;
Tudo na vida é passageiro,
Menos você...

Permita-me ser agradável,
Recordar os velhos tempos;
Que fugiram com a vida,
Mas que não se apagam...

Não estou só, e tão pouco você,
Não estou infeliz, só triste;
Hoje te procuro, amanhã? Não sei.

Tudo passa com o vento,
Que carrega as folhas secas;
Depois vem a chuva e conforta,
E o sol aquece a alma.

Permita-me ser agradável,
Te mostrar que estou feliz,
E que ainda sou amigo.

Quero que você sorria...
Pois amor vem, amor vai,
Mas a velha amizade...

 *J.L.BORGES
(1980)

SOL


SOL

O silencio da manhã,
Muita esperança me traz;
O canto do sabiá,
Nesta manhã satisfaz.

Vejo o sol cadente e plácido,
A procura de mais paz;
Deixo o vento madrugada,
Na estrada para traz.

Só aspiro este sorriso,
Que vem do pó da estrada;
Sou fragrância da esperança,
Nascida na madrugada.

E o sol vem colorindo,
Este dia de esperança;
Sou feliz aqui e agora,
Desta paz eu sou criança.

O silencio da manhã,
Traz a paz para o futuro;
Meu presente é ter o sol,
Brilhando no meu escuro.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986

DE QUE VALE O REINO

DE QUE VALE O REINO

De que vale o reino,
Se sinto-me tão isolado,
Tão triste, só passando o tempo,
Passeio sozinho, durmo sozinho,
E falo comigo mesmo.

De que vale o reino,
Se este mundo é tão deserto,
Sinto frio e saudade nesta hora;
E estou chorando,
Por algo que nunca possui.

De que vale o reino,
Se tudo foge de minha alma,
Não sei sonhar, não sei amar;
Pois nada tenho,
Nem mesmo você.

De que vale o reino,
Se o mundo é cruel;
Tenho pena das crianças,
Inocentes crianças;
O que aconteceu com o amor?

De que vale o reino,
Se o amor esfriou,
Os jovens morrendo aos poucos,
Os homens esquecendo de Deus,
Pensando somente em si.

  *J.L.BORGES
Camaquã.1980

NADA DE IMPORTANTE

NADA DE IMPORTANTE

Meus dias de alegria terminam,
Nada tenho pra fazer;
Vou andar pelas campinas de minha vida,
Lentamente vou parar, não mais correr.

O pássaro do amor fugiu pra sempre,
Sem ao menos um adeus poder dizer;
Fugiu, levando esta nuvem de esperança,
Mas deixando esta dor do perecer.

Eu agora fiquei só e com saudade,
Deste amor, antes terno bem querer;
Nada tenho nada quero, nada peço,
Só queria nesta hora era morrer.

Perdi tudo nesta vida, eu bem sei,
Perdi sonhos e vontade de viver;
Vou parar, andar pelas campinas,
Pois nada tenho de importante pra fazer.

    *J.L.BORGES
Gravatai.1980

MINHAS ESTAÇÕES


MINHAS ESTAÇÕES

No equinócio voraz da primavera,
As flores brilham no alvorecer;
Em formas finitas de espera,
Rompantes vermelhos de prazer.

No solstício ardente do verão,
Areia e mar com muitas musas;
Num rasgo de estrela a ilusão,
A vontade de abrir a tua blusa.

No equinócio audaz do outono,
Um pomar com serpentes e a maçã;
Sob a sombra de um sonho andante e insano,
A ansiedade de encontrar esta manhã.

No solstício cadente de inverno,
Uma luz azul flutua;

Alem do fundo do inferno,
Num céu povoado de mil luas.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986

LANTERNAS


LANTERNAS

Os olhos castanhos são tão estranhos,
Os pretos me enfeitiçam;
Mas se eu quiser me embriagar,
Fico nos verdes e nos azuis.

Os castanhos me dão esperanças,
Doce lembranças encantada;
Trazem na vida lavada,
O inocente desejo da criança.

Os azuis são um céu imenso,
Trazendo um riso bonito;
Um ouro, mirra ou incenso,
Algo que vem do infinito.

Os verdes é um mar insano,
Lembrando ondas do mar;
Onde quero me afogar,
Me perder neste oceano.

Os negros lembram lençóis,
Molhados numa longa cama;
Lembram também alguns sois,
Alguma chama que inflama.

 *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

A BOMBA DA PAZ E A POMBA


A BOMBA DA PAZ E A POMBA

...E a bomba da paz
Parece um sino
De cristal anunciando
Aos quatro ventos.

O quê?

...E a pomba
Entoa hinos
De esperança,
Anunciando um novo tempo

De quê?

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

ALUCINAÇÃO


ALUCINAÇÃO

Algo surge com o dia,
Proveniente do universo;
Trazendo em sua magia,
Um sonho calmo e perverso.

Tomando conta da gente,
Se enraizando na alma;
Como uma sarça ardente,
Um perfume que acalma.

Tem o gosto amargo do sal,
A cor do sol, ilusão;
Afasta o bem e o mal,
Na sombra da sua canção.

Surge num vácuo escuro,
Trazendo a mordente luz;
Gosto de mar que eu procuro,
Salgado que me seduz.

Parece um sonho bonito,
Uma estranha alucinação;
A luz que vem do infinito,
Para a palma da minha mão.

 *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

LUA CHEIA


LUA CHEIA

Lua cheia de graça,
Com sua placidez que me seduz;
Nas ruas por onde passas,
Com sua cálida luz.

Lua clara e radiante,
Com raios que me provocam;
Me trás saudade num instante,
Os beijos que me sufocam.

Lua que sempre vejo,
Nos céus a me vigiar;
Com beijos que não desejo,
Vontade de não sonhar.

Lua esguia e altiva,
Que me agita e me provoca;
Fazendo-se minha cativa,
Depois foge e não me toca.

Lua cheia, alta e fria,
Que anuncia um novo tempo;
Trás na estampa um novo dia,
Carimbos expressos ao vento.

  *J.L.BORGES
Gravatai.1986

LUZES DA SOCIEDADE


LUZES DA SOCIEDADE

As luzes da sociedade me ofuscam,
Ao longo desta inerte estrada;
A poluição sonora me contaminou,
Desativou minha alma mal lavada.

Algumas lembranças fazem parte do presente,
Só sei o que sinto neste momento;
O sabor do meu pecado,
Toma conta do meu pensamento.

As luzes da sociedade me contaminaram,
Me fazem ficar perdido neste escuro;
Igual um cego eu tropeço nestas pedras,
De um caminho que eu nem sei o que procuro.

A dádiva de ser feliz e estar aqui,
Com alguém que saiba me amar;
Só você me intima nesta magia,
Nesta arte de receber e de doar.

Ando tristonho se não tenho seus caprichos,
Tua mania de querer e de me levar;
A lugares onde nunca me acho,
Sou fracasso se não tenho seu olhar.

*J.L.BORGES
GRAVATAI.1986

TARDES DE SETEMBRO


TARDES DE SETEMBRO

No final da tarde,
Todas as luzes são reais;
Todas as saudades ao caretas,
Todos no transito são banais.

No final da tarde,
Todos os sinos são normais;
Todos os hinos são cadentes,
Todas as estrelas imortais.

No final da tarde,
Toda a paciência é contida;
Toda a mulher é terna,
Desfilando ao longo da avenida.

No final da tarde,
Toda a pressa tem seu preço;
Todo o final tem um retorno,
Na esquina de um novo recomeço.

No final da tarde,
O sol teima em adormecer;
Para acordar noutra manhã,
E outra tarde conhecer.

 *J.L.BORGES
Porto Alegre.1986

ASSIM NASCEU O PARAISO

ASSIM NASCEU O PARAISO

Entre campos e entre lírios,
O sol ilumina o paraíso;
Na réstia dos trigais maduros,
A natureza ensaia um sorriso.

Tudo é paz, tudo é encanto,
E as nuvens são testemunhas;
Do amor universal,
Semeado dentro dos campos.

A suave relva espera,
Prelúdios vindos do céu;
Povoado de muitas cores,
Anúncios de primavera.

Entre campos e entre montes,
O rio leve serpenteia,
Como um ser milenar.

Entre vales e entre fontes,
Espia a lua cheia,
Vontade de se doar.

  *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

REFLEXÕES.

REFLEXÕES

O mundo dá muitas voltas,

E não dá para pensar;

Se alguém o abandonar,

A própria vida o conforta.

Os rios correm para o mar,

A chuva passou amor;

Meu coração transborda de dor,

Minha alma cansou de sonhar.

A própria vida o tira um dia,

Algo que o amor o ofertou

E agora triste estou,

Pois me roubaram a alegria.

Cansei de sofrer, vou fugir;

Vou voltar para os braços teus;

Dou ao mundo meu adeus,

Pois não vale a pena mentir.

  *j.l.borges
1980

LOBO SOLITÁRIO


LOBO SOLITÁRIO

Flutuo nas ondas,
Alem das montanhas;
Aspiro nos bosques,
Uma paz tão estranha.

Minha sede de estar,
Sacio nos rios;
Que correm sem pressa,
A um mundo vazio.

No mar sou a vaga,
O vago luar;
De ilhas e frestas,
De um mesmo olhar.

Sem pressa me perco,
Num grande deserto;
Que nunca me encontro,
Queria estar perto.

Das grandes cidades,
Sem ter solidão;
Perdido nos bares,
Eu brindo a ilusão.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

   

UMA MENINA A CAMINHAR NA RUA


UMA MENINA A CAMINHAR NA RUA

Uma menina caminha,
Na rua lavada;
Levando sozinha,
Uma estrela apagada.

Eu daqui admiro,
Esta musa incerta;
Sem querer então miro,
Esta porta aberta.

Meu coração vagamente,
Ameaça em meu peito bater;
E a nua paixão inocente,
Sem querer ameaça nascer.

Vejo a menina na rua agitada,
Fotografo-a na minha retina;
Linda e pura esta fada levada,
Doce e bela esta louca menina.

  *J.L.BORGES
Camaquã.1986

LUZ NEGRA


LUZ NEGRA

Minha estrada é tão vazia,
É tão escura a sua luz;
Que eu caminho lentamente,
Ao encontro da minha cruz.

Liberdade está distante,
Vida eterna oquê será;
É uma flor frágil insegura,
Que em meu peito nascerá.

Teu amor me dá sentido,
Tua presença emoção;
Vou seguindo tão sozinho,
Levo junto a solidão.

Talvez leve tua imagem,
Cravejada de sorrisos;
Vou levá-la ao infinito,
Deste mesmo paraíso.

Minha estrada é tão vazia,
Que eu nem sei se é mais estrada;
Talvez seja um atalho,
Uma luz negra e mosqueada.

Vou seguindo lentamente,
Ao encontro da tua luz;
Uma luz que me enfeitiça,
Me embriaga e me seduz.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

MENTIRA


MENTIRA

Dizem que o homem não chora,
Mas se ele ficar só, será que não?
A dor para chegar não tem hora,
Não tem hora de chegar a solidão.

Dizem que por uma mulher,
O homem não se entristece;
Nesta mentira qualquer,
A saudade nunca acontece.

Nunca morre a ilusão,
No peito do homem ferido;
Bate forte o coração,
Na busca do amor amigo.

Dizem que o homem não chora,
Se um dia a mulher partir;
Talvez nunca nesta hora,
Só na hora de dormir.

Dormir sem ter a seu lado,
A mulher que foi embora;
E ao se sentir desprezado?
Dizem que o homem não chora.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

ESPAÇO SIDERAL


ESPAÇO ABERTO

No espaço sideral,
Em algum lugar,
Que eu nunca andei,
Vejo o cristal,
O anis olhar,
Que não olhei.

No espaço sideral,
De alguma mente
Sinto o desejo,
Uma luz metal
Quieta e ardente
Que eu nunca vejo.

Sem saber mais navegar,
Flutuando ao léu
Sem o sorriso,
Sem o olhar
Longe do céu,
Teu paraíso.

 *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986


A FALTA QUE VOCÊ ME FAZ


A FALTA QUE VOCÊ ME FAZ

Seu sorriso feminino,
Muitas vezes se expandiu,
Dentro do meu lento riso;
O seu jeito de menina,
Feito flor, feito perfume,
Muitas vezes aqui floriu.

Seu olhar jovem de estrelas,
Muitas vezes iluminou,
Meu olhar louco pra tê-la;
Que nunca mais te tocou,
Pois seu olhar anda longe,
Carregado de estrelas.

Sua voz rouca de ciúmes,
Muitas vezes me embalou,
Numa musica nupcial;
A sua língua de perfume,
Muitas vezes me banhou,
Como fonte de cristal.

O seu riso, o seu olhar,
Sua voz, tudo se foi,
O seu jeito de menina,
O seu beijo nunca mais;
Só agora eu percebi,
A falta que você me faz.

 *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

FIM DA AVENIDA


FIM DA AVENIDA

Os bares repletos de gente,
Refletem exigentes,
O teu olhar...

Na rua em longas passadas,
Caminhas por nada,
A caminhar...

Na insônia perdida no sono,
Do negro abandono,
Que não seduz.

Te vejo alem da avenida,
Sozinha e esquecida,
Com tua luz.

No fim da avenida distante,
Uma luz tremulante,
E você que se vai.

Levando consigo o momento,
Mas do meu pensamento,
Tua imagem não sai.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986


ATÉ QUE ENFIM É SEXTA FEIRA


ATÉ QUE ENFIM E SEXTA FEIRA

Até que enfim é sexta feira,
Noite de som e cachaça;
Trazendo muita pirraça,
Falando muita besteira.

Até que enfim é sexta feira,
Noite de amor, tanto rosto;
Correndo solto e ligeiro,
Brilhando no meu agosto.

Lá vai indo a meretriz,
Ao encontro de alguém;
Que finge ser tão feliz,
Vivendo assim sem ninguém.

Até que enfim chegou o dia,
De tédio, de sol, de lua;
Levando a melancolia,
Naquela cara tão nua.

Vou de moto ou de avião,
Em busca de alguma luz;
Pra esquentar a escuridão,
Escuridão que seduz.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

FUNDO DO QUINTAL


FUNDO DE QUINTAL

Num opaco fundo de quintal,
Um desenho ruge numa tela;
Luz e sons de um cristal,
No mar este barco a vela.

São apenas pontos pintados em pontes,
Encravadas nas montanhas;
Planices, escarpas e montes,
Corais a correr entranhas.

Pingos áureos a luzir,
Entre planaltos e platôs;
Nas entranhas a perseguir,
Segue um arisco metro.

Montes pontos e pontes,
De uma pequenez tamanha;
Areias, desertos e fontes,
Incrustadas nas entranhas.

Terrestres, estranhas e frias,
De um universo a parte;
Sem ter tédio ou melancolia,
Cristal que nunca se parte.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

FRUTO SOLIDÃO


FRUTO SOLIDÃO

As vezes me dá uma saudade,
Tão grande e tão profunda,
Que fico até assustado.
Nestas horas eu sinto,
Eu percebo que a solidão pesa,
E gela como um iceberg,
Nestas horas sinto-me tão só;
Dá vontade de rever todos os amigos,
Que deixei trancadas no meu passado;
Mas a saudade é tão pesada,
Que mal a consigo me mover.

Relembro os velhos amores,
E as horas passam junto,
Relembro os velhos instantes,
Os momentos de solidariedade.

Nestas horas eu percebo tudo,
E vejo que não valorizei o presente,
Surge então motivos para eu ter saudade.

Eu estou sozinho,
Estou andando sozinho,
Estou dormindo sozinho,
E falando comigo mesmo;
Tudo isso é fruto de uma solidão,
Que consegui plantar dentro de mim.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

DESGARRADO


DESGARRADO

Eu larguei da cachaça,
Pra mudar de lugar;
Pra poder caminhar,
Cambalear numa praça.

Eu larguei da maconha,
Pra poder respirar;
E depois me chapar,
Nesta minha vergonha.

Eu larguei do bordel,
Pra poder me encontrar;
Numa mecha de ar,
No quintal de um quartel.

Eu sai da prisão,
Desgarrado a andar;
Como a luz do luar,
Como um raio e trovão.

Já não fui tão perfeito,
Escondido do vicio;
Deste meu sacrifício,
Imortal e direito.

Eu só sou como sou,
Mas você me deseja;
Nesta sua beleza,
Que aqui despontou.

Ontem já fui carente,
Hoje sou como agora;
A seu lado senhora,
Doce deusa envolvente.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

FM ESTÉRIL


FM ESTÉRIL

Toda a fonte de prazer,
Só me dá muita tesão;
Não consigo te esquecer,
Tu és minha estrada e prisão.

Com o fruto da maçã,
Te enfeitiço em meus abraços;
Sou magia na manhã,
Na cadencia do compasso.

Sou feliz em ondas curtas,
Na freqüência modulada;
De uma outra dimensão.

Sou escravo na permuta,
Teu cigarro em tua entrada;
Minha outra estação.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986

EU SOU VOCÊ AMANHÃ


EU SOU VOCÊ AMANHÃ

Eu sou você na prisão,
Sou você no hospital;
Sou a luz de algum natal,
Presente dado na mão.

Sou tempestade e bonança,
Sou o idoso no asilo;
Sou a fé a persegui-lo,
No orfanato a criança.

Sou a virgem violentada,
Sou o gigolô vagabundo;
Sou a ilusão deste mundo,
Escasso de madrugadas.

Sou flores na primavera,
Geadas densas no inverno;
Sou o fogo do inferno,
Sou o céu a tua espera.

Sou estrelas no escuro,
Penduradas no infinito;
Sou teu riso, sou teu grito,
Pois sou você no futuro.

Eu sou nada nesta vida,
Eu sou apenas momento;
De alguma longa avenida
Sou ferida, sou lamento.

Eu sou poeira solta ao vento,
Sou a paz frágil e esquecida;
No canto do pensamento,
No lado esquerdo da vida.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

VERDADE EM PRETO E BRANCO


VERDADE EM PRETO E BRANCO

A vida me ensinou na sofrer,
Me ensinou a ganhar,
Me ensinou a perder.

A vida me ensinou a sorrir,
Me ensinou a sonhar,
Me ensinou a mentir.

A vida me ensinou a dar pão,
A vida me ensinou a dar pedras,
E ganhar solidão.

No seio da vida dormi,
E na ilusão da certeza,
Com a vida sofri.

A vida me ofertou seus carinhos,
Mas eu vivo tão triste,
Pois eu ando sozinho.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

PORTA MUDA


PORTA MUDA

É muito engraçado,
Parece que você irá bater em minha porta;
Mas estou enganado,
E este engano apenas me conforta.

Parece que você menina,
Vai entrar aqui derepente;
E este desejo me alucina,
Me deixa triste e contente.

Eu sinto a solidão pesar,
Neste quarto tão vazio;
Sinto o teu lindo olhar,
Neste noturno sombrio.

Entre as luzes das estrelas,
Eu vejo você sorrindo;
No céu eu procuro vê-la,
E acho isto tão lindo.

Mas esta porta não dá sinal,
Esta muda e você não vem;
Este sonho é irreal,
E parece que faz bem.

Pouco a pouco a realidade,
Enche esta solidão;
É misturas de saudade,
Com uma falsa ilusão.

 *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

PARABENS PARA MIM


PARABÈNS PARA MIM

Parabéns para mim,
Nesta data querida;
Novo dia que chega,
Nesta vida esquecida.

Parabéns para mim,
Nesta noite macabra;
Sem estrelas, sem luas,
Rua presa num nada.

Parabéns para mim,
Sou no tempo um papiro;
Faraó encantado,
No castelo um vampiro.

Sou duende no bosque,
Sou doente mental;
Sou viciado na droga,
Sou o fruto do mal.

Tenho medo do escuro,
Fico cego na luz;
Sou o rato no esgoto,
Sou o Judas na cruz.

Parabéns para mim,
Pois nasci desta morte;
Sou poeta abstrato,
Sou do fraco a sorte.

Parabéns para mim,
Pois nasci desta morte;
Sou poeta abstrato,
Sou do fraco a sorte.

Mas somente o que basta,
Nesta vida é o fim;
No começo sou tudo,
Parabéns para mim.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986

SÃO FRANCISCO DO SAPATO FURADO


SÃO FRANCISCO DO SAPATO FURADO

Saudades que gotejaram em meu peito,
Anunciando num retumbante strip-tease de melodias,
Ondas o desejo, tédio e melancolia,
Falsas mentiras de um dia herdei de você.

Rompendo, rasgando o teu eu insatisfeito,
Afogando aquele sorriso, aquela ânsia de amar;
Num segundo tudo veio como uma torrente,
Calcificando aquele coração jovem e apaixonado.

Infernizando tudo aquilo que eu queria te dar,
Solidão, beijo, desejo e um coração;
Coração que se agitava como uma serpente,
Orgulhosa que se agitava e queria ficar de pé.

Derepente tudo foge da minha mente,
Orgias, baladas, e uma lâmpada se apaga;
Sobra assim uma tênue luz no fundo,
Ansiando em iluminar o mago de meu ser.

Partindo o cristal de meus olhos:
Agora o que farei se por você vivo a sofrer?
Tudo se confunde em meu pensamento,
Ódio, amarguras, dor e desesperança.

Foi-se a paz,
Um turbilhão de pesadelos ganhei de você,
Regente de um afago que eu perdi;
Amor, sei que tudo é falso,
Doravante tentarei te esquecer,
O que farei? Não sei.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986






FLAGRANTES DE CARNAVAL


FLAGRANTES

Carnaval na Bahia,
Tem mulata e cetim;
Tem aroma e magia,
No vestido carmim.

Carnaval é da massa,
A massa está no carnaval;
Carnaval é cachaça,
Que levanta a moral.

É o lança perfume,
Atirado na estrada;
Vejo a moça pelada,
Que me enche de ciúme.

Carnaval é o fio,
Dental que me agita;
Vejo a moça no cio,
Que sorri e me fita.

E na luz madrugada,
Antevejo esta vida;
Carnaval é calçada,
Desta grande avenida.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

IMORTAL


IMORTAL

Quando durmo tenho sonhos,
Sonhos não tenho se morro;
Nesta lenta caminhada,
Finjo que paro, mas corro.

Na alegria do sorriso,
Estava em minha face nua;
Sorriso cheio de estrelas,
Molhando esta  pele tua.

Quando acordo, a realidade,
Vem louca pra me espiar;
Um mundo novo lá fora,
Já pronto pra conquistar.

Meu sonho e a realidade,
Se fundem num sonho só;
Lenta segue a humanidade,
Inerte ao rumo do pó.

Um pó denso e absorvente,
Alem do novo infinito;
Quando eu morro não esqueço,
Deste teu riso bonito.

Eu não queria acordar,
Deste sonho em ebulição;
Queria ser luz propensa,
Dentro do teu coração.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986

SOL VERMELHO


SOL VERMELHO DE SETEMBRO

Este sol me lembra guelras,
De um peixe voraz a incendiar;
Lembra talvez uma espera,
Na guerra do não voltar.

Se lembra cenas de guerras,
Quase esquecidas no tempo;
Lembra a longa primavera,
E este sol lembra momentos.

Momentos de tantos ciúmes,
Uma paixão violenta;
Lembra um frasco de perfume,
Num jardim de violentas.

Me lembra uma luz encarnada,
Alma num azul bordel;
Num canto de alguma estrada;
Este sol lembra motel.

Lembra os beijos que eu não dei,
Vontade de te amar;
Caminhos por onde andei,
Na ânsia de te encontrar.

 *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

PROTUBERANCIA


PROTUBERÂNCIA

Esta estrada que persegue,
Os ponteiros do relógio;
É um circulo bio-degradante,
Inocências dos dejetos.

Na sucata da avenida,
Verte sangue de uma fonte;
Colorida e indecisa,
Alegria de doar.

Esta estrada é um labirinto,
De cartazes fio dental;
Retumbante é o coração,
Na canção de um pardal.

Com muros altos de historia,
Apagadas na memória;
Sem infância segue a vida,
Futuro computador.

Esta tela é o firmamento,
Do mormaço que ficou;
Retido nesta retina,
O vídeo-tape da dor.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986




AS ESTRELAS


AS ESTRELAS

Giram e rodam que nem eu,
Numa embriagues estranha;
Umas caem num tombar indefinido;
Numa placidez perversa,
Numa mistura de riso ateu.

Retumbam em um grito silencioso que nem eu,
E desaparecem na pequenez do infinito,
Mas eu continuo a rastejar,
Sufocando o próprio grito,
A incerteza de poder brilhar.

Mas elas brilham dentro de um olhar,
Hipnótico que acende bruscamente,
E num ciclo perfeito elas retornam,
Pois são teimosas, eu também parto derepente,
Mas sempre acabo voltando...

Um dia encontrei eu teu olhar,
Dois falsos brilhantes;
Dois pontos de luzes a incendiar,
E lá no alto estavam elas,
Com ciúmes de você...

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986

PINGUIM DE CASACA


PINGUIM DE CASACA

Tu és minha fortaleza encantada,
Eu sou o teu castelo;
Tu és minha dama de espada,
Eu sou o teu sete belo.

Na cruzada sou cruzador,
Eu sou um milhão de cruzados;
Sou o olhar estático de horror,
Num casarão assombrado.

Eu sou o teu cavalo de pau,
Sou teu escudo ilusão;
Sou a flecha do arqueiro mau,
Rasgando teu coração.

Tu és minha dor mental,
Eu sou a tua ressaca;
No fim de algum carnaval,
Sou teu pingüim de casaca.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

PASSAGEM PARA O PARAÍSO


PASSAGEM PARA O PARAÍSO

Eu vi um olhar no céu,
Eu vi o céu num olhar;
Com flores na primavera,
Esperança a estrelar.

Eu vi um sorriso no infinito,
Eu vi o infinito num sorriso;
Eu vi num olhar bonito,
A passagem para o paraíso.

Eu vi o dia trazendo,
Presentes de alguns natais;
Colares e especiarias,
Amores especiais.

Também vi alguma lagrima,
Regando este nosso chão;
Vi a criança correndo,
Andando em busca de pão.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986

CORAÇÃO NAVEGADOR


CORAÇÃO NAVEGADOR

Lagoas dos Patos,
Arroio dos ratos;
Vontade de navegar,
No rio Camaquã,
Lago itapuã,
Saudade de lá voltar.

Mas na pouca idade,
Desta minha cidade,
Pra lá eu nunca voltei;
Feito um triste idiota,
Fui ai rio Pelotas,
Mas lá eu pouco encontrei.

No oceano Atlântico,
Como um rio atômico,
Molhei minhas tolas magoas;
No olhar da lua,
Num canto da rua,
Escassas de poças dágua.

Neste mar de areia,
Sem ter a sereia,
Sou um tridão aflito;
Meu olhos vermelhos,
Choram no espelho,
Saudade de um rio bonito.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

FEITIÇO DE PORTO ALEGRE


FEITIÇO DE PORTO ALEGRE

Porto Alegre me fascina,
Com sua igreja e quartel;
Sou amigo da rendeira,
Da velhinha do pastel.

Porto Alegre me intima,
Com meretrizes bonitas;
Com seu balé obsceno,
Com sua musica esquisita.

Porto Alegre me ilumina,
Um farol de duas luas;
Vejo pratas e estrelas,
No corpo da moça nua.

Porto Alegre me estima,
Com seu riso de criança;
Moleca rua da praia,
Trás na ginga uma esperança.

Porto Alegre me domina,
Feitiços e especiarias;
Vejo luzes, vejo vultos,
Lendas da cavalarias.

*J.L.BORGES
Porto Alegre.1986

TÂNIA


TANIA

Você me deixou tão triste,
Desde o dia em que partiu;
Saudade no meu peito existe,
Saudade rosa que floriu.

Te queria de volta agora,
Somente pra te olhar
Depois eu iria embora,
Teimando em talvez voltar.

Só pra te incendiar novamente,
E beijar tua boca pequena
Te deixando bem contente,
Andando de bem com a vida.

Na hora que você voltar,
Vou fingir que nunca ligo;
Que não noto seu olhar,
A volta deste amor antigo.

Este amor que foi embora,
Que talvez não volta mais;
Saudade eu tenho de outrora,
Saudade eu tenho da paz.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

RIO GRANDE DO SUL


RIO GRANDE DO SUL

Rio grande do sul,
Da chinoca morena;
Do meu Porto alegre,
Camaquã, Ipanema.

Rio grande do sul,
Do Zeca e do bento;
Do peão farroupilha,
No meu pensamento.

Rio grande do sul,
Do frio minuano;
Que beija meu corpo,
Andante e cigano.

Rio grande do sul,
De pampas e baixadas;
Meu fausto Rio grande,
De longas jornadas.

Me perco em teus campos,
Me miro em teu olhar;
Meu Rio grande do sul,
Da chaleira a chiar.

Sou da cuia o chimarrão,
Da erva eu sou o gosto;
Trago no peito o rio grande,
Rio grande do sul no rosto.

Me orgulho deste Rio grande,
Do sul este meu torrão;
Este pago é o que me basta,
Pois sou gaúcho de coração.

 *J.L.BORGES
Gravataí.1986

UM LUGAR DESCONHECIDO


UM LUGAR DESCONHECIDO

Este jeito tão sem graça,
É um jeito que me arrasta,
A mistérios mais profundos;
Uma fonte que não seca,
Uma ponte que não gasta.

Mas o nada, este nada,
É uma dor que já me basta,
Que não nega, que me leva,
A um lugar desconhecido,
Do outro lado do infinito,
Tão querido e tão bonito,
Onde o amor nunca se cansa.

A saudade lá não mora,
Me namora  a esperança
A vontade de correr,
De sorrir feito criança.

Neste jeito tão sem graça,
Este jeito que me arrasta,
A mistérios mais profundos,
Há fonte que não seca...

*J.L.BORGES
Cachoirinha.1986





ADRIANA


ADRIANA

Anjo em forma de mulher,
De musa que vem e inspira,
Restos de uma poesia,
Irreal, exata e fria;
Aguardas alguém que quer,
Nesta hora te beijar,
Agradar tua alegria.

Adriático corpo profundo,
De luz, de água e areia,
Retornas com a lua cheia,
Invulgar de um outro mundo,
Aquecendo meu sorriso,
Numa estranha dimensão,
Arcaica de um paraíso.

Ardente estrela que segue,
Depois que a tarde cai;
Respiras gotas de neve,
Intenso que nunca sai;
Aquarelas de cetim,
Neste universo insensato,
Andante longe de mim.

Anjo Adriático e ardente,
Depois de musa és luz,
Respiras em mim teus versos,
Imensos que me seduz;
Aqueces os beijos que eu peço,
Nesta hora lenta e quente,
Andante que em mim reluz.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

ORAÇÃO DA MANHÃ

ORAÇÃO DA MANHÃ

Obrigado senhor pela manhã,
O amanhã vem chegando aqui;
Santa manhã da liberdade,
Saudade eu já senti.

Obrigado senhor, muito obrigado,
Pois de ti ganhei mais um dia;
Para depositar em meu coração,
E abri-lo com chaves de alegrias.

Aqui estou alegre novamente,
Aspirando o perfume da manhã;
Tudo é paz neste momento,
Sinto que minha alma é sã.

Obrigado senhor pela ventura,
De encontrar a manhã no meu presente;
Obrigado senhor, pois já encontrei,
Sou feliz, eu agora estou contente.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

RAQUEL


RAQUEL

               (ROSA VIOLETA)

Rebelde rosa violeta,
Alvorada de luz e cor,
Quero teus beijos violentos;
Úmidos e sedentos de amor,
Esperança solta ao vento,
Livre neste teu sabor.

Rompante rubro e o beijo,
Ansiedade num sonho ateu,
Quimeras, utopias, tenso desejo;
Umedecendo os olhos meus,
Estrela que sempre vejo,
levando o sorriso teu.

Ruas calçadas e nuas,
Ansiedade de teu olhar,
Querendo tua pele nua;
Uma vontade de amar,
Esta tua boca e a tua,
Língua serpente a flutuar.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986








O AMOR ESTE INCOMPARÁVEL

O AMOR ESTE INCOMPARÁVEL

Todas as estrelas do firmamento,
Não se comparam a seu olhar;
Você é uma estrela cadente,
Que caiu no meu coração.

Nada valerá no universo,
Se eu não ter você;
Quero viajar com você,
Voar rumo ao infinito.

Quero saudar o sol, a lua,
A paz que um dia perdi;
Quero colher milhões de estrelas,
E jogar a seus pés.

Nada se compara a você,
Você é tudo, a saudade, a alegria;
Sabes? Acho que estou te amando,
Pois vivo a sonhar com você.

  *J.L.BORGES
(1986)

VELAS E COMETAS


VELAS E COMETAS

A vela parecia esquecida,
Jogada ao lado da cruz;
De repente tornou-se vida,
De repente tornou-se luz.

Uma luz ultra violeta,
Formada por fragmentos de paixões;
Uma chuva estranha de cometas,
Desfilam alem das constelações.

E a vela jogada ao lado,
Jogada num canto qualquer;
Numa chuva de luzes veio a mulher,
Com seu sorriso estrelado.

A vela tornou-se realidade,
Iluminando meu caminho de ilusão;
Esqueci num instante esta saudade,
Iluminei de esperança a minha solidão.

Mas de repente a vela tornou-se obsoleta,
E a escuridão tomou conta do lugar;
Sumiu no infinito a chuva de cometas,
Um silencio soturno com ela a me incendiar.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

PRIMEIRA DIMENSÃO


PRIMEIRA DIMENSÃO

A complexa eternidade é tão estranha,
A imensidão imparcial do infinito;
A pureza da criança é a paz tamanha,
O brilho de um olhar calmo e bonito.

No tocante da beleza existe a luz,
Das estrelas a brilhar no firmamento;
A saudade é uma dádiva que seduz,
Nos transporta no pais do pensamento.

Todo o dia trás um novo começar,
Um novo motivo para viver;
Caminhando na estrada do saber,
Aprendendo a sorrir e a amar.

A historia sempre tem um bom motivo,
Para ser lida ou ser contada por alguém;
Que tenha na vida o bom sentido,
De perdoar, de amar e querer bem.

O coração é tão simples e complexo,
Imparcial no infinito desta vida;
Cultivado com pureza e com nexo,
Flori mais e mais esta avenida.

Plena avenida do prazer e da consciência,
Ser consciente e ser feliz sem magoar;
Sem manchar esta luz, esta inocência,
A pureza de levitar e de sonhar.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986



A PEDRA DO HOMEM INVISIVEL


A PEDRA DO HOMEM INVISÍVEL

Estar sozinho é uma arte,
Que nem todos conseguem praticar.

Na arte de estar sozinho,
Descobri que a vida é o começo,
A passagem abstrata,
Para um plano maior,
Onde o indivisível é possível,
E o invisível é palpável.

A solidão é a arte de ficar só;
A pedra filosofal que eu nunca vi.

Na concreta melancolia,
Que reina nesta solidão,
Ergui uma parede de concreto,
Para afastar  e separar,
A escuridão da luz.

No universo tudo é possível,
Até o impossível de viver eternamente.

Na união do invisível com o visível,
Eu vejo uma bela imagem,
Brilhando com calma em meu pensamento;
Talvez seja o prenuncio que a calmaria,
Será um prelúdio afável para as almas,
Neste universo maior.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986



QUE BOM QUE ERA


QUÊ BOM QUE ERA

Na minha infância oquê era engraçado,
Noites de chuva, céu estrelado;
Tempo de vento tão esquisito,
A lua nova no infinito.

Na minha infância sabia não,
Se era inverno ou era verão;
De noite frio, de manhã geada,
O sol ardente queimando a estrada.

No fim da curva os bambuzais,
Coruja e sapo, meus animais;
Jogo de cuspe, pedras no rio,
Cavalo e gato, gata no cio.

Naquele tempo a primavera,
Fazia flores por toda a terra;
E no outono tinha a joaninha,
Contos de fada, a carochinha.

Tinha uma igreja cheia de luz,
Cheio de santo, fantasma e cruz;
E a minha escola do bê a bá,
Quanta saudade que ela me dá.

A minha infância não volta mais,
Partiu voando, fiquei pra trás;
Só restou ventos de primavera,
Aquele tempo, que bom que era.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

SETEMBRO ESTÁ VAZIO DIA 7


SETEMBRO ESTÁ VAZIO DIA 7

Soldados armados caminham
Na fina e finita avenida,
Parecem leões;
Crianças e velhos caducos;
Admiram delirantes,
Os gastos galões.

Tambores roucos retumbam,
Na tumba pedindo clemência
Um pouco de paz;
Um mosqueado canhão,,
Troveja e vomita distante
Lamentos que a vida faz.

Soldados fantasiados caminham,,
Mostrando ao povo adormecido
A espada e o fuzil;,
Cantando hinos antigos,
Seguem os amargurados marchando
Ferindo o chão do Brasil.

É triste a rotina,
Com tanques que passam,
Levando a inocência;
Me sento em um bar
Sozinho a saudar
Nossa dependência.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986



RODA DÁGUA

RODA DÁGUA

Águas que vão mas que voltam,
Banhando o mundo magoado;
Trazem do céu a promessa,
De um futuro estrelado.

Águas que vão mas que voltam,
Regando esta terra perdida;
Que não cansa de acolher,
O fruto de uma geração esquecida.

Na maconha e na cocaína naufraguei,
Afundei com o revolver na mão;
Esqueci de captar o sorriso,
O olhar do meu pobre irmão.

Já cansei de me perder nos encontros,
Nos desencontros da longa jornada;
Águas que caem e que curam,
As cicatrizes de uma alma manchada.

Nas lamas do destino me pacifiquei,
Me lavei nesta água que cai;
Escoando no ocaso da vida,
Esquecida que só me retrai.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

POVO NOVO


POVO NOVO

Abaixo as bombas atômicas,
Abaixo as ogivas nucleares;
Em todos os lugares,
Abaixo a febre biônica.

Quero a paz e o sorriso,
Preciso de um mundo sem guerras;
Pra que guerras?E as guelras,
Flutuam em meu paraíso.

Quero encontrar um lugar,
Onde eu não caminhe sozinho;
Com medo do mal daninho,
Quero um lugar pra ficar.

Abaixo o capitalismo,
Cheio de fome e pobreza;
Eu quero no peito a beleza,
Abaixo o comunismo.

A liberdade em mim mora,
Me cativa a esperança;
Meu coração tão criança,
Onde está que não namora?

Vejo gente pedindo paz,
E a paz estancou no mundo novo;
Quero amor para este povo,
Amigo que amor me traz.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

OS LUNÁTICOS


OS LUNÁTICOS

Os lunáticos conspiram contra o cogumelo,
A luz biônica que invade a terra sul;
Desativam a bomba atômica e a nuclear,
Usina escondida alem do ponto azul.

Os lunáticos conspiram, e a sociedade,
Criticam abertamente com os braços cruzados;
Braços pesados que não fazem nada,
E este nada nós é tão errado.

Os lunáticos conspiram e nossos políticos,
Atrás de votos corem como feras;
Prometem tudo, mas não fazem nada,
Pisando forte eles ferem a terra.

Os lunáticos conspiram e os militares,
Desfilam febrilmente em longas filas;
Mostrando orgulhosamente seus lindos galões,
Construindo bases e destruindo vilas.

Os lunáticos conspiram e nossa censura,
Rasga sermões escritos por poetas;
Uma legião de jovens incompreendidos,
Trazendo a sombra a imagem do profeta.

Os lunáticos conspiram e nossa justiça,
Em saga castiga o que julga errado;
Pensando assim acabar com a injustiça,
Pobres lunáticos que são condenados.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986


BOM DIA GOVERNADOR


BOM DIA GOVERNADOR!

Eu devia estar contente,
Mas não estou contente nada;
Trago no peito a sarça ardente,
E o braço todo cheio de picada.

Bebo coca e cheiro coca,
Pra aliviar minha tensão;
Sou um lobo nesta toca,
Minha ninhada é a solidão.

Meu coração está quebrado,
Só por culpa dos não loucos;
Tu és careta, eu sou pirado,
Se me esmurras levas o troco.

Dou um basta para esta vida,
Amanhã, pois hoje não;
Estou luzindo na avenida,
Com olhar de lampião.

Minha estrada em desencontro,
É uma chama sem calor;
Nesta fuga eu te encontro,
Bom dia governador!

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

ANTEVISÃ0


ANTEVISÃO

Alguém te espera na curva,
De um rio sangrento e sem amanhã;
Vejo um raio rasgando o céu,
Sucumbi o Vietnam.

Feras lutam no Iraque,
Se dilaceram no Irã;
Vejo um louco violentando uma virgem,
Falta luz em Camaquã.

No Chile irmãos se matam bruscamente,
No tablado aplaude o ditador;
Na Guatemala um pobre morre,
No Hawai descansa o delator.

A Rússia verseja um riso brando,
Escondendo na Sibéria o seu cinismo;
A Polônia frágil tenta fugir,
Das garras do comunismo.

No ocidente a águia da cabeça branca,
Mancha de desonra o catolicismo;
Em Lãs Vegas um mexicano morre,
Sob a lamina do capitalismo.

São tantos os motivos para o final,
Um começo eterno e incoerente;
As feras se destroem num segundo,
Cristo terá de voltar novamente.

O mundo precisa de flores,
Não de cruzes povoando a terra;
Vejo no alto um clarão,
Anunciando a primavera.

Uma primavera sem futuro,
Sem conhecer o verão;
Antevejo a tempestade,
A seca e a inundação.

* J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986



UM LUGAR CHAMADO ILUSÃO


UM LUGAR CHAMADO ILUSÃO

Um rasgo de lua,
Exita em sair;
Do meu pensamento,
Que está tão sozinho.

Te espero no céu,
Bem junto as estrelas;
No meu coração,
Sedento de beijos.

Mas você não vem,
E eu teimo em esperar;
A noite aparece,
Trazendo sua voz.

Que ouço calado,
Alem da cidade;
Num canto qualquer,
Chamado saudade.

Eu vejo outra vez,
Tua imagem sorrindo;
Pedindo meus beijos,
Depois nada mais.

 *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

TUA IMAGEM


TUA IMAGEM

Teu corpo é nefasto,
Profano e pequeno;
Sorriso tão louco,
No rosto moreno.

Teu corpo de lua,
No céu a brilhar;
Tua pele tão nua,
São algas no mar.

Se miro teu rosto,
Eu vejo uma estrela;
Se queimo teu corpo,
Dá vontade de tê-la.

Aqui na minha cama,
Tão pronta a incendiar;
Queimar nesta chama,
A sede de amar.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

domingo, 26 de novembro de 2017

COMET

COMET

Goes to infinity,

It follows directions I do not know,

Taking a beautiful look,

And a kiss I never gave.

It takes a bit of history,

I miss you already;

Leave a little of your glory,

His face I've never seen.

With time and with much age,

This comet is breaking;

Leaving eternity,

In a voice that does not comment ...

* J.L.BORGES
(1986)

SOLITUDINE

SOLITUDINE

La solitudine è un percorso,

Ad un punto distante;

È un bicchiere di vino

Per sparire in un istante.

La solitudine è una porta,

In attesa di aspettare;

È un dolore che conforta,

È una nuvola fluttuante.

La solitudine è il vuoto,

Spazio aperto;

È un giorno buio,

In un cortile nel deserto.

La solitudine è un bacio,

Mai dato a nessuno;

È un desiderio pazzo,

Ciò eccita ma non arriva.

La solitudine è un intrigo,

Quello non finisce mai;

È un gioco, una lotta,

Sul bordo del molo.

La solitudine è un mezzo,

Perdere senza giocare;

È un gol d'angolo,

Un difensore per fallire.

La solitudine è vergine,

Ingannato, dimenticato;

È una dolce vertigine,

Una passione audace.

... È una notte senza luna,

Una moneta persa;

Dimenticato in una strada

La solitudine è vita ...

* J.L.BORGES
(1986)

SOLIDÃO


SOLIDÃO

Solidão é um caminho,
Para um ponto distante;
É um copo de vinho,
A sumir num instante.

Solidão é uma porta,
Entreaberta a esperar;
É uma dor que conforta,
É uma nuvem a flutuar.

Solidão é o vazio,
Espaço aberto;
É um dia sombrio,
Em um pátio deserto.

Solidão é um beijo,
Nunca dado em ninguém;
É um louco desejo,
Que excita mas não vem.

Solidão é uma intriga,
Que não finda jamais;
É um jogo, uma briga,
Na beira do cais.

Solidão é um meio,
De perder sem jogar;
É um gol de escanteio,
Um zagueiro a falhar.

Solidão é uma virgem,
Iludida, esquecida;
É uma doce vertigem,
Uma paixão atrevida.

... É uma noite sem lua,
Uma moeda perdida;
Esquecida numa rua,
Solidão é a vida...

*J.L.BORGES
Camaquã.1986






TÃO LONGE


TÃO LONGE

Longe...Tão longe,
Alem das nuvens e montes
Eu vejo tuas lagrimas
Molhadas como esta chuva
Que teima cair em meu peito.

Vejo teu sorriso mais alem
Desta estrada que serpenteia
Na profundidade do ser,
Do querer e fazer bem.

Parece que vejo teus cabelos
Nos verdejantes bosques ali em frente.

Me miro no espelho no espelho deste lago,
Que parece ser teus olhos feiticeiros
Prontos a me afogar.

Longe...tão longe
Eu ouço tua voz suave
Na garganta de algum pássaro livre
Gorjeando canções que nunca ouvi.

Sorvo este ar tão puro
Igual tua boca sensual
Sedenta para me beijar.

Como esta saudade dói!
E roí meu coração milenar
Feito um pica-pau amarelo.

As luzes longínquas de uma saudade,
Filmam em meu pensamento tua imagem,
Que está tão longe...

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

A PROSTITUTA E O MARGINAL

A PROSTITUTA E O MARGINAL

Se encontraram de repente,
Numa agreste madrugada;
Entre a foice e o martelo,
Entre a cruz e a espada.

Falaram de seus passados,
De seus escassos presentes;
Da fuga do precipício,
O principio da serpente.

Sorriram pos quase nada,
Cantaram naquele dia;
Testemunha do momento,
Febril de tanta magia.

Eles se amaram na relva,
Macia de um só verão;
Ela uma loba no cio,
Ele um calado leão.

Sem temerem mais o fundo,
Do túnel encontraram  luz;
Encontraram aquela espada,
Cravada ao lado da cruz.

  *J.L.BORGES
(1986)

LITEROMANIA


LITEROMANIA

Nada é mais,
Como antes,
Não leio mais,
Cervantes.

Cansei de ter,
Ilusões;
Não vou ler mais,
Camões.

Ando aqui,
Apaixonado;
Li e re-li,
Jorge Amado.

Meu amor,
Vê se me atura;
Com esta minha,
Literatura.

Nada é mais,
Como era antes;
Não leio Borges,
Nem Dante.

Entre todos,
O quê escolhi;
E este povo,
Que nunca vi.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

TRISTÃO


TRISTÃO

Você nem disse adeus,
E me deixou na solidão;
Sem ver os olhos teus,
Ficarei sempre tristão.

Logo você que dizia,
Que eu era tudo pra você;
Partiu levando minha alegria,
E eu me pergunto, por quê?

Por quê não gostas de mim?
Não sei responder, não sei;
Só sei que a vida é assim,
Nos sonhos que imaginei.

Você nem disse, até a volta,
Partiu nesta escuridão;
Levando minha vida torta,
E eu ficando tristão.

Fiquei tão tristão por ela,
Roendo minha pobre alma;
Debruçado na janela,
Perdendo a paz e a calma.

 *J.L.BORGES
(1986)








TRANSA EM TRANSE


TRANSA EM TRANSE

Estou em estado de choque,
Sou meio paranormal;
Por favor me ilumine,
Com riso débil mental.

Eu transo uma transa em transe,
Neste teu corpo bonito;
Sem querer transmuto,
Quando em teu corpo levito.

Esta droga me droga,
Estando em estado de choque;
Se não encontro tua luz,
Te peço amor, me provoque.

Só curto uma transa em transe,
Contigo meu louco amor;
Tua curtição me envolve,
Num laço cheio de cor.

Estou em estado de choque,
Flutuando rumo a plutão;
Venha amor nesta viagem,
Nesta minha doida tesão.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

TEOREMA DE PITÁGORAS


TEOREMA DE PITÁGORAS

Abusa do som e sol,
Mas não queima a inocência,
Estampada em teu farol;
Lambuja os lábios no beijo,
Cadencia de um desejo,
Pintados na inocência.

Abusa e abra a blusa,
Bronzeia a pele morena,
Pele de uma densa musa;
Muito louca a caminhar,
Sobre a luz morna e serena,
Da freqüência azul do mar.

Nas feras gregas e romanas,
Tu és minha torre de babel,
Fragrância de Bagdá;
Se tu me abusa eu te abuso,
Abro a blusa e provo o mel,
Licor de maracujá.

Neste eterno teorema,
Tenho tua boca pequena,
Com sabor de geografia;
Vem garota de Ipanema,
Estaque a noite e o dia,
E me ensine a cadenciar.

 *J.L,BORGES
(1986)

TENSA E CONFUSA


TENSA E CONFUSA

Tão tensa e tão confusa,
Eu te conheci;
Abri a tua blusa,
Lentamente te despi.

Na chama de meus beijos,
Acendi o teu sorriso;
Brilhante no desejo,
Querendo o paraíso.

Me perdi em teu corpo pequeno,
Pincelados de tantos contornos;
Um corpo terno e obsceno,
Perdido no meu abandono.

Tão tensa e tão confusa,
Um dia te encontrei;
E teu corpo difuso,
De estrelas incendiei.

Sorri no teu sorriso,
Sorvi a tua boca;
O mal que mais preciso,
Numa forma lenta e louca.

E neste jeito louco,
Matei toda a saudade;
Num tempo quente e rouco,
Matei toda a vontade.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

NUM SÓ INSTANTE

NUM SÓ INSTANTE

Num só instante sonhei estar contigo,
Num só instante sonhei amar-te, e mais;
Sonhei estar nos dois no paraíso,
Sentido a vida, o amor e muita paz.

Senti assim o seu olhar ardente,
Bem próximo de meu coração;
Senti você, futura mas presente,
Apaziguando a dor de uma paixão.

Num só instante com você sonhei,
Sentindo então meu peito reclamar,
Será o amor? Incrédulo pensei.

Não sei, nem quero me enganar,
Mas na certeza de algo fiquei;
Num só instante fui me apaixonar.

  *J.L.BORGES
(1980)

SOLIDÃO, SAUDADE E TRISTEZA


SOLIDÃO, SAUDADE E TRISTEZA

Hoje estou sozinho e triste,
Pensando que o amor não mais existe,
Pensando que este sentimento já morreu.

A vida me deixa um pouco triste,
Mais triste que a dor que em mim existe;
Esta dor que em meu peito apareceu.

Você meu amor me deixa triste,
Saudade por você até insiste,
Saudade que meu peito escureceu.

Agora ando amuado,o dedo em riste,
Apontando a solidão que aqui persiste,
Pois teu laço de saudade me envolveu.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986

MUITO LOUCO


MUITO LOUCO

Vou te enrolar,
E deixar a tesão ir embora;
Vou dar um tempo e te apertar,
E fazer amor noutra hora.

Estou na fossa,estou na fossa e não ligo,
De repente tudo fica iluminado;
No fricote de uma música antiga,
Quero curtir ser amado.

Se segura malandra,
Espera eu te dá meu pega;
Mas antes na irada caranga,
Curtir uma musica bem brega.

Vou te enrolar,
E deixar a tesão embora;
Vou te enganar,
Amanhã louco amor, não agora.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

sábado, 25 de novembro de 2017

SOLIDÃO DE ESTAR SOZINHO

SOLIDÃO DE ESTAR SOZINHO

Tenho tanta vontade,
De ficar a teu lado;
Tenho uma vontade nefasta,
De ficar só contigo;
Pois tu me conduz,
A um lugar desconhecido,
Onde a pomba insensata,
Da paz satisfaz.

Na ventura da boca,
Procuro teus olhos,
Uma fonte de luz,
Molha teu sorriso;
Mas a vontade que é forte,
É tão conhecida,
Que a procura a teu lado,
É ineficaz.

  *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986


SETEMBRO NEGRO

SETEMBRO NEGRO

Não me esqueço dos beijos que não dei,
Das palavras que não falei em teu ouvido;
Eu não me esqueço do teu riso tão maluco,
Da tua imagem tão maluca e atrevida.

Oquê será da minha vida sem você,
Sem teu riso e sem teu corpo a me aquecer;
O teu olhar sereno ilumina,
Minha estrada tão vazia sem você.

Eu não queria ficar longe um segundo,
De você, doce amor que me fascina;
Teu sorriso será sempre meu sorriso,
E o teu olhar, um farol que me ilumina.

Andar longe de você eu não suporto,
Não me esqueço de você nenhum momento;
Sem você eu perco o sono e sufoco,
Sem você sou uma folha solta ao vento.

Nos meus sonhos de saudade eu te encontro,
Te procuro e só encontro este ciúme;
Que me envolve de saudade e nostalgia,
Me fazendo levitar neste perfume.

Em todas as coisas eu só vejo a tua imagem,
O teu vulto que flutua na minha mente;
Eu te amo com ansiedade e com loucura,
Minha primavera, minha dor tão eloqüente.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

SE TU NÃO FOSSE BELA

SE TU NÃO FOSSE BELA

Por muito que eu ter adore,
Eu amaria aquela;
Mulher que me provoca,
Se tu não fosse bela.

Se tu não fosse bela,
Talvez não te notasse;
Na rua onde moras,
Sorrisos nesta face.

Imagem que me inspira,
Me dando esta saudade;
Se tu não fosse bela,
Eu não teria esta ansiedade.

Teria outro amor,
Se tu não fosse bela;
Mulher de olhar bonito,
Cantando na janela.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

SAUDADE DE VOCÊ

SAUDADE DE VOCÊ

Hoje eu estou com muita saudade,
Uma vontade de ver você aqui;
Junto comigo, sem pressa ou medo,
Eu estou com saudade de você.

A chuva cai sem pressa,
Mas eu estou com pressa de ter você;
Queria tanto correr com você,
Lá fora, vendo a chuva cair.

Eu não consigo te esquecer um minuto,
O tempo passa mas este amor não passa nunca;
Sinto vontade de beijar sua boca linda,
Eu estou com saudade de você.

A chuva chegou sem avisar,
Você também chegou sem avisar;
Tomando conta deste coração,
Que bate forte quando eu te beijo.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

RAIO AZUL

RÁIO AZUL

Romance antigo que transcende,
Dentro do nosso coração;
Uma paixão fluorescente reacende,
Fazendo levitar nossa ilusão.

Por você estou apaixonado,
Não consigo descrever esta paixão;
Por você estou hipnotizado,
Me enfeiticei com sua voz canção.

Meu sonho é estar a seu lado,
Em completa levitação;
Quero ser seu namorado,
Sua luz na solidão.

Quero acender este romance tão antigo,
Quase esquecido na concreta escuridão;
Quero captar seu olhar amigo,
Num patamar alegre de atenção.

Pois te amo na complexa realidade,
Descoberta na palma da minha mão;
És um amor completo na intensidade,
Um raio azul no meio de um trovão.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

ROMPANTES NOTURNOS

ROMPANTES NOTURNOS

Rompantes rubros de desejo,
Ondulam nestes teus beijos,
Sabor de mel e Ambrósia,
Alimentam os sonhos meus;
Noites insanas de alegria,
Gotejam no corpo,
Estou agora em tua luz,
Andante que de ti reluz.

Rosa em flor e botão,
Onça da noite ilusão,
Serpente que hipnotiza,
Águia de sol que me alisa;
Noturna é tua linda voz,
Gorjeando uma canção;
Estranha voz que me convida,
Levita em mim como um falcão,
Abrasador que ameniza...

               *J.L.BORGES
                Gravatai.1986

DOIS CORAÇÕES*

PORTO ALEGRE MADRUGADA*

TU ES MINHA FELICIDADE*

SUPLICA*

POR QUÊ AMOR*

PAGINA VAZIA*

MOMENTOS*

PAGINA VAZIA*

CAMINHADA*

ALMA GEMEA*

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

TODO MUNDO MENOS EU

TODO MUNDO MENOS EU

Todo mundo fala de amor,
De sol, de céu e de mar;
Todo mundo fala em sonhar,
Todo mundo, menos eu.

Todo mundo ri e canta,
No encanto do seu sorriso.
Pensando no paraíso,
Todo mundo, menos eu.

Todo mundo vive a querer,
O amor e sentir saudade;
Procuram a realidade,
Todo mundo, menos eu.

Todo mundo fala de paz,
E verdade, e quem não chora;
Quem não pede, não implora?
Todo mundo, menos eu.

Todo mundo diz ser sincero,
Vive a vida em ansiedade;
De viver só a verdade,
Todo mundo, menos eu.

 *J.L.BORGES
(1980)

AGUIA EM REPOUSO

ÁGUIA EM REPOUSO

Nesta forma sincopada,
Esta vida me retrai;
Teu cheiro de terra lavada,
Me enfeitiça e me atrai.

Vem morena me prender,
Neste começo sem fim;
Vem fazer o sol nascer,
Sambando perto de mim.

Teu cheiro de águia no cio,
Tem o aroma do lança perfume;
Sou falcão em desafio,
Na montanha do meu ciúme.

Vem morena e me abusa,
Com teu riso e tua luz;
Tira a saia e abra a blusa,
E ao pecado me conduz.

És minha fragrância em repouso,
Minha bomba em impulsão;
Esta nave, este pouso,
Dentro do meu coração.

Nesta forma sincopada,
Me perdi no teu começo;
Respiro na madrugada,
Teu amor que não tem preço.

Só porque te amo espero,
Teu sorriso em teu olhar;
No teu corpo eu só quero,
Me perder pra repousar.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

PROCURO-TE DESESPERADAMENTE

PROCURO-TE DESESPERADAMENTE

Procuro-te desesperadamente,
Na solidão do meu quarto;
Nos movimentos das ruas,
No andar desta gente.

Procuro-te e não te encontro,
Já nem sei mais se te quero;
Mas nas noites eu te espero,
Saio sempre a tua procura.

Sei que tu não estas tlonge,
Mas tens medo de aparecer;
Será medo dos meus beijos,
Beijos que tu queres ter?

Eu não sei, só te procuro,
Quero tanto te encontrar;
Sei que tu estas distante,
Não consigo te encontrar.

Quero tua imagem,
Por toda a eternidade;
Eu preciso de tua luz,
Que me dá tanta saudade.

J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

PAZ ESPECIAL

PAZ ESPECIAL

Queria cheirar a gasolina,
Te tontear na paz do meu prazer;
Cheirar coca, a heroína,
Tentar não te esquecer.

Quero cheirar a sexo explicito,
Alguma droga envolvente;
Os teus afagos tão solícitos,
Esta tua boca, minha aguardente.

Quero cheirar a hortelã,
Alguma droga imortal;
Pra te dopar toda a manhã,
Nesta minha tara especial.

Quero cheirar a aventura,
Orgias de mil bacanais;
Quero ficar a tua procura,
E liberar assim meus animais.

Quero cheirar a água de cheiro,
Só pra tua língua me encontrar;
Te levitar e o corpo inteiro,
Ser o meu mar a balançar.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

PARE DE SONHAR

PARE DE SONHAR

Pare de sonhar sem ter sentido,
E acorde para a realidade;
Mais vale ter no peito um amigo,
Do que um amor corroído de saudade.

A ferrugem tomou conta de teu peito,
É preciso colocar um fer li com;
Para purificar teu riso imperfeito,
E deixar no teu rosto um riso bom.

Eu talvez fosse um anti corrosivo,
Para polir a alma;
Ser o teu amor jovem e atrevido,
Ser o teu farol, a tua calma.

Pare de sonhar, vê se te toca,
Pois a felicidade está ai pra ser colhida;
Eu serei a felicidade que conforta,
Te farei ficar de bem com a vida.

Pois precisas de alguém sempre contigo,
E este alguém sou eu que te quero;
Pare de sonhar sem ter sentido,
E venhas amor, eu te espero.

  *J.L.BORGES
Gravatai.1986

PERIGO


PERIGO

Raios ultravioletas,
Crepitam no fundo do teu olhar;
Sinto derepente uma vontade violenta,
De te amar, de te violentar.

Entre nuvens de gazes e o meteoro,
Viajante passa aqui provocando;
Fazendo amor artificial eu te devoro,
No desejo sexual que estas sonhando.

Não precisas viajar alem da lua,
Para fazeres amor comigo;
Basta estares aqui e ficares nua,
Para sentires o prazer e o perigo.

O perigo de ficar sempre comigo,
Na ânsia e na espera de me amar;
E isto amor será nosso castigo,
Pois eu sei que jamais vou te deixar.

*J.L.BORGES
Gravatai1986

DEREPENTE, NO ÚLTIMO VERÃO


DEREPENTE, NO ÚLTIMO VERÃO.

Derepente, no último verão,
Encontrei você;
Derepente te amei,
Mais de vinte vezes.

Te encontrei meu amor,
E te amei no verão;
Me atirei de cabeça no poço,
Descobri como ele era fundo.

Mas te amei de verdade, amor,
Descobri num instante esta paixão;
Derepente fiquei escravo,
Desse seu olhar cor da noite.

Prisioneiro fiquei do sorriso,
Da voz canção de você;
Fostes a serei que se apossou,
Do meu coração, da minha alma e calma.

Mas agora vou fugir de você,
Seu olhar me feria e matava;
Sua voz foi conforto, é confronto,
Seu sorriso era ópio ao olhar.

 *J.L.BORGES
Camaquã.1986

PARALEPÍPEDO NO SAPATO


PARALEPÍPEDO NO SAPATO

Procuro alguém sem rumo,
Definido nesta avenida;
Alguém que caminha a meu lado,
Nesta estrada agreste e colorida.

Todos os caminhos são iguais,
Nesta caminhada sem rumo algum;
Todos os atalhos é que me levam,
A lugar nenhum.

As luzes apagam-se derepente,
Entre as sombras de uma lua tão vazia;
Este lugar que me cerca apavora,
Avisto ao longe tua imagem arisca e fria.

Ando na avenida por andar,
Sem saber o que fazer procuro em vão;
O seu riso e o seu afago me interessa,
Esta musica dentro da minha solidão.

Será você a mulher que eu procuro,
Para preencher meu viver tão abstrato;
Será você mais uma pedra,
Dentro deste meu sapato?

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986

PAIXÃO E CIUME


PAIXÃO E CIÚME

Paixão e ciúme,
Singelo e sem graça;
Por mim você passa,
Deixando o perfume.

Deixando a vontade,
Estampada no olhar;
Uma luz a brilhar,
Nascendo a saudade.

Paixão tão calada,
Ferindo meu peito;
De amor imperfeito,
Da alma lavada.

Me sinto tão triste,
Com vontade de vê-la;
Se olho uma estrela,
A saudade insiste.

Paixão e ciúme,
Povoam esta rua;
Escassa de lua,
De luz e perfume.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

OUTRA VEZ


OUTRA VEZ

Por Deus, como eu te amo,
Não consigo descrever este sentimento;
Cada vez que te olho quase morro,
Não quero morrer neste momento.

Eu não consigo estar longe de você,
Não consigo dormir nesta cama vazia;
Nas noites de insônia é só você,
Que vem para trazer esta alegria.

Como é bom amar como eu te amo,
É um amor que não consigo descrever;
Uma mistura de luz, raio e solidão,
É um inverno, um inferno a me prender.

Todas as coisas que eu faço,
É só a você que eu consigo dedicar;
Você é uma mistura de anjo e de demônio,
Que conseguiu outra vez me enfeitiçar.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

OUTRA ROSA QUE NASCE


OUTRA ROSA QUE NASCE

Caminhos e faces,
De uma ilusão;
Rosa que nasce,
No coração.

Floresce viçosa,
Cheia de vida;
Ânsia dengosa,
Que fica perdida.

Doce ironia,
De um velho sonho;
Noites vazias,
Dias tristonhos.

E assim vai passando,
A vida que passa;
Te fico esperando,
Envolto em fumaça.

Querendo viajar,
Neste teu corpo;
Vivendo a ansiar,
O teu conforto.

Sorvendo o perfume,
Temendo os espinhos;
Vivendo de um ciúme,
E te dando carinhos.

Vida profana,
Que não peço a Deus;
Pois sou quem te ama,
E quer ser só teu.

Conversas em um bar,
Melodramas e prosas;
Eu a sonhar,
Pois nasceu outra rosa.

 *J.L.BORGES
Gravatai.1986

A ONCINHA PINTADA


ONCINHA PINTADA

A oncinha pintada e seu beijo certeiro,
Acertou em cheio meu coração;
Sua boca lavada e seu riso ligeiro,
É meu doce recheio de mel e canção.

A oncinha pintada e seu leve rosnar,
Me embala num sonho de amor permanente;
Nas noites estreladas seu belo olhar,
Me acorda do sono pra sentir o presente.

Só agora que eu vivo este amor verdadeiro,
Cercado com os beijos da minha rainha;
Meu amor é cativo, altivo e inteiro,
Na fragrância e desejo que vem da oncinha.

Sou calçado na caça deste louco amor,
Que vem da oncinha e entra em meu peito;
Sou laçado e laço, pois sou caçador,
Esperança que aninha neste corpo perfeito.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

O CONDÃO E O PUNHAL


O CONDÃO E O PUNHAL

Te sinto tão sozinha dentro de mim,
Consigo te beijar na solidão;
Me mancho e me desmancho neste amor,
Desejo que vem do coração.

Se sinto estes beijos não me acho,
Me perco estando longe de você;
Fragrâncias e espinhos que me destes,
Vontade de estar só com você.

Te quero cada vez estando longe,
Se estou perto sinto a tua solidão;
Misturas de palavras mal faladas,
Contadas entre o sonho e a ilusão.

És tudo que não fiz  e que farei,
Estranha sempre pronta a me buscar;
Tamanho amor é este que não peço,
Sem nexo e este  tédio a me embriagar.

Te sinto na ventura deste corpo,
Nas noites que te tenho sem dormir;
Minha fada, és minha bruxa encantada,
Teu condão é um punhal sempre a ferir.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

NUNCA MAIS NÃO EXISTE


NUNCA MAIS NÃO EXISTE

Novamente tua boca vermelha me tocou,
Novamente senti teu sorriso junto ao meu;
Novamente tua língua me iluminou,
Na fragrância deste beijo que me deu.

Novamente abracei teu corpo amigo,
Novamente teus cabelos acariciei;
Novamente transformei-me em teu cativo,
Em teu marujo nestes mares que sonhei.

Novamente ouvi tua voz que hipnotiza,
Novamente o teu olhar que me ilumina;
Novamente o teu abraço que me alisa,
Este teu corpo que me transforma e me fascina.

Novamente imaginei-me teu amado,
Novamente percebi que estava triste;
Novamente descobri que estava errado,
Pois nunca mais eu sei que não existe.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

NUM INSTANTE


NUM INSTANTE

Tuas curvas lembram medusas,
Ariscas, leves e confusas,
Sereia nua ao luar.
Derepente abro tua blusa,
Branca, suave e difusa,
Vontade de te beijar.

Beijar teus lábios, tua boca,
Numa forma lenta e louca,
Vontade de navegar,
Neste teu corpo sedento,
Gaivota solta ao vento;
Vontade de te encontrar.

Numa quieta madrugada,
Tu em meus braços amparada,
Lentamente a caminhar;
Tuas curvas lembram lençóis,
Molhados, lembram faróis,
Num instante a iluminar.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986


NOSSO AMOR NASCEU ASSIM


NOSSO AMOR NASCEU ASSIM

Nosso amor nasceu derepente,
Como um sol de verão;
Dando um sentido pra vida,
Acalmando o coração.

Tornou-se um amor quieto,
Um vulcão pronto a explodir;
Pois sou fogo e tu és fogo,
Uma luz sempre a seguir.

Andaremos por caminhos,
Nunca antes navegado;
Eu nos teus braços querida,
Tu nos meus braços amparada.

Estarás sempre a meu lado,
Onde eu for te levarei;
Não se esqueça que eu te amo,
Nem dos beijos que te dei.

Podes vir amor, sem medo,
É tão linda está estrada;
Quero beijar teu sorriso,
Tua boca leve e estrelada.

*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

NO SILENCIO DA NOITE


NO SILENCIO DA NOITE

No silencio da noite,
Todas as luas são iguais;
Todas as ruas são escuras,
Todas as procuras são banais.

No silencio da noite,
As estrelas sussurram uma canção;
Que explodem dentro de meu peito,
Na boca desta multidão.

No silencio da noite,
A miragem de uma estrela me tonteia;
Cadente imagem de uma luz que vem do céu,
Seu sorriso, seu olhar que em mim passeia.

No silencio da noite,
Esta solidão é uma paz tamanha;
Uma montanha, um abismo, um labirinto,
A complexa ilusão me é tão estranha.

No silencio da noite,
Sinto a falta de seus beijos, seus carinhos;
Na solidão eterna desta noite,
O sono não vem, e eu caminho.

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

NENEM


NENEM

As vezes me sinto,
Uma criança mimada;
De fralda molhada,
Com mel e absinto.

Se choro acordado,
Tu vens me ninar;
Fazendo eu molhar,
Teu corpo molhado.

Me pões de castigo,
Pra eu te beijar;
Depois flutuar,
Em teu corpo atrevido.

Eu sou bom menino,
Não tenho malicia;
Mas nestas caricias,
Eu perco o tino.

Depois só me acho,
No liso teu corpo;
De voz e conforto,
Tesão e mormaço.

 *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

NECESSIDADE


NECESSIDADE

Eu preciso dê alguém,
Que me dê sua atenção;
Que me dê os seus carinhos,
Que me dê seu coração.

Eu não quero estar sozinho,
Cercado por este tédio;
Eu preciso de alguém,
Para ser o meu remédio.

Eu preciso daqueles beijos,
Que vieram da tua boca,
Como uma leve serpente.

Eu preciso e desejo,
O teu corpo molhado,
Este corpo ardente.

 *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

NA PENUMBRA


NA PENUMBRA

Se molho teus lábios,
Na penumbra do corpo;
Me dá solidão,
Tonteia e sufoco.

Se beijo tua boca,
Eu sinto o conhaque;
Se sorvo tuas curvas,
Eu tenho um ataque.

Ataque de asma,
Ataque de riso;
Que entra em meu peito,
Me dá tédio e calma.

Tu és minha insônia,
Do fundo da alma;
Um amor imperfeito,
Que tanto preciso.

Preciso demais,
Deste corpo fecundo;
Deste amor do outro mundo,
Que me enche de estrelas.

Dá vontade de tê-la,
No meu corredor;
De luz apagada,
Vontade de vê-la.

 *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986

DONNA CHE PASSA NEL VENTO

DONNA CHE PASSA NEL VENTO

Donna che passa nel vento,

Lasciare qualcosa di libero nel vento;

Qualche affetto, un momento,

O il profumo della nostalgia.

Porta con te quello che vuoi,

Lascia il vento della solitudine;

Porta con sé l'illusione,

Lascia la tristezza

Donna che passa nel vento,

Lasciando dietro la sua immagine;

Questo è confuso con il paesaggio,

Metallo verde di un'attesa fredda.

Prende l'orizzonte bloccato negli occhi,

Da qualcuno così triste;

Qualcuno da solo che non può resistere

Continua a sognare

* J.L.BORGES

WOMAN PASSING ON WIND

WOMAN PASSING ON WIND

Woman passing in the wind,

Leaving something loose in the wind;

Some affection, some moment,

Or the fragrance of nostalgia.

Take with you what you want,

Leaves the wind of solitude;

It carries with it the illusion,

Leave the sadness.

Woman passing in the wind,

Leaving behind his image;

That is confused with the landscape,

Green metal of a cold wait.

It takes the horizon stuck in the eye,

From someone so sad;

Someone alone who can not resist

Keep dreaming

* J.L.BORGES

MUJER QUE PASA EM EL VIENTO

MUJER QUE PASA EN LA VENTANIA

La mujer que pasa en el viento,
Dejando algo suelto al viento;
Un poco de cariño, algún momento,
O la fragancia de la nostalgia.

Se lleva consigo lo que desea,
Deja el viento de la soledad;
En este sentido,
Deja la tristeza.

La mujer que pasa en el viento,
Dejando atrás su imagen;
Que se confunde con el paisaje,
Verde metal de una espera fría.

En este sentido,
De alguien tan triste;
Alguien solo que no resiste
Se queda soñando ...

* J.L.BORGES

MULHER QUE PASSA NA VENTANIA


MULHER QUE PASSA NA VENTANIA

Mulher que passa na ventania,
Deixando algo solto ao vento;
Algum carinho, algum momento,
Ou a fragrância da nostalgia.

Leva consigo o que deseja,
Deixa o vento da solidão;
Leva consigo a ilusão,
Deixa a tristeza.

Mulher que passa na ventania,
Deixando atrás a sua imagem;
Que se confunde com a paisagem,
Verde metal de uma espera fria.

Leva o horizonte preso no olhar,
De alguém tão triste;
Alguém sozinho que não resiste
Fica a sonhar...

*J.L.BORGES
Gravatai.1986

MORENA


MORENA

Teu corpo é profano,
Sedento e moreno;
No azul oceano,
Carente e obsceno.

Se bates à porta,
Fico alucinado;
Pois teu riso conforta,
De um jeito gozado.

Se estas na calçada,
Me lanço à teu encalço;
De mãos na estrada,
De esquina e despacho.

Eu vivo sofrendo,
Se estas distante;
Te amando e querendo,
Bem mais do que antes.

Ninguém me segura,
Quando ando contigo;
Na tua procura,
Eu sou o perigo.

Pois sou caçador,
Sou fera, sou caça;
No jogo do amor,
Eu sorvo esta taça.

Teu corpo é profundo,
Profano e pequeno;
Suor oriundo,
De um mundo moreno.

 *J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986