CARETAS DA SOLIDÂO
Um cigarro após um outro cigarro,
Vendo anúncios indecentes na televisão,
Bebendo hi-fi só por beber,
Escondendo-me da nefasta ilusão.
O cinzeiro cheio de tocos de cigarros,
E a porta muda, a porta que não abre,
Porque sei que você não virá,
Para acalmar minha vida sem você.
Sinto frio no meio deste verão,
A tortura destas magoas não me acalmam;
Dá vontade de sair rua afora,
Sem temer a noite que escorre lá fora.
Quero falar, mas não consigo,
Pois não tenho com ninguém o que falar;
Sinto o riso nas revistas que não leio,
Nos anúncios confiscados de censura.
De repente a minha frente os camaradas,
Cheirando coca adormecida sobre o prato;
O prato bronze destas magoas sufocadas,
Este medo de ficar aqui sozinho.
De repente a minha frente os camaradas,
Fumando maconha disfarçada em Holliwood;
E a coca se mistura na fumaça,
Da maconha, da cegonha e da cachaça.
E eles vão embora de repente,
Ouço o ruído de suas motos lá fora,
Roncando que nem panteras negras no cio,
E eu fico vendo desenhos animados.
*J.L.BORGES
Gravatai.1987
Nenhum comentário:
Postar um comentário