quarta-feira, 23 de maio de 2018

APICALIPSE

PORTO ALEGRE, AGOSTO DE 1989.

APOCALIPSE

Sou a lanterna que apaga,

Dentro de um navio a pique;

Sou o marujo que naufraga,

Antes de chegar o sol.

Sem camisa sou criança,

Que sorri e que transcende;

Nesta densa tempestade,

Sou a luz que sempre acende.

De verdade sou a cruz,

Ferindo um olhar aflito;

Da estrela vagabunda,

Paralela do infinito.

Sou do defunto a mortalha,

Do viciado sou a droga;

Da justiça sou a falha,

A saudade que invade.

Sou a cabana que incendeia,

Bem alem do meu trovão;

Do agosto a lua cheia,

Bem pertinho da ilusão.

Sou algum grão de areia,

Perdido em longos desertos;

Estando longe ou perto,

Sou luar do meu sertão.

Mas nas lutas que eu travo,

Nesta guerra sou a paz;

Sou o amor que sempre gravo,

Este amor que tu me trás.

                         *J.L.BORGES

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