PORTO ALEGRE, AGOSTO DE 1989.
APOCALIPSE
Sou a lanterna que apaga,
Dentro de um navio a pique;
Sou o marujo que naufraga,
Antes de chegar o sol.
Sem camisa sou criança,
Que sorri e que transcende;
Nesta densa tempestade,
Sou a luz que sempre acende.
De verdade sou a cruz,
Ferindo um olhar aflito;
Da estrela vagabunda,
Paralela do infinito.
Sou do defunto a mortalha,
Do viciado sou a droga;
Da justiça sou a falha,
A saudade que invade.
Sou a cabana que incendeia,
Bem alem do meu trovão;
Do agosto a lua cheia,
Bem pertinho da ilusão.
Sou algum grão de areia,
Perdido em longos desertos;
Estando longe ou perto,
Sou luar do meu sertão.
Mas nas lutas que eu travo,
Nesta guerra sou a paz;
Sou o amor que sempre gravo,
Este amor que tu me trás.
*J.L.BORGES
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