sexta-feira, 25 de maio de 2018

GATO PRETONO ESCURO

GATO PRETO NO ESCURO

No segmento imortal da noite fria,

Um ponto negro funde-se com a escuridão;

Um raio tremulante me espia,

Transformando a placidez em comoção.

Entre a pintura de uma tela aparece,

As partículas de uma estética melodia;

Na fuligem do tempo que floresce,

Um rato em fuga e um gato mia.

Na longínqua lassidão surge escarlate,

Uma estrela da manhã veloz e fria;

Um gato em fuga, um cão que late,

Para a lua arisca, impávida e vadia.

Um bêbedo vestido de luto,

Cambaleia sobre os sulcos da estrada;

Uma voz metálica mal escuto,

Na tentação de captar a madrugada.

E o sono vem, surgindo devagar,

Transformando estes motivos em faustos sonhos;

Levo a rato, leva o gato a arranhar,

O vagabundo a cambalear lento e tristonho.

 *J.L.BORGES

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