GATO PRETO NO ESCURO
No segmento imortal da noite fria,
Um ponto negro funde-se com a escuridão;
Um raio tremulante me espia,
Transformando a placidez em comoção.
Entre a pintura de uma tela aparece,
As partículas de uma estética melodia;
Na fuligem do tempo que floresce,
Um rato em fuga e um gato mia.
Na longínqua lassidão surge escarlate,
Uma estrela da manhã veloz e fria;
Um gato em fuga, um cão que late,
Para a lua arisca, impávida e vadia.
Um bêbedo vestido de luto,
Cambaleia sobre os sulcos da estrada;
Uma voz metálica mal escuto,
Na tentação de captar a madrugada.
E o sono vem, surgindo devagar,
Transformando estes motivos em faustos sonhos;
Levo a rato, leva o gato a arranhar,
O vagabundo a cambalear lento e tristonho.
*J.L.BORGES
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