NOCTURNO
A lua dorme
Envolta
Em lençóis de estrelas,
O grilo canta
Uma canção
Triste e melosa.
A lua esguia
Solitária e prosa
A um vulto espia
Do outro lado
Da cidade.
O gato mia
E o cão ladra
Para a lua
Enquanto nuvens
Choram prantos
De saudade.
Por quê elas choram?
Eu não sei
E ninguém sabe,
Talvez por alguém
Que partiu
Deixou saudades.
Um vagabundo
Cambaleante
Em loucos sonhos
Flutua
A madrugada
Na imensidão
Chega lenta e atrevida
Da longa rua.
E a noite
O seu trajar
Que já descansa
Luto-mosqueado
Boceja despercebida.
Traz lembranças
O orvalho úmido
De alguma tarde
Beija praças
De ternura.
Vidraças e avenidas,
Enquanto a janela
Do amanhã
Da sua graça.
*J.L.BORGES.
2004
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