quarta-feira, 23 de maio de 2018

MEU RETRATO

MEU RETRATO

Esta fotografia na parede,

Parece até zombar de mim;

Esta gravura é assim,

Um naco de saudade,

Um peixe preso a rede,

Mostrando algum caminho,

Estranho e indefinido,

Onde o tempo não tem fim.

Os cacos de meus sonhos,

Também desses meus medos,

Gravaram em minha memória,

Um pranto e um ponto,

Serão virgulas, crases?

Uma cruz ou um faz de conta,

Que narra uma estória,

Pedaços de um segredo?

Eu vejo um serio rosto,

Nesta fotografia,

Mirando este passado,

Que teima em não sair;

Suspiros de saudade,

Em vão tentam ferir,

Minha alma mal lavada,

Que quer de mim fugir.

Assim um pouco ébrio,

Começo a sentir,

Que aquilo que ganhamos,

É apenas nostalgia,

São flores do passado,

A colorir os dias,

Que passo a seu lado,

Fingindo alegrias.

Eu vejo neste quadro,

O meu semblante triste,

Pois tudo aqui passou,

Estou preso em meu presente,

Que nunca mais me dá,

Nem mesmo esta semente,

Assim percebo e vejo,

Que a tristeza existe.

Então fecho as cortinas,

Não olho meu retrato,

Sou louco e sonhador,

Pareço estar sozinho,

Mas sozinho não estou,

O amor que garimpei,

Está aqui de fato.

*J.L.BORGES

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