RISOS DA HIENA
Eu sou o flagelo de Deus,
Na ira que te possui e te alimenta,
A peste que devastou o oriente,
Espiando atrás da porta.
Eu sou a pena de morte,
No martelo implacável do juiz;
A balança adulterada da justiça,
Na face obscura dos telejornais.
Na abundancia sou tua fome,
O verme que ataca a lavoura,
Sou a semente estéril,
Jogada no seio da terra.
Sou a peste mortal nas favelas,
O rato do esgoto a revirar,
Os esgotos da sociedade,
Chagas e lixos desta poluição.
Eu sou o cancro em ferida,
No céu teu fogo do inferno;
Sou o podre do ovo choco,
A parte bichada da maçã.
Na miséria dos aposentados,
Numa vida de trabalho por nada;
Eu sou as portas fechadas,
Das escolas e hospitais.
Eu sou a droga no fraco,
Eu sou espinhos no chão;
Sou a pedra em teu sapato,
Sou a boca que te escarra.
Eu sou a mão inimiga,
Apertando outra mão;
Sou a ira do carrasco,
O sangue inundando a navalha.
Sou o riso da hiena,
O prenuncio da tragédia;
Eu te humilho, eu te afago,
Depois te firo e te mato.
Sou o velho indigente,
A criança descamisada;
Sem sonhos e sem futuro,
Sou a luz negra da morte.
Igual um vil salteador,
Sigo matando e roubando;
Sem vergonha na cara,
Mas temendo me olhar no espelho.
Minha imagem expressa nos jornais,
É apenas ilusionismo opaco e sem luz;
Reflexo do riso da hiena,
Comedora de estrume e nada mais.
*J.L.BORGES
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