quarta-feira, 18 de julho de 2018

O RISO DA HIENA

RISOS DA HIENA

Eu sou o flagelo de Deus,

Na ira que te possui e te alimenta,

A peste que devastou o oriente,

Espiando atrás da porta.

Eu sou a pena de morte,

No martelo implacável do juiz;

A balança adulterada da justiça,

Na face obscura dos telejornais.

Na abundancia sou tua fome,

O verme que ataca a lavoura,

Sou a semente estéril,

Jogada no seio da terra.

Sou a peste mortal nas favelas,

O rato do esgoto a revirar,

Os esgotos da sociedade,

Chagas e lixos desta poluição.

Eu sou o cancro em ferida,

No céu teu fogo do inferno;

Sou o podre do ovo choco,

A parte bichada da maçã.

Na miséria dos aposentados,

Numa vida de trabalho por nada;

Eu sou as portas fechadas,

Das escolas e hospitais.

Eu sou a droga no fraco,

Eu sou espinhos no chão;

Sou a pedra em teu sapato,

Sou a boca que te escarra.

Eu sou a mão inimiga,

Apertando outra mão;

Sou a ira do carrasco,

O sangue inundando a navalha.

Sou o riso da hiena,

O prenuncio da tragédia;

Eu te humilho, eu te afago,

Depois te firo e te mato.

Sou o velho indigente,

A criança descamisada;

Sem sonhos e sem futuro,

Sou a luz negra da morte.

Igual um vil salteador,

Sigo matando e roubando;

Sem vergonha na cara,

Mas temendo me olhar no espelho.

Minha imagem expressa nos jornais,

É apenas ilusionismo opaco e sem luz;

Reflexo do riso da hiena,

Comedora de estrume e nada mais.

                                           
*J.L.BORGES

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