quarta-feira, 2 de maio de 2018

A ESTRADA

                    A ESTRADA

                  (...) Uma discussão sem motivo algum, explodi, implodi; disse tudo que estava engasgado em minha garganta, preso no dentro do meu peito e, sem dar adeus e nem olhar para trás rumei na direção daquela estrada que sempre me convidava a partir.
                  Levei nesta viagem rumo ao desconhecido apenas uma velha mala com poucas roupas, um livro desbotado, um disco de amor já gasto pelo tempo e recheios de sonhos não realizados.
                  Caminhei... Caminhei e, esta estrada me envolvendo, me absorvendo, me absolvendo, adormecia a luz das estrelas e acordava ao som de melodias vespertinas; encontrei neste caminho tantos pássaros, ouvi passos de pessoas estranhas num vai e vem não sei pra onde; senti e me envolvi em tantas cores, tantas flores que nunca conheci e, a estrada me chamando... Chamando-me...
                  Senti frio, senti sede, passei fome no caminho, alimentando-me de néctar de sonhos e saciando-me com gotas de orvalho, tendo como companhia  sonhos e saudades.
                  A jornada tão distante nem sinal de terminar,
Subi montes e ladeiras, quase morri de cansaço, tropecei nas vicissitudes abismais desta jornada, quase rolei por ai, o tempo foi passando, a estrada me encolhendo,me escolhendo, me envolvendo, me enlaçando em seus braços matriarcais.
                  De repente lá no fundo da existência, uma casinha, cerca brancas e um jardim, rosas vermelhas, um pé de laranjeira e um sabiá; vejo então no portão amarelado, a mulher dos meus sonhos cotidiano, me acenando; então corro a seu encontro.
                  Quando dou por mim e que percebo que aquela estrada era o presente me levando ao encontro da mulher, a mulher que mais amei em minha vida.
                                                                                           *J.L.BORGES

 

 



Nenhum comentário:

Postar um comentário