A ESTRADA
(...) Uma discussão sem motivo algum, explodi, implodi; disse tudo que estava engasgado em minha garganta, preso no dentro do meu peito e, sem dar adeus e nem olhar para trás rumei na direção daquela estrada que sempre me convidava a partir.
Levei nesta viagem rumo ao desconhecido apenas uma velha mala com poucas roupas, um livro desbotado, um disco de amor já gasto pelo tempo e recheios de sonhos não realizados.
Caminhei... Caminhei e, esta estrada me envolvendo, me absorvendo, me absolvendo, adormecia a luz das estrelas e acordava ao som de melodias vespertinas; encontrei neste caminho tantos pássaros, ouvi passos de pessoas estranhas num vai e vem não sei pra onde; senti e me envolvi em tantas cores, tantas flores que nunca conheci e, a estrada me chamando... Chamando-me...
Senti frio, senti sede, passei fome no caminho, alimentando-me de néctar de sonhos e saciando-me com gotas de orvalho, tendo como companhia sonhos e saudades.
A jornada tão distante nem sinal de terminar,
Subi montes e ladeiras, quase morri de cansaço, tropecei nas vicissitudes abismais desta jornada, quase rolei por ai, o tempo foi passando, a estrada me encolhendo,me escolhendo, me envolvendo, me enlaçando em seus braços matriarcais.
De repente lá no fundo da existência, uma casinha, cerca brancas e um jardim, rosas vermelhas, um pé de laranjeira e um sabiá; vejo então no portão amarelado, a mulher dos meus sonhos cotidiano, me acenando; então corro a seu encontro.
Quando dou por mim e que percebo que aquela estrada era o presente me levando ao encontro da mulher, a mulher que mais amei em minha vida.
*J.L.BORGES
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