DESGARRADO
Eu larguei da cachaça,
Pra mudar de lugar;
Pra poder caminhar,
Cambalear numa praça.
Eu larguei da maconha,
Pra poder respirar;
E depois me chapar,
Nesta minha vergonha.
Eu larguei do bordel,
Pra poder me encontrar;
Numa mecha de ar,
No quintal de um quartel.
Eu sai da prisão,
Desgarrado a andar;
Como a luz do luar,
Como um raio e trovão.
Já não fui tão perfeito,
Escondido do vicio;
Deste meu sacrifício,
Imortal e direito.
Eu só sou como sou,
Mas você me deseja;
Nesta sua beleza,
Que aqui despontou.
Ontem já fui carente,
Hoje sou como agora;
A seu lado senhora,
Doce deusa envolvente.
*J.L.BORGES
Gravatai.1986
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