EU SOU VOCÊ AMANHÃ
Eu sou você na prisão,
Sou você no hospital;
Sou a luz de algum natal,
Presente dado na mão.
Sou tempestade e bonança,
Sou o idoso no asilo;
Sou a fé a persegui-lo,
No orfanato a criança.
Sou a virgem violentada,
Sou o gigolô vagabundo;
Sou a ilusão deste mundo,
Escasso de madrugadas.
Sou flores na primavera,
Geadas densas no inverno;
Sou o fogo do inferno,
Sou o céu a tua espera.
Sou estrelas no escuro,
Penduradas no infinito;
Sou teu riso, sou teu grito,
Pois sou você no futuro.
Eu sou nada nesta vida,
Eu sou apenas momento;
De alguma longa avenida
Sou ferida, sou lamento.
Eu sou poeira solta ao vento,
Sou a paz frágil e esquecida;
No canto do pensamento,
No lado esquerdo da vida.
*J.L.BORGES
Gravatai.1986
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