RODA DÁGUA
Águas que vão mas que voltam,
Banhando o mundo magoado;
Trazem do céu a promessa,
De um futuro estrelado.
Águas que vão mas que voltam,
Regando esta terra perdida;
Que não cansa de acolher,
O fruto de uma geração esquecida.
Na maconha e na cocaína naufraguei,
Afundei com o revolver na mão;
Esqueci de captar o sorriso,
O olhar do meu pobre irmão.
Já cansei de me perder nos encontros,
Nos desencontros da longa jornada;
Águas que caem e que curam,
As cicatrizes de uma alma manchada.
Nas lamas do destino me pacifiquei,
Me lavei nesta água que cai;
Escoando no ocaso da vida,
Esquecida que só me retrai.
*J.L.BORGES
Cachoeirinha.1986
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