terça-feira, 31 de outubro de 2017

O DIA DO TRABALHO

O DIA DO TRABALHO

Hoje eu acordei quase dez horas,
Como sempre meio zonzo,
Mas ainda deu pra pensar em trabalho;
Ora bolas! Dia do trabalho.
Milhões de trabalhadores ai fora,
Mendigando por um naco de pão,
Sobras de algum grande jantar,
Que algum famoso político ofereceu,
Para algum grande industrial;
Para comemorar este ditoso dia,
Para eles é lógico.
Eu acho que se devia comemorar,
O dia mundial do desempregado,
O quê a gente vê ai fora?
A gente vê desemprego, desespero, fome e miséria;
Pessoas as margens da lei,
Por culpa de meia dúzia de safados,
Que enchem os bolsos,
Lucram em cima do sofrimento alheio;
Esta divida externa e esta duvida interna,
Me enche o saco.
Até parece que vejo milhões de ex-operários,
Em suas precárias casas,
Com suas aspirações pesadas como chumbo,
Ex-funcionarios de grandes escritórios,
De alguma empresa multinacional,
Com seus sonhos a deriva
Alguns deitados em seus catres com o rosto pálido,
Olhar perdido no vazio, desanimados,
Embaixo dos braços cruzados, pensando em nada.
Os camponeses sem terra levando a enxada,
Nas costas açoitadas e doloridas,
Em uma eterna peregrinação a procura,
De um palmo de terra para plantar o seu sustento,
Seus sonhos...
Pobre gente com suas crianças desnutridas!
Neste dia eu vejo os verdadeiros donos das terras,
Ainda morando em palhoças a beira das estradas,
Sem futuro algum, porque eles os grandes barões,
Só pensam em si mesmo, e os outros?
Os outros que se danem futebol clube.
Neste mágico dia banquetes são oferecidos para os oprimidos,
Empregado e patrões se confraternizam,
Parece até um dia cheio de futuro e esperança;
Se não fosse o amanhã que vem carrancudo,
Este mesmo patrão hoje cheio de risos, e tapinha nas costas,
Amanhã mesmo bota centenas de oprimidos,
No olho da rua, sem eles saberem nem mesmo o porque,
Eu penso em tantos os motivos e chego a conclusão,
De que os homens do poder, para amenizar as injustiças sócias,
Intitularam este dia universalmente, como o dia do trabalho;
Este dias para mim, cheira mais a dia da pilantragem,
Do que a dia do trabalhador.

  *J.L.BORGES
Camaquã.1984



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