AMIGO
Meu bom amigo das longas jornadas,
Galgamos caminhos de pouca esperança;
Companheiro fraterno de tantas paradas,
Da vida cansada, minha tênue lembrança.
Amigo tão calmo, de gestos tão louco,
Amigo real de singela aparência;
Amigo valoroso, como poucos, tão poucos,
Um vulcão de sonhos, num mar de paciência.
Teus horizontes se rasgam e desdobram-se também,
Tua estrutura se abala, teu valor aparece;
E tu fica agitado como se fosse alguém,
Assim como eu que pouco a pouco envelhece.
Quero que saibas meu bom companheiro,
Que um dia nos dois iremos morrer;
E quando chegar o momento derradeiro,
Desta vida para a outra iremos viver.
Caminharemos então naquela linda estrada,
Sobre a poeira da saudade de uma doce primavera;
Que faça esquecermos da vida passada,
Que pouco passamos por sobre esta terra.
*J.L.BORGES
Porto Alegre.1983
Nenhum comentário:
Postar um comentário