sexta-feira, 30 de novembro de 2018

A OUTRA FACE


A OUTRA FACE

Abrigo em meus braços o meu inimigo,
Beijo a face de quem me escarra;
No meio da noite eu sou o abrigo,
Daquela pessoa que não me ampara.

Sou luz nos olhos do me opressor,
Sou musica na voz de quem em acusa;
No frio do inverno eu sou o calor,
Naquela pessoa que sempre me abusa.

Na luz da incerteza eu sou a razão,
Sou canção de ninar a meu inimigo;
Na noite retinta eu sou o lampião,
Eu sou teu perdão e tu meu castigo.

Levanto do chão aquela criatura,
Que sem piedade me joga no lodo;
Me pisa sem dó, me leva a loucura,
Pois sou o cordeiro e ela o lobo.

No caminho indeciso sou a estrada certa,
Sou placa avisando tua contra mão;
Na noite deserta sou porta aberta,
Esperando a presença de ti meu irmão.

Amparo em meus braços aquele tirano,
Que sem piedade me arrasta no chão;
Vai ano, vem ano é o mesmo engano,
Ilusão imutável em meu coração.

Não vejo defeito em meu traidor,
Só vejo virtudes, bondade do alem;
Não vejo a verdade em meu opressor,
Pois sou cego, sou surdo, sou mudo também.
                                                  
 *J.L.BORGES








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