sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

CRIANÇA VAGANDO NO FUTURO

CRIANÇA VAGANDO NO FUTURO

Ouço as motos roncando lá fora,

Da janela eu vejo a lua vadia que espia;

Dizendo pra mim que o dia anuncia,

Uma noite de encontros que jorra lá fora.

No quarto vazio da pensão vagabunda,

Olho nas paredes fotos de uma mulher;

Será minha mãe, irmã ou amante,

Gingando pelo mundo, ou uma deusa qualquer?

No lusco fusco do degredo me tranco em meus medos

E sigo neste mundo de sonhos e venturas;

Eu vejo da janela flagrantes de loucuras,

Trancando meus receios e abrindo meus segredos.

O disco toca rouco melodias de Bettowem,

Mostrando que o passado é luz neste futuro;

A nona sinfonia me mostra da janela,

Estrelas que se rompem rasgando o pano escuro.

Talvez eu apenas seja inseto no infinito,

A onde o grito eterno minha mão jamais alcança;

De sonhos desgarrados, me torno uma criança,

De pés descalços e estático num rio denso e aflito.

*J.L.BORGES

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