CRIANÇA VAGANDO NO FUTURO
Ouço as motos roncando lá fora,
Da janela eu vejo a lua vadia que espia;
Dizendo pra mim que o dia anuncia,
Uma noite de encontros que jorra lá fora.
No quarto vazio da pensão vagabunda,
Olho nas paredes fotos de uma mulher;
Será minha mãe, irmã ou amante,
Gingando pelo mundo, ou uma deusa qualquer?
No lusco fusco do degredo me tranco em meus medos
E sigo neste mundo de sonhos e venturas;
Eu vejo da janela flagrantes de loucuras,
Trancando meus receios e abrindo meus segredos.
O disco toca rouco melodias de Bettowem,
Mostrando que o passado é luz neste futuro;
A nona sinfonia me mostra da janela,
Estrelas que se rompem rasgando o pano escuro.
Talvez eu apenas seja inseto no infinito,
A onde o grito eterno minha mão jamais alcança;
De sonhos desgarrados, me torno uma criança,
De pés descalços e estático num rio denso e aflito.
*J.L.BORGES
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