quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

DE LAGARTA A BORBOLETA

DE LAGARTA A BORBOLETA

Eu vi crianças de pés descalços,

Sendo castigadas pelo rigor do inverno;

Eu vi de perto o inferno,

Riquezas da sociedade.

Eu vi em tantas cidades,

O hedionda miséria vigiando,

Sem respeitar as idades,

Dos pobres seres cansados.

Vi dependentes contentes,

Com o que a vida negou;

Vi na desgraça um porta,

Sobras que a vida deixou.

O sangue dos suicidas,

Calos nas mãos dos ateus;

Inocentes homicidas,

Comendo o pão que Judas deu.

Vi tantas lutas por nada,

Tantas mortes vi em vão;

Vi placas de contra mão,

Rejeitando a alvorada.

Eu vi ricos miseráveis,

Sugando o pão dos aflitos;

Ouvi no âmago do grito

A ânsia dos indigentes.

Hoje vejo no futuro,

A vida frágil que escorre;

Procurando uma passagem,

Luz débil que hoje morre.

Agora estou vendo o fundo,

O mundo com outra visão;

Não temo mais o passado,

Sou borboleta a voar.

     *J.L.BORGES .1991

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