DE LAGARTA A BORBOLETA
Eu vi crianças de pés descalços,
Sendo castigadas pelo rigor do inverno;
Eu vi de perto o inferno,
Riquezas da sociedade.
Eu vi em tantas cidades,
O hedionda miséria vigiando,
Sem respeitar as idades,
Dos pobres seres cansados.
Vi dependentes contentes,
Com o que a vida negou;
Vi na desgraça um porta,
Sobras que a vida deixou.
O sangue dos suicidas,
Calos nas mãos dos ateus;
Inocentes homicidas,
Comendo o pão que Judas deu.
Vi tantas lutas por nada,
Tantas mortes vi em vão;
Vi placas de contra mão,
Rejeitando a alvorada.
Eu vi ricos miseráveis,
Sugando o pão dos aflitos;
Ouvi no âmago do grito
A ânsia dos indigentes.
Hoje vejo no futuro,
A vida frágil que escorre;
Procurando uma passagem,
Luz débil que hoje morre.
Agora estou vendo o fundo,
O mundo com outra visão;
Não temo mais o passado,
Sou borboleta a voar.
*J.L.BORGES .1991
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