DESCAMISADO
Sem camisa e descalço,
Carrego a miragem de um olhar distraído;
Vozes que se perdem a minha volta,
Um riso zombeteiro e esquecido.
Sem camisa e descalço,
Imploro apenas um basta;
Nada espero, nada quero,
Desta vida madrasta.
Sem camisa e descalço,
Mendigo a paz que não conheço;
Paz que nunca tive, amigo,
Nesta estrada, sem final e sem começo.
Sem camisa e descalço,
Mendigo um pedaço de pão;
Mendigo apenas um sorriso,
Um aperto de mão.
Sem camisa e descalço,
Mendigo migalhas de futuro;
Talvez um amigo apenas,
Lâmpada no infinito deste escuro
*J.L.BORGES.1991
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