segunda-feira, 25 de setembro de 2017

CANÇÃO DE EXILIO A CAMAQUÃ

CANÇÃO DE EXÍLIO A CAMAQUÃ

Estou longe de você,
Camaquã, cidade amada;
Mas em sonhos eu  vejo,
A minha rua, minha estrada.

Estou longe, tão longe,
De você terra tão minha;
Longe daquele amor,
Que também é minha rainha.

Aqui tão longe estou,
Da minha vovó querida;
Que tanto sei que me ama,
E cuidou da minha vida.

Lá passei toda a infância,
Meus sonhos e madrigais;
Gostava dos arvoredos,
Onde tinha laranjais.

Meu colégio, a escolinha,
Que tanto me ensinou;
Meu amor, deusa querida,
Que um dia por mim chorou.

A igreja da matriz,
A minha linda capelinha;
A professora bondosa,
Que foi minha fada madrinha.

Meu amigo dos olhos azuis,
Que um dia partiu pra cá;
Mas aqui sinto-me sozinho,
Quem me dera eu estar lá.

O lindo rio Camaquã,
O suave arroio Duro;
Quero voltar pra minha terra,
Um dia, sei e eu juro.

Nada na vida me importa,
Pois se tudo que eu tinha
Está tão longe daqui,
Está na terra tão minha.

Tudo que tenho na vida,
Está lá em Camaquã;
Meu passado, meu presente,
Meu terno e doce amanhã.

Mas um dia eu quero voltar,
Para minha terra e tenho certeza;
Pois isto aqui não é vida,
É solidão, é tristeza.

É a sucursal do inferno,
Nome que lhe batizei.
Mas a sucursal do paraíso,
É a terra onde me criei.

Lá em Camaquã sempre tive amor,
Amava o sol, o luar;
Me deitava na varanda,
E começava a sonhar.

Até parece tolice,
Mas amava, amava tudo;
Aqui não dá pra viver,
Não adianta, não me iludo.

Vou voltar pra minha terra,
Não sei quando, mas um dia;
Pois é lá que se encerra,
Meu amor, minha alegria.

Parece incrível que aqui,
Haja tanta falsidade
Parece incrível, mas aqui,
Existe pouca amizade.

É um lugar tão bonito,
Mas há tanta ambição
Há mentira, há tristezas.
Também há poluição.

Minha terra é cativante,
Meu paraíso, meu lar;
Quando estou em Camaquã,
Estou feliz a cantar.

Sonho tanto com o dia,
Dia que eu pra lá voltar.
Quero rever minha avó,
E com meu amor quero estar.

Não sei se esta canção,
É de exílio, não sei;
Mas como eu posso deixar,
A terra que tanto amei?

*J.L.BORGES
Porto Alegre.1977






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