O CÃO FAMÍLIA GOUVEIA
Luis GustavoGouveia e Suzi Alburquerque Gouveia formavam um belo e bem sucedido casal, estavam juntos há 5 anos, e nunca se preocuparam em terem
Filhos, também pudera, eram muito atarefados para com isso se preocuparem, ele médico, ela professora; Luis Gustavo o dia inteiro entre hospital e consultório, Suzi dando aulas em turno integral, além de ótimos rendimentos, gostavam deveras o que faziam e não se preocupavam com filhos.
Em compensação possuíam há 5 anos um belo pastor alemão, presente este de casamento dados por Jorge e Louise, amigos e padrinhos do casal.
Naquela rotina atribulada o cão era os dengos da casa, nos finais de semana era banho, era tosa, biscoitos caninos, passeio no parque...no inicio da noite, na casa era o
cão no colo dos dois, as corridas pelos cômodos , o animal bem ensinado, levava o chinelo do seu dono, só com um assovio e com um bater de palmas entregava-lhe o
Jornal, até parecia substituir aquele filho que eles não tinham e nem cogitavam ter.
O totó era igual a filho a filho mesmo, com registro e tudo,”Bettowen Alburquer-
que Gouveia”; Bag para os íntimos, registrado no papel e escrito na bela coleira de couro.
Certo dia Suzi acorda com algumas tonturas e ânsia de vômitos, ela não se preocupa muito e nem fala ao marido, “Deve ser estresse” pensa ela, porem aos poucos começa aquela tontura e ânsia de vômito diariamente, resolve fazer um exame, e: ”Bingo “grávida, a noite fala ao marido que fica exultante com a boa noticia,
o cão no colo do homem dá um salto e vai refugiar-se na lavanderia, fato este nem notado pelo casal.
Com esta gravides inesperada a rotina do casal vai mudando gradativamente, a atenção com o Bettowen sendo transferida a Suzi, o cão, retraído a observar os aconte
cimentos, só não muda a rotina da diarista, todas as segunda, quartas e sextas feiras,
limpando a casa e cuidando do cão.
A gravides de Suzi já esta bem adiantada e cuidados redobrados, mas a rotina do trabalho inalterada; certa noite o casal chega em casa, Luis Gustavo entra, Suzi ao entrar tropeça no tapete e é amparada pelo marido, o cão que estava próximo a tudo observa, Luis Gustavo de pronto retira o tapete da entrada da casa, fala Suzi que irá deixar um recado a diarista para que no dia seguinte ela não o coloque de volta a
entrada da porta, o cão ouvindo tudo.
No outro dia o tapete no mesmo lugar, Luis Gustavo liga furioso a diarista e reclama de seu esquecimento, ela jura que fez conforme o pedido do homem, segue
a rotina da casa, na quarta a volta do trabalho, o tapete ausente, o cão a tudo observa,
na sexta feira o retorno do trabalho, o tapete novamente a entrada da porta, mais
uma vez o homem telefonando a diarista e reclamando de seu esquecimento, ela jur
que tinha retirado o tapete conforme a sua ordem, assunto encerrado, no outro dia nada de tapete no local indesejado, segue os dias e o problema parecia resolvido.
Suzi já esta com 7 meses de gravides, quase na hora de se ausentar de seu trabalho, barriga em destaque naquele corpo harmonioso, os cuidados redobrados, e agora o esquecimento total do pobre cão, que choramingava constantemente, e abanava o rabo em busca de atenção.
Na sexta feira a diarista faz como de costume seu rotineiro trabalho, final de tarde vai embora.
Luis Gustavo e Suzi retornam de seus trabalhos, a Suzi afrente abre a porta, enquanto que o marido coloca o carro na garagem, de repente um baque surdo e o tombo imprevista da jovem gestante, o tapete escorrega para o lado, ela no chão, o sangue pingando entre suas pernas, o cão a observar tudo, Luis Gustavo socorrendo a
esposa, internação urgente e a triste noticia, aborto causado pela queda da mulher, tristeza total do casal.
No outro dia a demissão da incrédula diarista que jurava por todos os santos que jamais tinha colocado aquele maldito tapete a porta da casa, Bettowen na entrada da sala assistindo a tudo e dando baixos ganidos que pare cima de satisfação.
Depois da recuperação de Suzi e de sua resignação, a rotina volta ao normal , aquela rotina antes da gravides, nos finais de semana, banho e tosa, biscoitos caninos, passeios no parque, a noite na casa o cão no colo dos dois, as corridas pelos cômodos da casa, um assovio, e ele levando o chinelo de seu dono, o bater de palmas, e ele lhe lavando o jornal.
Assim a felicidade juntamente com a antiga rotina volta ao seio daquela casa, e a diarista jurando e afirmando a todos que nunca tinha recolocado o tapete na entrada da casa, ela tinha plena certeza que fora o cão...
*JORGE LUIS BORGES
Nenhum comentário:
Postar um comentário