sábado, 30 de março de 2019

RESUMO DE UM FIM


RESUMO DE UM FIM

             De repente o desentendimento, fugaz desavença, discussão fútil no bar, por nada talvez. Os dois vão para a rua.

             Um descuido, uma tola falta de atenção, e a lamina do punhal brilha ao sol, eu ultimo sol de primavera, rasga o ar, e num baque molhado entra em seu peito.

             Seu olhar esbugalhado e surpreso, quase não acreditando, vê o corpo titubeante a cair.

             Num relance como uma explosão nuclear ele vê sua vida passar num segundo, igual uma montanha russa, bólida e ensandecida, naquela mente dilacerada.

             Pobre homem!

             Naquela explosão, naquele relâmpago ofuscante ele vê como em filmes mudos que lembram Charles Chaplim, a sua tênue infância, o primeiro brinquedo, a primeira travessura, isenta de maldade.

             Os momentos fugazes da infância, a boa professora,  primeiro amor talvez, momentos lindos, mas que passaram tão depressa parecendo fins de semana, querendo fugir das segundas feiras.

             A Rosinha da esquina, amor furtado e temeroso, que o tornou homem, naquela adolescência quase sem pecado.

             A primeira namorada verdadeira, onde ele acalentava sonhos e futuros, mas que o exercito a tirou, um pouco antes dele dar baixa.

             O final do colégio que ele cursou e concluiu com muito custo, seu primeiro emprego, seus amigos, a partida de casa, de sua cidade natal.

             Perdido na capital, assustado e deslumbrado, novos planos; outros amigos, outros empregos, a saudade do interior, e a volta para casa, um naquinho da família lhe esperando, sua vozinha, a vozinha da rosinha, e os amigos da sua rua.

             De repente numa noite suja o imponderável, o prazer, o gozo proibido, e a volta a cidade grande. A rotina desta vida aborrecida, e tudo de novo num girar de um doido carrossel, sem sair do mesmo lugar.

             Tempo depois a volta ao interior, o ponderável do gozo do passado, e os muros crescem como selva alucinante, outro caminho, novos companheiros, amigos do infortúnio, tantas historias e estórias também.o tempo passa e o sol entra em sua porta,cansada e fechada, cansada de esperar.

             A volta par a capital, pensões baratas, trabalhos mal pagos, escola de novo, novas namoradas, mulheres da vida.

             De repente o diamante que ele tanto procurava, garimpava; a fortuna dos esforços semeados, e o sol de novos tempos lhe sorri e entra em sua janela entre aberta, motos, carros, um bom emprego no banco mercantil, e mulheres da vida.

             Nova namorada, agora é pra valer.

             Casamento marcado, grande festa no clube dos bancários, viagem de lua de mel, lugar escolhido, Floripa e suas belas praias.

             A volta para seu feliz cotidiano, casa nova, moveis novos, carro novo, e o bom emprego no banco mercantil.

             Um dia a fatalidade, seu carro importado, os freios falham, e a batida na lateral do coletivo, a volta ansiada para casa só meses depois.

             O baque do carro, ferragem lhe prendendo, ossos dilacerados, cirurgias, internação, hospital, e a recuperação lenta, a volta para casa, sua mulher sempre a lhe esperar. E o tempo passando... Passando... Passando...

             A mulher grávida, o filhinho nascendo, um amor de criança apesar do berreiro nas noites, musica aos ouvidos do pai coruja.

             Uma dose de wiski apenas, outra dose de novo, a mulher reclamando.

             No começo uma hora no clube, depois duas horas, ou três; aquela loira lhe servindo a bebida, lhe servindo tão bem, e o começo, eterno começo enquanto durou.

             No inicio apenas divergências, diferenças, nada mais, depois o ciúme, o cheiro de perfume na camisa daquele que jurava ser fiel, mas a descoberta, a mancha de batom e as brigas prosseguindo, seguindo... Seguindo mais e mais.

             O homem larga da amante, não vai mais ao clube, jura ser fiel eternamente, mas ela lhe cobrando, lhe culpando, lhe perturbando, lhe lembrando do deslize que um dia ele cometeu, um zum zum continuo em seus ouvidos.

             18:00 em ponto, chega cansado do trabalho, e ela naquela rotineira guerra, guerra interminável, o homem abre a porta, caminha desnorteado e sem rumo naquela rua efervescente.

             Olha na esquina o velho bar, nunca tinha entrado lá, caminha a seu encontro, abre a porta, entra no bar, um jogo de sinuca por cerveja, a tacada derradeira deste homem, a bola preta sucumbindo na caçapa, o outro não concordando, não querendo lhe pagar a cerveja, começa a discussão; e o convite para a rua.

             Um descuido, uma tola falta de atenção, e a lamina do punhal brilha ao sol, seu ultimo sol de primavera; a lamina rasga o ar, e num baque seco perfura seu peito

             Seu olhar esbugalhado e surpreso, quase não acreditando, vê o corpo titubeante cair.

             Os olhos perdem o brilho, tudo fica escuro a seu redor, até as vozes das pessoas surpresas e atônitas, o sol de primavera escurece, o cheiro das flores perdem seu odor, os pássaros emudecem.

             SUZI, ESTOU MORRENDO….

*J.L.BORGES

                                                                                                               

                                                                                                                          

                                                                                                                                        



           

        

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