quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

DIABINHOS DA INFÂNCIA

DIABINHOS DA INFÂNCIA

Alguém furtou a ilusão,

Só não furtou a esperança;

Tantos sonhos toscos em vão,

Ledos sonhos de criança.

Estes sonhos inacabados,

Da infância que passou;

O menino imaculado,

A criança que não sou.

O passado foi embora

Só restando este escuro;

Esta dor de qualquer hora,

Anunciando este futuro.

O futuro vem e anuncia,

Que a vida é uma só;

Esta dor me alumia,

Me faz voltar a ser pó.

Pois sou homem passageiro,

Eu sou cometa a brilhar;

Eu sou o vento ligeiro,

Nos teus lábios a soprar.

Minha vida não tem sentido,

Quem dera eu pudesse ter;

Talvez somente um amigo,

Para depois poder morrer.

Eu sou sonho de esperança,

Não sou pensamento em vão;

Eu sou apenas criança,

Laço bunda lobou pão.

*J.L.BORGES
1989

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