MINHA HISTÓRIA
Acredito que em Fevereiro de 1956 eu cheguei ao planeta terra através de uma relação confusa entre meu pai e minha mãe, não propriamente chegar chegando, pois apenas fui semeado as escondida no útero de minha mãe; ela com apenas 17 anos e ele o semeador com seus 21 anos.
Sei lá como foi a gestação de minha mãe,acredito que conturbada, ela uma mãe solteira, inadmissível naquela época, e ele imaginando-se um Dom Juan interiorano, querendo ser o garanhão reprodutor emprenhando muita donzela lá no longínquo 1956 em Camaquã.
Imaginem o quê não passou pela cabeça daquela jovem interiorana que trabalhava como doméstica na cidade grande, sim; Camaquã para ela era uma metrópole ainda mais ela vindo do interior do interior, uma tal Capela Velha; imaginem o quê não se passou naquela jovem cabeça, ainda mais que o genitor era nada mais nada menos que um jovem filho de mãe origem portuguesa e de pai origem africana, algo intolerável a meus avós maternos.
Com o passar dos dias o coração de meu avô foi abrandado e acabei indo morar com eles no interior de Camaquã e minha mãe acabou indo para Porto Alegre, meu pai? Acredito que ficou por Camaquã mesmo, indo posteriormente também para Porto Alegre.
E foi assim minha chegada a terra no longínquo 1956...
(...)
Mas vamos parar por ai, o tempo passou, muita coisa aconteceu em minha conturbada vida e eu através do mar revolto onde meu veleiro teimosamente seguiu seu percurso náutico cheguei até aqui neste porto que não sei se é seguro ou não.
Meu pai não é mais um Dom Juan, talves seja mais uma estrelinha no céu, minha mãe não é mais nenhuma donzela, mas aqui está neste planeta carnívoro.
Minha história não terminou é lógico, mas aquele drama apocalíptico de 1956 está criptografado nas catacumbas do tempo, confundindo-se com tantas histórias que vagam pelo planeta terra.
*Jorge Luis Borges
2021/08
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