ESCRAVO
Explore-me,
Melhor ser explorado,
Sem futuro e sem razão,
Do que morto pela fome;
Não tire de mim a refeição.
Sou corpo frágil e desnutrido,
Sem futuro e solução;
E tu homem bem nutrido,
Desnutrido em tua compaixão.
Explore-me,
Melhor ser explorado a luz do dia,
Ou na flor da calada escuridão;
Do que vagar por ai,
Sem eira e nem beira, e sem pão.
Estou assim por causa da fome,
Apático e submisso a teu jugo, julgas-me tu um vagabundo qualquer,
Mal sabes que estou assim,
Devido a tua exploração.
Explore-me,
Mas não tire meu escasso arroz e feijão;
Não me tornes um homem qualquer;
Sou teu espólio, jamais um ladrão.
Talves eu até seja um quadro falso,
Pintado nessa tela de ilusão,
*Jorge Luis Borges
Brasil 2021/08
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