VIDAS PARALELAS
Não tem arroz, não tem feijão;
Não tem farinha pra ter o pão.
Carne não tem e não tem leite,
Nem mesmo azeite o pobre tem.
Não tem salada e nem café;
Nem mesmo a fé tem o irmão;
Não tem açúcar e nem tempero,
Pra temperar o coração.
E o povo farto de tanta fome,
Que lhe consome espera o nada;
A vida é fria, a chuva é fina,
A alma geme, tão desgraçada.
Braços cruzados a esperar,
Como um cativo o seu castigo;
Olhar perdido no inimigo,
Que lhe escarra e estende a mão
Pois nasceu pobre e morrerá
Sem religião e sem escola;
Bem como está pois nada muda,
Vive de sobras e de esmolas.
Sem educação a pobre gente,
Não tem conceito, não tem limite;
Somente a vela quase apagada,
De sua crença, gasta semente.
Sem ter estudo e profissão,
Este meu povo tem quase nada,
Falta-lhe o provento e a religião,
Tudo de velho,Nada de novo.
Não tem vontade nem de sonhar,
Não tem anseios e deixa estar
Até o riso ele perdeu
Só dá vontade e de chorar.
Triste num canto o pobre homem,
Lembra a infância e seus amigos;
Que agora não possui mais,
Nem mesmo a paz ficou consigo.
E não tem casa para morar,
Nem mesmo terra para plantar;
Não tem presente, só tem passado,
Nem o futuro é esperado.
Sem ter mais nada vai pra cidade,,
Que lhe estende os braços e lhe devora;
E assim prossegue sem sociedade,
Povo as margens desta cidade.
*J.L.BORGES
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