sábado, 22 de dezembro de 2018

VIDAS PARALELAS


VIDAS PARALELAS

Não tem arroz, não tem feijão;

Não tem farinha pra ter o pão.

Carne não tem e não tem leite,

Nem mesmo azeite o pobre tem.

Não tem salada e nem café;

Nem mesmo a fé tem o irmão;

Não tem açúcar e nem tempero,

Pra temperar o coração.

E o povo farto de tanta fome,

Que lhe consome espera o nada;

A vida é fria, a chuva é fina,

A alma geme, tão desgraçada.

Braços cruzados a esperar,

Como um cativo o seu castigo;

Olhar perdido no inimigo,

Que lhe escarra e estende a mão

Pois nasceu pobre e morrerá

Sem religião e sem escola;

Bem como está pois nada muda,

Vive de sobras e de esmolas.

Sem educação a pobre gente,

Não tem conceito, não tem limite;

Somente a vela quase apagada,

De sua crença, gasta semente.


Sem ter estudo e profissão,

Este meu povo tem quase nada,

Falta-lhe o provento e a religião,

Tudo de velho,Nada de novo.

Não tem vontade nem de sonhar,

Não tem anseios e deixa estar

Até o riso ele perdeu

Só dá vontade e de chorar.

Triste num canto o pobre homem,

Lembra a infância e seus amigos;

Que agora não possui mais,

Nem mesmo a paz ficou consigo.

E não tem casa para morar,

Nem mesmo terra para plantar;

Não tem presente, só tem passado,

Nem o futuro é esperado.

Sem ter mais nada vai pra cidade,,

Que lhe estende os braços e lhe devora;

E assim prossegue sem sociedade,

Povo as margens desta cidade.

                *J.L.BORGES


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