SEXTA FEIRA SANTA
No silencio outonal da noite fria,
A lua brilha sem temer a voz;
Da ventania batendo a porta,
Sem piedade soprando em nós.
Vejo nas costas denegridas da mãe África,
A marca infame da besta escravidão;
Cristo, sofrestes por mim ou pelo mundo?
Teu sangue foi tabu, foi crença e comunhão.
Em tantas cruzes cravadas na estrada,
Da idolatrada pátria amada adormecida
Passaram governos enfermos a explorarem,
E nós? Pobres carentes dependentes e esquecidos.
Nunca temeremos o machado e a enxada,
Mas tememos as chaves e grilhões;
Tememos os fuzis dos militares,
Canções vulgares atormentado as multidões.
São tantos reis matando a esperança,
Que ainda existe na alma desta gente;
Vis presidentes dementes na lembrança,
Pobres crianças sem paz e sem presente.
No parlamento imundo da verdade,
As nossas leis não servem para nada;
Somente cruzes de dor e de saudade,
É o que florescem em nossa negra estrada.
Se hoje é sexta feira santa, eu anuncio,
Que hoje é o tempo é a hora certa pra lembrar;
Porque a morte de Jesus não foi em vão,
Foi a semente de uma nova vida, um novo lar.
*J.L.BORGES
Nenhum comentário:
Postar um comentário