sábado, 8 de dezembro de 2018

SEXTA FEIRA SANTA


SEXTA FEIRA SANTA

No silencio outonal da noite fria,

A lua brilha sem temer a voz;

Da ventania batendo a porta,

Sem piedade soprando em nós.

Vejo nas costas denegridas da mãe África,

A marca infame da besta escravidão;

Cristo, sofrestes por mim ou pelo mundo?

Teu sangue foi tabu, foi crença e comunhão.

Em tantas cruzes cravadas na estrada,

Da idolatrada pátria amada adormecida

Passaram governos enfermos a explorarem,

E nós? Pobres carentes dependentes e esquecidos.

Nunca temeremos o machado e a enxada,

Mas tememos as chaves e grilhões;

Tememos os fuzis dos militares,

Canções vulgares atormentado as multidões.

São tantos reis matando a esperança,

Que ainda existe na alma desta gente;

Vis presidentes dementes na lembrança,

Pobres crianças sem paz e sem presente.

No parlamento imundo da verdade,

As nossas leis não servem para nada;

Somente cruzes de dor e de saudade,

É o que florescem em nossa negra estrada.

Se hoje é sexta feira santa, eu anuncio,

Que hoje é o tempo é a hora certa pra lembrar;

Porque a morte de Jesus não foi em vão,

Foi a semente de uma nova vida, um novo lar.
                                  
*J.L.BORGES


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