VESTIDO AZUL
Este vestido aqui pendurado,
Solitário e jogado em um canto qualquer,
É um vestido azul desbotado,
Que um dia envolveu a mulher,
Aquela que eu julgava ser a minha querida,
Ser sempre o meu bem querer.
Pobre vestido azul decotado,
Que certa vez foi do meu amor,
Vestido aqui esquecido, pois ela partiu,
Foi embora e eu desprezado,
Estou sozinho, eu e minhas lembranças,
Trancado neste armário de dor.
Eu quero jogar ele fora,
Uma faxina em meu quarto farei,
Uma faxina em meu coração;
Mas como joga-lo? Se ele abrigou a mulher,
Aquela que sempre amarei,
Mas que de presente me deu solidão.
Pobre vestido azul desbotado,
Desprezado como eu por aquela,
Mulher, e como eu aqui jaz em vão jogado,
Neste catre onde bebo, nesta cela,
Onde sorvo meus medos e esta saudade,
Nefasta saudade que tenho por ela.
*JORGE LUIS BORGES
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