domingo, 7 de abril de 2024

A GAROTA DE CABELOS AZUIS



     “A GAROTA DE CABELOS AZUIS”


     O homem caminha na avenida úmida e cinzenta, envolto em pensamentos, ele divaga acontecimentos efêmeros naquela tarde efervecente e nua.

     Era uma tarde relativamente fresca e o sol de Abril vez por outra saia de tráz das nuvens carrancudas e dava uma leve espiada naquela gente que caminhava na avenida igual formiga, pessoas que andavam apressadas tal qual o homem solitário naquela avenida cinzenta.

     Enquando o homem caminha, aliás: flutua na longa rua, seus pensamentos o levam a uma Guaiba mais alegre do que a de agora, pois ultimamente é uma cidade nada alegre, sei lá, “nem  porto e nem praia descente esta cidade tem”; pensa o homem que é interrompido de seus devameios por uma voz juvenil:

      -”Moço, o senhor quer comprar um óculos para dar de presente a você ou a namorada…”

     Num milionésimo de segundos tudo torna-se mais alegre ao ouvir ele aquela voz melodiosa .

       Os olhares se cruzam, se chocam,originando-se daquele choque casual uma esplosão nuclear; ele chega até a ficar tonto com a beleza deslumbrante da garota.

       -”Obrigado moça”, fala o homem nada moço que ainda se refaz daquele impacto estonteante; “na próxima quem sabe comprarei um sim”.

       O homem a olha novamente, agora já refeito do choque inicial, fica pensativo e questiona à seus botões: qual será a idade da menina, 17, 18 anos? Com certeza não passa de 20 anos.

       Seus olhar ainda sonhador fotografa a imagem angelical daquela garota, corpo miúdo e esguio, mais parece uma gazela a levitar em verdes pradarias, cabelos lisos e compridos a dançarem ao vento, lábios ligeiramente carnudos e vermelhos, e aquele olhar cor da noite sem luar a refletir em sua pecadora inocencia a imagem daquele homem solitário e sonhador, nela tudo exalava inocéncia e a certeza de que o amor existe. 

     Era simplesmente um quadro de Van Gog.

      Ela sorri ao homem pensativo, ele lhe retribui com um sorriso que mais parecia um pedido de socorro pelo tempo que inexoravelmente passou.

      O homem pensou em conversar uns instantes com ela, mas balbuciou apenas um até mais,que em troca a menina lhe retribui suavemente um “de nada” numa voz que mais parecia um coral de anjos.

      Seu meigo olhar tocou ternamente no fundo da alma do homem,e ele a olha profundamente como se fosse um última olhar, e atravessa com passos de chumbo a rua perdendo-se na distância, mas antes de perde-la de vista ele vê ao longe a silueta daquela garota de cabelos azuis…


      *Jorge Luis Borges 

       Guaiba…04/2024

        



Nenhum comentário:

Postar um comentário