domingo, 4 de abril de 2021

O HOMEM DO FUNDO DO BAR

     O HOMEM DO FUNDO DO BAR


     Era um sujeito estranho, calça de tergal, um azul escuro contrastando com uma camisa listrada e um casaco escuro também, um chapéu amarrotado, não definindo seu estado, se era novo ou velho, um sapato plataforma para disfarçar sua baixa estatura, não era um homem feio e nem bonito, parecia ter cinquenta e poucos anos.

     Chega no bar como se fosse um cliente antigo,embora fosse a primeira vez que lá entrava, foi diretamente ao fundo do bar, se abancou numa mesa que parecia que estava a sua espera, chama o garçon com um aceno, e pede duas doses de wisque, uma dose em cada copo, e os bebe despreocupadamente, o garçon observa com curiosidade o estranho homem,o dito cujo finaliza seu drink, deixa o pagamento do mesmo na mesa e vai embora sem nada falar.

     E assim todo o cair da tarde, pontualmente as dezoito horas chega o homem no bar, sempre naquele traze um tanto cômico, vai diretamente ao fundo do bar onde aquela mesa sempre desocupada parecia estar a sua espera, acena ao garçom e lhe pede as costumeiras duas dose de wisque, uma em cada copo e as bebe calmamente, deixa o dinheiro na mesa e vai embora sem nada falar.

     E assim acontece durante uns três meses, com exceção aos domingos; o cara chega pontualmente as dezoito horas, senta em sua mesa predileta, pede suas duas doses, as bebe, deixa o pagamento na mesa e sai sem nada falar, e o garçom já acostumado com o sujeito, perdeu o interesse pelo estilo do dito cujo.

     Certo dia o sujeito chega ao bar e como de costume vai para seu predileto lugar, o garçom já ia lhe servindo as duas doses, porém o estranho sujeito lhe pede apenas uma dose do seu wisque predileto e antes que o garçom lhe pergunte ele lhe diz que deixou de beber.


     *Jorge Luis Borges

      2021/04

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