domingo, 4 de abril de 2021

HOMEM SÓ

     HOMEM SÓ


     Ele era um homem que vivia sozinho, por muitos e muitos anos, talves desde a época de sua adolescência, pode-se assim dizer que ele era solitário por natureza.

     Nos fins de semana ia ao cinema sozinho, geralmente salas de cinema apelidadas de pulguinha, ia nas noites de sabado a bailes em clubes de quinta categoria, ia sozinho e quando tinha sorte levava para o seu muquifo na periferia algum rapariga de quinta categoria também, e assim passava suas madrugadas de domingo nos braços de alguém que logo pela manhã dispensava.

     Aos domingos a tarde ia a algum parque digamos que para curtir sua solidão, quando não era ao parque, ia ao futebol torcer pelo seu clube de coração, mas sempre sozinho; até para comemorar um gol ou chorar a derrota de seu time ele agia em sua solidão.

     O homem trabalhava em uma praça no centro de sua cidade, era engraxate; no trabalho mal falava com alguém, geralmente era monossílabos que ele pronunciava enquanto engraxava algum sapato.

     E assim foi vivendo este homem solitário; certo dia ele resolveu fazer um passeio a uma cidade proxima da sua,fato um tanto inusitado, pegou um ônibus superlotado, coisa que o desagradou muito, e para com ninguém conversar sentou no fundo do ônibus e lá ficou ele soturnamente encolhido em seu banco.

     A viagem trascorria  bem,até que numa curva da estrada sinuosa um estouro de pneu e o ônibus desgovernado cai em uma ribanceira, uns oitenta metros abaixo, o socorro chega rápido e para espanto dos socorrista eis que apenas um passageiro perece neste acidente.

     Lá no fundo do ônibus jaz o corpo do homem solitário, encolhido em sua solidão mortal, vivia sozinho e até na sua morte o homem morreu só.


     *Jorge Luis Borges

     2021/04

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