quinta-feira, 1 de abril de 2021

O HOMEM DA JANELA

     O HOMEM DA JANELA

     A muito tempo atrás, quando eu morei no bairro Teresópolis, passando umas três casas depois da minha, tinha uma antiga casa de madeira na cor laranja com janelas azuis, mas uma janela em especial eu realmente nem sabia se era azul, pois nela ficava um velho senhor, acho que acompanhando o movimento matinal daquele vai e vem de formigas humanas.

     Acredito que o velhinho senhor de olhar sonhador ficava todo o dia na janela, pois ao amanhecer quando eu ia a meu enfadonho trabalho o via sentado em frente aquela janela, e ao entardecer na volta de meu monótono e cansativo trabalho, lá estava ele incansavel na sua janela.

     Aos sábados eu voltava logo depois do meio dia, e ele lá na sua janela particular, aos domingos eu acordava mais tarde e quando ia ao mercado fazer alguma compra o via lá, imperturbável e contemplativo. 

     Se a tarde eu saisse para ir a algum lugar,aproveitar o restante do final da tardes de domingo, lá estava o homem, sempre na sua janela.

     Assim o tempo foi passando, eu tinha vontade de parar e conversar algo com ele, pois seu olhar parecia me chamar, mas sempre acabava desistindo, nem mesmo seu nome eu ousei perguntar, assim o tempo foi passando; porém certo dia ao passar em frente a janela do enigmático senhor não o vi, vi apenas um pano branco encobrindo a tal janela, senti um grande aperto no peito e nunca mais passei em frente aquela janela.

 *Jorge Luis Borges

  2021/04


Nenhum comentário:

Postar um comentário