A PESTE
O Palácio do tempo fechou suas portas,
Lacrou seus portões, portais e janelas;
Ninguem entra, ningem sai,
Não importa,
Se a lá fora a vida ainda é bela.
Os reis e rainhas dormem neste Palácio,
Cercados de servos inúteis que aplaudem,
E o povo?
Coitados, singelos palhaços,
Com medo da fome, fantasma que invade.
Mas na mesa dos reis há fartura confiscada,
Das nuas lavouras escassas de tudo;
Bela vida eles tem, desonesta e regada,
De lágrimas e suores, eu não me iludo.
Lá fora a peste, fera desgraçada,
E eles lá dentro a fugirem do povo;
Esta gente sofrida e infectada,
Foi assim no passado, e acontece de novo.
*JORGE LUIS BORGES
GUAÍBA/ BRASIL
2020/05
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