terça-feira, 26 de maio de 2020

A PESTE


A PESTE


O Palácio do tempo fechou suas portas,

Lacrou seus portões, portais e janelas;

Ninguem entra, ningem sai,

Não importa,

Se a lá fora a vida ainda é bela.


Os reis e rainhas dormem neste Palácio,

Cercados de servos inúteis que aplaudem,

E o povo?

Coitados, singelos palhaços,

Com medo da fome, fantasma que invade.


Mas na mesa dos reis há fartura confiscada,

Das nuas lavouras escassas de tudo;

Bela vida eles tem, desonesta e regada,

De lágrimas e suores, eu não me iludo.


Lá fora a peste, fera desgraçada,

E eles lá dentro a fugirem do povo;

Esta gente sofrida e infectada,

Foi assim no passado, e acontece de novo.


*JORGE LUIS BORGES

GUAÍBA/ BRASIL

 2020/05

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