terça-feira, 31 de maio de 2022

LEITE DE ONÇA

LEITE DE ONÇA


Eu bebi leite de onça,

É por isso que sou brabo;

Só não gosto de bagunça,

E nem de sopa de quiabo.


Fico virado uma fera,

Quando alguém conta mentiras;

Meu berrante ao pé da serra,

Berra e geme igual caipira.


Eu já fui peão de estância,

Hoje sou velho estanceiro;

Desde de novo uma criança,

Já rodei o mundo inteiro.


Ainda lembro deu menino,

No meu cavalo de pau;

Quis as forças do destino,

Me tornar um homem mau.


Mas de fato o meu deleite,

É que sou de bem oh! Gente;

Meu defeito e beber leite,

De onça com aguardente.


*Jorge Luis Borges 

Gravataí 06/2022


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