CAMAQUÃ, SETEMBRO DE 1976.
FRAGMENTOS
Eu sou teu pai, sou tua mãe,
Sou teu tio, sou teu avô;
Eu sou o amor que partiu,
Eu sou o amor que ficou.
Eu sou as aves do céu,
Eu sou os peixes do mar;
Da selva eu sou a fera,
Do homem eu sou o olhar.
Eu sou o amor estampado,
Em teu peito, em teu rosto;
Da mulher eu sou o amante,
Do gosto eu sou o desgosto.
Eu sou a vida perdida,
Num turbilhão de aventura;
Eu sou o amor contido,
Numa palavra simples e pura.
Eu sou a vida passada,
Com tudo que nela sobrou;
Eu sou o elo perdido,
Do nada que se criou.
Não me perguntes mais nada,
Pois eu nem sei quem eu sou;
Do tudo, talvez sou nada,
Sou a cria que não vingou.
Eu sou o inicio de uma vida,
Tão forte que está no fim;
Eu era, eu sou, eu fui,
Eu serei sempre assim.
*J.L.BORGES
Nenhum comentário:
Postar um comentário