QUADROS DE VAN GOG
Num dia claro de uma noite alta,
Uma cobra esguia chega pé por pé;
Ela olha a presa, a sua presa presa
Entre as suas presas afiadas cega.
No final da grota tem uma gruta escura,
E também um túnel e um trem ardente;
A clarear um ponto no final da ponte,
Onde tem uma fonte com diabinhos estranhos.
E a noite vem, fria e assanhada,
Vejo um lenhador a lhe fazer bocejos;
Sem quebrar o encanto o homem dobra ruas,
E a quebrar geadas some na floresta.
E na noite alta, clara que nem dia,
Lá esta a cobra indo pé por pé;
Devorar outra presa,presa nesta pedras,
Que hoje estão aqui soltas em meu sapato.
Pinto neste quadro outras tantas noites,
Tontas em minhas loucuras que eu pinto aqui;
E sem ver seu rosto faço tantas pintas,
Em sua face negra, depois irei dormir.
*J.L.BORGES
Nenhum comentário:
Postar um comentário