quinta-feira, 17 de março de 2022

DEUSES DE PAPEL

DEUSES DE PAPEL


Aquele papel, produto de lavagem,

E de exploração, que está nos bancos;

Aquele papel produto da avareza,

Que está embaixo dos colções,

Gostaria de saber qual a sua serventia.


Alguns dizem que ele compra tudo,

Compra até a felicidade alheia;

Ledo engano desses vis mortais,

A felicidade é uma dádiva de Deus,

E aqui na terra tem pouco valor,

Pois a felicidade é o dom maior.


Esses deuses de papel tem ínfimo valor,

O maior valor é o amor ao próximo;

E esta forma de amar estes deuses abominam,

Pois na sua ganância não cabe o amor.


E assim, lá onde a materia é destrutivel,

O perecível nada vale;

Aqui ele fica, neste mísero planeta,

Sendo devorado pelas traças,

Enquanto que  a alma sim, 

Liberta desse deuses,ela é indestrutível.


*Jorge Luis Borges

Guaíba (Rs) Brasil

03/2022



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