NA CASA DOS SETENTA
Eu já estive em muitas casas.
A muito tempo atrás estive na casa dos dez, era uma casa sonhadora, cheia de pinturas infantis pelas paredes primaveris, com flores multicoloridas e muito mais, e a inocência brincava comigo, era um tempo tão bom; fecho os olhos e me vejo nesta casa.
Ja estive em outras casas até chegar na casa dos vinte, não eram casas inocentes que nem a casa dos dez, mas foram tempos de afirmação onde a paixão me namorava a todo o instante, e a poesia tornou-se minha deusa inspiradora,fazia versos de amor a todo instante; que bom que eram estes momentos, onde a paz do vento trazia músicas e encantamentos.
Depois de tantas outras casas, algumas agradáveis e outras nem tanto; cheguei na casa dos trinta, muito amor mal resolvido, muito rock em noites de festas, e lá enfim encontrei o amor e a vida começou mesmo a valer a pena.
Depois da casa dos trinta outras casas encontrei, sempre sonhando e reconstruindo algum escombro, e para meu assombro sempre reconstruindo melhor.
Na casa dos quarenta era já era um homem maduro, bem estruturado emocionalmente e seguro em minhas conquistas e com outros sonhos,vivendo meus dias as vezes alegre, as vezes tristonho, em um tempo medonho do ter e vencer.
Chegando na casa do saudoso cinquenta, suspiros e delírios e a rosa e o lirio navegavam em mim e eu em jardins, onde oque me bastava parecia ser o insaciável eu e mais nada, andava em estradas de caminhos incertos, as vezes longe, as vezes perto e ela lá no jardim regando o lirio, foi um tempo tempestade, e depois calmaria.
Me vi bruscamente na casa dos sessenta, uma casa silenciosa onde reflexão era primordial, e assim estou indo, de casa em casa tentanto ser um pouco melhor, usando a paciência como chave harmônica onde o que importa e o hoje ; Porém eu aqui deste grande apartamento, entre livros e sonhos, entre musicas e vinho, me pergunho:
Como eu serei e agirei na casa dos setenta que está me esperando com suas portas abertas?
*Jorge Luis Borges ®
Guaiba…09/2025