UM ESCRAVO EM LIBERDADE
Minha cela dentro desta negra cela,
Uma janela e um sonho a começar;
Te descubro desgastada e tão bela,
Nesta viagem ao mesmo regressar.
Sou cativo, sou amigo desta dor,
Uma dor que não fere e não se cala;
Sou começo de um fim sem ter amor,
Sou o frio, a lareira desta sala.
Uma sala tão vazia sem a luz,
Destes olhos atrevidos e bonitos;
O sorriso, este beijo que seduz,
Esta voz, melodia do infinito.
Minha tela dentro desta branca tela,
Uma janela a brilhar sem ter o sol;
Dos teus olhos a pintar na aquarela,
Os acordes de um tímido rouxinol.
Sou altivo, sou falcão que galga o céu,
Que penetra no inferno co teu corpo;
Este corpo que tanto me aqueceu,
Que me deu nas minhas noites mais conforto
Uma saudade tão vazia sem a chama,
Dos teus beijos que queimavam o meu rosto;
Esta vazia nesta noite minha cama,
Sinto ainda na minha boca o teu gosto.
Este jeito de luz e sol, de musica enfim,
Uma paixão que me deu tanta saudade;
Como uma faca a penetrar violenta em mim,
Dando-me dor, desespera e esta vontade.
A vontade de ser só seu querida,
Aprisionar-me dentro do teu coração;
E como um posseiro ficar lá toda a vida,
Até o universo entrar em ebulição.
*J.L.BORGES...1987
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