quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

UM ESCRAVO EM LIBERDADE

UM ESCRAVO EM LIBERDADE

Minha cela dentro desta negra cela,

Uma janela e um sonho a começar;

Te descubro desgastada e tão bela,

Nesta viagem ao mesmo regressar.

Sou cativo, sou amigo desta dor,

Uma dor que não fere e não se cala;

Sou começo de um fim sem ter amor,

Sou o frio, a lareira desta sala.

Uma sala tão vazia sem a luz,

Destes olhos atrevidos e bonitos;

O sorriso, este beijo que seduz,

Esta voz, melodia do infinito.

Minha tela dentro desta branca tela,

Uma janela a brilhar sem ter o sol;

Dos teus olhos a pintar na aquarela,

Os acordes de um tímido rouxinol.

Sou altivo, sou falcão que galga o céu,

Que penetra no inferno co teu corpo;

Este corpo que tanto me aqueceu,

Que me deu nas minhas noites mais conforto

Uma saudade tão vazia sem a chama,

Dos teus beijos que queimavam o meu rosto;

Esta vazia nesta noite minha cama,

Sinto ainda na minha boca o teu gosto.

Este jeito de luz e sol, de musica enfim,

Uma paixão que me deu tanta saudade;

Como uma faca a penetrar violenta em mim,

Dando-me dor, desespera e esta vontade.

A vontade de ser só seu querida,

Aprisionar-me dentro do teu coração;

E como um posseiro ficar lá toda a vida,

Até o universo entrar em ebulição.

       *J.L.BORGES...1987

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