MARCAS DO GAÚCHO
Uma cuia recheada de erva mate,
A água quente a esquentar o peito;
Um naco de fumo num canto da boca,
É o que me basta.
Um palheiro a queimar num canto da boca,
E lá fora a geada anunciando;
Que o dia irá chegar,
É o que me basta.
Um quero-quero saudando longe,
Um tropeiro que de longe vem;
No terreiro meu galo a cantar,
É o que me basta.
No moerão da cancela entreaberta,
O João de barro a cortejar a companheira;
Uma coruja a conversar com o fim da noite,
É o que me basta.
Meu pala num canto da cozinha,
Bombacha larga no meu corpo;
Esporas de aço abraçando minhas botas,
É o que me basta.
Meu pingo impaciente na baia,
Pronto a ir comigo a onde vou;
Meu arteiro guaipeca a me lamber,
É o que me basta.
Meu Brasil é imenso,
Mas eu estou aqui;
Num cantinho do meu Rio Grande,
É o que me basta.
Minha aspiração é ser assim,
Como me sinto agora;
Trago na alma a marca do gaúcho,
E isto é o que importa.
*J.L.BORGES
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