FUGA NA NOITE
Sinto uma brisa porosa no ar,
Imitando fragrâncias de mil rosas;
Dá uma vontade de correr e de levitar,
Que derepente fico alegre, e fico prosa.
Falo palavras de um amor crucificante,
Para a lua, alva, alta e esguia;
Falo frases de uma ternura horripilante,
Para a noite negra, calada e vazia.
Saio correndo por ai de pés no chão,
Sem ter medo de bruxas e de vampiros;
Declamo odes e sonatas a solidão,
Decifradas no bolor deste papiro.
Vem o vento tentando levar este perfume,
Este gosto de sal, de doce, de luz;
Vejo teu vulto na beleza do ciúme,
Tua imagem que a fugas me conduz.
Dentro da noite então fujo sem nexo,
Contemplando esquivamente a plácida lua;
E neste caminho inebriante e complexo,
Te vejo a meu lado, quieta e nua.
*J.L.BORGES
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